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A riqueza da fecunda graça de Deus e a frutuosidade de uma fé obediente e perseverante (25) - Hermisten Maia

A riqueza da fecunda graça de Deus e a frutuosidade de uma fé obediente e perseverante (25)

 

6.5. Justificação

 

O Evangelho demonstra como um Deus justo pode justificar aos pecadores crentes. – J.I. Packer.[1]

 

Somos declarados justos pela justiça de Cristo. A justificação nos transfere de uma condição de condenado para a de herdeiro de Deus (Jo 3.18; At 13.39; Rm 3.28,30; 5.1; Gl 2.16; 3.24/Rm 8.1,7).[2] Sem a revelação bíblica isso seria inimaginável a nós.

 

É importante que se diga que o homem não se encontra nessa condição de pecador condenado por algum equívoco, perseguição, ou injustiça, antes pelos seus próprios pecados. Dito de outro modo, o homem trabalhou para isso. Ele conquistou o seu “salário” com muito esforço e perseverança.  A morte é um justo pagamento pelo nosso trabalho (Rm 6.23).

 

Na justificação ainda que Deus não realize nada em nós, significa que Deus já a fez pela regeneração e continuará fazendo pela santificação.

 

Na regeneração recebemos um coração novo, com uma santa disposição; na justificação Deus nos declara justos, perdoando todos os nossos pecados, os quais foram pagos completa e definitivamente por Cristo; por isso, já não há nenhuma condenação sobre nós; estamos em paz com Deus amparados pela justiça de Cristo (Vejam-se: Rm 5.1; 8.1,31-33).[3] O preço de nossa justificação, para nós gratuita, foi o sangue de Cristo Jesus. [4]

 

A nossa justificação é pela graça mediante a fé (Gl 3.11; Fp 3.9; Tt 3.4-7). “A fé é o instrumento pelo qual o pecador recebe e aplica a si tanto Cristo como sua justiça”.[5] O veredito de Deus sobre o pecador o considera justo porque ele, pela fé, aceitou a justiça de Cristo. Esta justiça nada tem a ver com obras humanas, antes é uma “justiça de fé”. É uma justiça amparada nas obras de Cristo que recebemos pela fé.

 

Desenvolvamos um pouco mais esse assunto.

 

A doutrina da justificação pela graça mediante a fé é o ponto capital onde se fundamenta a fé cristã e, consequentemente, a nossa relação com Deus.[6] Uma expressão inspirada nos escritos de Lutero (1483-1546) referindo-se à justificação, como “o artigo pelo qual a igreja se sustenta ou cai”, era comumente usada no século XVII por teólogos luteranos e reformados.[7]

 

A doutrina da justificação é a “artéria da graça”,[8] pela qual fluem os demais privilégios da vida cristã. Devemos deixar claro que o fundamento de nossa justificação não é a fé, mas a justiça de Cristo que é imputada a nós pela fé.[9] Diante da santidade e majestade de Deus, quem, em sã consciência, honesta e sensatamente ousaria se considerar justo? E mais: O Deus santo não pode receber nem ter comunhão com um pecador.[10]

 

O salmista, já sabendo a resposta, pergunta: Se observares (rm;v’) (shamar), SENHOR, iniquidades, quem, Senhor, subsistirá?” (Sl 130.3). Ele não se ilude. Sabe que o escrutínio de Deus é perfeito. Quem passaria ileso? Quem pode dizer diante de Deus que não tem pecado?

 

Davi suplica: “Não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não há justo nenhum vivente” (Sl 143.2).

 

Elifaz indaga: “Seria, porventura, o mortal justo diante de Deus? Seria, acaso, o homem puro diante do seu Criador? Eis que Deus não confia nos seus servos (anjos)[11] e aos seus anjos atribui imperfeições”[12] (Jó 4.17-18).

