A riqueza da fecunda graça de Deus e a frutuosidade de uma fé obediente e perseverante (11)
Algumas aplicações
Comentando o Salmo 11, Craigie e Tate, concluem:
Na vida de fé, a confiança é uma necessidade e uma virtude. É uma necessidade, porque a ausência de confiança pode contribuir para a desintegração da vida em medo e ansiedade; é uma virtude, pois pode conduzir para a plenitude da vida que Deus planejou quando Ele nos concedeu o dom da vida.[1]
Esta confiança, entretanto, deve estar depositada em Deus.
Davi que inicia o salmo 11 declarando a sua confiança em Deus, conclui revelando o aspecto temporal e escatológico[2] de sua fé: “os retos lhe contemplarão a face” (Sl 11.7). Aqui temos a certeza que no ato de libertação da opressão de seus inimigos, o salmista verá a face do Deus santo, soberano e justo. É uma forma figurada de dizer: agora sim, vimos a Deus agindo. Creio também, que ele está convicto de que pela livre graça de Deus, veremos a Sua face.
Matthew Henry (1662-1714) está correto ao interpretar:
Os princípios da religião são os fundamentos sobre os quais se edificam a fé e a esperança do justo. O nosso dever é apegarmo-nos fortemente a eles, e posicionarmo-nos contra todas as tentações provenientes da incredulidade; os crentes seriam destruídos se não pudessem recorrer a Deus, confiar nEle e esperar por uma bênção futura.[3]
Nas Escrituras há constante demonstração do poder de Deus tendo isto um aspecto pedagógico; para que aprendamos a depositar a nossa confiança no Deus soberano.
Calvino observa que,
Em virtude de nosso coração incrédulo, o mínimo perigo que ocorre no mundo influi mais em nós do que o poder de Deus. Trememos ante a mais leve tribulação, pois olvidamos ou nutrimos conceitos mui pobres acerca da onipotência divina.[4]
Em outro lugar:
É verdade que tanto os bons quantos os maus participam das misérias e dificuldades desta presente vida; porém, para os ímpios, os sofrimentos são sinais da maldição divina, porquanto são resultado do pecado; sua única mensagem é a ira de Deus e a nossa comum participação na condenação de Adão, e seu único resultado é o abatimento da alma. Porém, por meio de seus sofrimentos [gerados pelo testemunho de Cristo], os crentes estão sendo conformados a Cristo, e produzem em seus corpos o morrer de Cristo, para que a vida de Cristo seja um dia manifestada neles.[5]
O Reformador nos desafia a confiar inteiramente na promessa de Deus:
As pessoas erram clamorosamente na interpretação da Escritura, deixando inteiramente suspensa a aplicação de tudo quanto se diz acerca do poder de Deus e em não descansar certas de que ele será também seu Pai, uma vez que fazem parte de seu rebanho e são partícipes de sua adoção.[6]
Descansemos em Deus. Firmemos os nossos passos neste fundamento, sabendo que o nosso Deus é Santo, Soberano e Justo. Um dia, quando tudo isso terminar, Deus tiver levado a bom termo os Seus propósitos quanto à história e ao Seu Reino, veremos em Cristo, de modo definitivo, a face de Deus. (1Jo 3.2/[7] Sl 4.6; 16.11; 44.3; Mt 5.8; Ap 22.4).
Agora, no tempo presente, caminhemos nessa certeza, colocada de forma quase poética por Barth (1886-1968):
Não existe fidelidade a não ser em Deus. A fé é a confiança que nos permite que nos mantenhamos nele, nas suas promessas e nos seus mandamentos. Manter-se em Deus é abandonar-se a essa certeza e vivê-la: Deus está aqui para mim. Tal é a promessa que Deus nos faz: eu estou aqui, para ti.[8]
Amém Senhor. Eu creio.
Maringá, 22 de fevereiro de 2019.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
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[1]Peter C. Craigie; Marvin E. Tate, Psalms 1-50, 2. ed. Waco: Thomas Nelson, Inc. (Word Biblical Commentary, v. 19), 2004, (Sl 11), p. 134.
[2] Veja-se: James M. Boice, Psalms: an expositional commentary, Grand Rapids, MI.: Baker Book House, 1994, v. 1, (Sl 11), p. 96.
[3] Matthew Henry, Comentário Bíblico de Matthew Henry, 5. ed., Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2006, (Sl 11), p. 404-405.
[4]João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 2, (Sl 68.17), p. 658.
[5]João Calvino, Exposição de 2 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1995, (2Co 1.5), p. 18.
[6]João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 2, (Sl 46.7), p. 336.
[7]“Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é” (1Jo 3.2).
[8] Karl Barth, Esboço de uma Dogmática, São Paulo: Fonte Editorial, 2006, p. 21.
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