 

O “observar” (rm;v’) (shamar) de Deus (Sl 130.3), tem o sentido aqui de “observar diligentemente”, “verdadeiramente atentar”, “prestar muita atenção em”; uma rígida e judiciosa observação das faltas com o objetivo de prestar contas, como em Jó: “Se eu pecar, tu me observas (rm;v’) (shamar);[13] e da minha iniquidade não me perdoarás” (Jó 10.14).[14]

 

Esta é a situação do homem finito perante o Deus infinito: a sua grandeza e senso de perfeição e de justiça são como nada diante do Deus santo e perfeito. A majestade de Deus revela a pequenez de nossas perspectivas e referências. Moisés escreve: “Diante de ti puseste as nossas iniquidades e, sob a luz do teu rosto, os nossos pecados ocultos” (Sl 90.8).

 

Davi, consciente dos limites do seu próprio escrutínio, escreve: “Quem há que possa discernir (!yBi) (biyn) as próprias faltas (ha’ygIv.) (shegiy’ah)(= erros)? Absolve-me das que me são ocultas” (Sl 19.12). A palavra faltas (ha’ygIv.) (shegiy’ah) está geralmente associada aos pecados cometidos inconscientemente. Daí a dificuldade de discernir tais faltas.

 

Entretanto, a suposta ignorância não inocenta o infrator. O não ter percebido a indicação de contramão em determinada rua não invalida a possibilidade da multa caso seja flagrado trafegando no sentido proibido.

 

O conhecimento da Palavra dá-nos maior sensibilidade espiritual. Por isso mesmo, temos maior consciência de nossos pecados e, ao mesmo tempo, sabemos das limitações do tribunal de nossa consciência.[15]

 

A minha consciência é um elemento importante em meu progresso espiritual, ainda que não seja o tribunal definitivo.[16] No entanto, Deus nos conhece perfeitamente. Ele tem o perfeito discernimento do que somos e pensamos.

 

O salmista sabe que é pecador, ainda que por vezes, involuntariamente. Tem consciência de que Deus o conhece perfeitamente. No entanto, sabe que o seu Deus além de onisciente, é um Deus santo, cujo padrão é a sua perfeita santidade.

 

Os nossos pecados sempre são uma afronta à santidade de Deus. Eles precisam ser expiados. Contudo, como fazê-lo adequada e completamente se sou pecador e a minha dívida parece aumentar sempre?

 

Davi, consciente disso roga o perdão de Deus: Absolve-me (hq;n”) (naqah) (= tornar isento, ficar livre) das que me são ocultas (rt;s’) (cathar) (Sl 19.12). Davi recorre a Deus porque somente ele pode perdoar nossas faltas.[17]

 

Como então, Deus pode nos considerar justos, sendo ele Santo? Como pode o homem pecador tornar-se justo aos olhos de Deus? Deus diminuiu o seu padrão legal?

 

Calvino (1509-1564) apresenta a resposta:

 

Lemos que justificado diante de Deus é aquele que, ao juízo de Deus, não só é considerado justo, mas que também foi aceito em razão de sua justiça, porque, como a iniquidade é abominável à vista de Deus, assim o pecador não pode achar graça a seus olhos, na qualidade de pecador e por quanto tempo for tido como tal. Consequentemente, onde quer que haja pecado, aí também se manifesta a ira e vingança de Deus. Portanto, justificado é aquele que não é tido na conta de pecador, mas de justo, e por esse título se posta firme diante do tribunal de Deus, onde todos os pecadores se prostram abatidos. Da mesma forma, se um inocente acusado for levado perante o tribunal de um juiz imparcial, depois de ser julgado segundo sua inocência, se diz que foi justificado diante do juiz; assim é justificado diante de Deus aquele que, excluído do número dos pecadores, tem a Deus por testemunha e arauto de sua justiça. (…) Será justificado pela fé aquele que, excluído da justiça das obras, apreende pela fé a justiça de Cristo, revestido da qual aparece perante Deus não como pecador, mas, pelo contrário, como justo. Portanto, interpretamos a justificação simplesmente como a aceitação mercê da qual, recebidos à sua graça, Deus nos tem por justos. E dizemos que ela consiste na remissão dos pecados e na imputação da justiça de Cristo.[18]

 

Certamente, como temos insistido, não podemos baratear o perdão de Deus. Devemos nos lembrar de que o perdão gratuito de Deus custou o precioso sangue de seu Filho.

 

Continuaremos desenvolvendo esse assunto no próximo post.

 

São Francisco do Sul, 10 de março de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

 

*Este post faz parte de uma série. Acesse aqui a série completa

 


 

[1]J.I. Packer, Vocábulos de Deus, São José dos Campos, SP.: Fiel, 1994, p. 128.

[2]Cf. J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, São Paulo: Mundo Cristão, 1980, p. 121.

[3]“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1). “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). 31 Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? 32 Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? 33 Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica” (Rm 8. 31-33).

[4]Veja-se: J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, p. 121.

[5] Catecismo Maior de Westminster, Pergunta, 73.

[6] Veja-se: João Calvino, As Institutas, III.11.1. Turretini diz que ela é “a principal plataforma da religião cristã” (François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 2, p. 757). “A doutrina da justificação pela graça é o âmago da fé cristã” (Franklin Ferreira; Alan Myatt, Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 812). “…. é a própria estrutura e o pilar do cristianismo. Um erro sobre a justificação é algo perigoso, como um defeito em uma fundação. A justificação dada por Cristo e a fonte da água da vida” (Thomas Watson, A Fé Cristã, estudos baseados no breve catecismo de Westminster, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 264).

[7]Veja-se: Alister E. McGrath, Lutero e a Teologia da Cruz, São Paulo: Cultura Cristã, 2015, p. 41-42. Fazendo eco a esta expressão, mais tarde escreveria Bavinck: “A justificação é a doutrina sobre a qual a igreja fica de pé ou cai. Ou devemos fazer alguma coisa para sermos salvos ou nossa salvação é puramente um dom da graça. Deus não coloca de lado a lei que nos julga adequadamente; somente porque Cristo suportou a ira de Deus nós somos reconhecidos como justos nele” (Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 4, p. 180-181).

[8] Devo esta expressão a Kuyper (Abraham Kuyper, A Obra do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 329).

[9]“A fé não é a base da justificação; se o fosse, a fé tornar-se-ia uma obra meritória. (…) De acordo com Paulo, não é sobre a nossa fé, mas sobre a retidão de Cristo, que a nossa justificação está alicerçada” (J.I. Packer, Vocábulos de Deus, São José dos Campos, SP. Fiel, 1994, p. 130,131). Veja-se: Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 4, p. 217ss.; p. 266.

[10]Veja-se: Thomas Watson, A Fé Cristã, estudos baseados no breve catecismo de Westminster, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 266.

[11] Aqui não indica o pecado dos anjos; antes, que Deus realiza as suas próprias tarefas essenciais.

[12]BJ: “Verbera o erro”; ACR: “Atribui loucura”. “O significado da palavra traduzida imperfeições no v. 18b, que ocorre somente aqui, é totalmente desconhecido, e tem dado origem a muitas conjecturas e emendas” (Francis I. Anderson, Jó: Introdução e Comentário, São Paulo: Mundo Cristão; Vida Nova, 1984, (Jó 4.18), p. 112).

[13]Vejam-se: Hermann J. Austel, Shama’: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1585-1587; Keith N. Schoville, Smr: In: Willem A. VanGemeren, org., Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 4, p. 181-183.

[14] Do mesmo modo: “Ainda que eu seja justo, a minha boca me condenará; embora seja eu íntegro, ele me terá por culpado” (Jó 9.20). “….observas (rm;v’) (shamar) todos os meus caminhos e traças limites à planta dos meus pés” (Jó 13.27).

[15] “Faríamos bem em relembrar que, fazendo de nosso conhecimento e de nossa consciência miseravelmente imperfeitos e a medida de nossa pecaminosidade, estamos pisando em terreno perigoso” (J.C. Ryle, Santidade, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 1987, p. 23).

[16]“A consciência não é um tribunal celestial, porém é o mais elevado tribunal terreno, pois é o sistema de alerta da alma” (John MacArthur, Certezas que impulsionam um ministério duradouro: In: John Piper; Justin Taylor, eds. Firmes: um chamado à perseverança dos santos, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2010, p. 70).

[17]O verbo está no piel. Neste modo, sempre Deus é o sujeito da ação. (Veja-se: Milton C. Fisher; Bruce K. Waltke, Nãqâ: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 998.

[18] João Calvino, As Institutas, III.12.2.

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