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A riqueza da fecunda graça de Deus e a frutuosidade de uma fé obediente e perseverante (10) - Hermisten Maia

A riqueza da fecunda graça de Deus e a frutuosidade de uma fé obediente e perseverante (10)

Davi tem a sua fé fundamentada em um Deus justo e que ama a justiça: “Porque o SENHOR é justo, ele ama a justiça; os retos lhe contemplarão a face” (Sl 11.7).

 

Se Deus é santo, soberano e justo, devo confiar inteiramente na vitória final da justiça de Deus. Davi está convencido da justiça e legitimidade de sua causa, por isso, invoca ao Deus justo. Quem melhor do que Deus para julgar a sua causa? A justiça da terra pode ser subvertida, no entanto, a justiça eterna de Deus permanece; ela não foi extirpada de Seu trono no céu (4).[1]

 

Pode haver justiça sem santidade, porém, não pode haver santidade sem justiça. Contudo, a justiça pode ser apenas ideal, mas, não real pela impossibilidade de aplicá-la; por nos faltarem os meios. Em Deus temos a harmonia perfeita entre Santidade, Poder e Justiça. Deus é santo e tem todo o poder para agir conforme a Sua justiça, sendo Deus mesmo justo ‒ Aquele que ama a justiça, o padrão de toda justiça.

 

O Senhor justo em Suas manifestações, realiza um exame criterioso sobre todos: 4O SENHOR está no seu santo templo; nos céus tem o SENHOR seu trono; os seus olhos estão atentos, as suas pálpebras sondam (!x;B’)(bahan) (= examinar, testar provar) os filhos dos homens. 5O SENHOR põe à prova (!x;B’)(bahan) ao justo e ao ímpio; mas, ao que ama a violência, a sua alma o abomina” (Sl 11.4-5/Sl 7.10; 17.3; 66.10; 139.23; Pv 17.3). Deus conhece as coisas como elas de fato são. O seu critério é minucioso, completo e verdadeiro.[2]

 

Se ando em fidelidade, posso entender as aflições pelas quais passo, como uma provação de Deus, que é justo (Sl 11.5). Deste modo, sabemos que a provação de Deus visa sempre ao nosso aperfeiçoamento. Por vezes somos refinados por meio das provações. Portanto, devo perseverar firme, confiante no seu amparo e cuidado. “Se não podemos encontrar justiça em parte alguma do mundo, o único apoio de nossa paciência se encontra em Deus e em descansar felizes na equidade de seu juízo”.[3]

 

Jesus também na Oração Sacerdotal dirige-se a Deus como “Pai justo” (Jo 17.25). Na Sua entrega em favor de Seu povo, Jesus Cristo tinha em vista a profunda certeza e confiança da paternidade e da justiça de Deus. Na entrega do Filho, além da misericórdia e do amor, temos, também, a perfeita manifestação de Sua justiça.

 

Deus, o nosso Pai, é justo. Ele é justo em Si mesmo e, por isso mesmo, em Suas manifestações. Não há nenhum desvio no caráter de Deus. Por Deus ser justo Ele ama a justiça em Seu governo e, portanto, são justos todos os Seus ensinamentos e atos. A justiça de Deus é uma manifestação do Seu caráter santo e justo.

 

A justiça de Deus se caracteriza por Sua ação coerente com o Seu padrão; por isso, Suas ações são sempre perfeitas e retas, pois o Seu padrão é a perfeição: “Justiça e direito são o fundamento do Teu trono” (Sl 89.14). Deste modo, “a maior desonra que alguém poderia lançar sobre Seu nome é a de contestar Sua justiça”, interpreta Calvino.[4]

 

Deus é justo em Sua própria essencialidade, mantendo-se contrário a toda e qualquer violação da Sua santidade. A ira de Deus é uma expressão da Sua justiça diante do pecado.[5]

 

Portanto, quando passamos por várias e diferentes provações aprendemos que muitas vezes, o mais importante do aprendizado não consistiu na concessão ou não do que pedimos em oração, mas, o que Deus nos ensinou neste processo de desafio à confiança, submissão, paciência e entrega.

 

A oração confiante é por si só um exercício altamente gratificante para o povo de Deus. Quando nos aproximamos de Deus, amparados pelos merecimentos de Cristo, de fato não sabemos o que ocorrerá desta nossa relação com o Pai.  Deus, em Sua justiça, tem sempre algo para nos ensinar, que ultrapassa em muito a nossa perspectiva “premeditada”.

 

Às vezes nos incomodamos pelo fato de que a justiça de Deus nos parece demorada, tardia. É muito comum estarmos tão convencidos da nossa maneira de ver os fatos, de interpretá-los que, num ato contínuo, tentamos olhar a ação ou o “silêncio” de Deus dentro de nossa ótica e consequente escala de valores, daí a impaciência e o perigo de olharmos demorada e enamoradamente o caminho dos ímpios (Por exemplo: Sl 10, 37 e 73), onde tudo parecer funcionar bem, nos inclinando às suas práticas, que nos parecem mais eficazes e “realistas”.

 

Este salmo nos mostra que os ímpios, que primariamente estão abrigados nas montanhas, em pontos estratégicos, com as suas setas certeiras, são finalmente expostos por um poder maior e soberano, por Aquele que vê todas as coisas: “Até as próprias trevas não te serão escuras: as trevas e a luz são a mesma coisa” (Sl 139.12).

 

Deus provou o justo e os ímpios. Enquanto aquele foi depurado e aperfeiçoado, estes foram reprovados (5). A parte de sua recompensa é fogo, enxofre e “vento abrasador”. Eles equivocadamente pensavam estarem seguros. Mas, a realidade é que  ninguém está livre do Deus que reina (Sl 11.4,6). Quando menos se espera Ele manifestará o Seu juízo. Aqui não temos um fogo purificador, antes, uma manifestação da justiça condenatória de Deus (6). “Embora a razão carnal nos sugira que o mundo se move ao acaso e seja dirigido a esmo, contudo devemos considerar que o infinito poder de Deus é sempre associado à perfeita justiça”, escreve Calvino.[6]

 

As Escrituras nos estimulam à prática da justiça, porque a justiça de Deus é certa e eficaz. Quando Cristo, o Justo, vier, manifestará plenamente a justiça de Deus, como Ele mesmo revelou a João em Patmos: “…. O justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se. E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras” (Ap 22.11,12).

 

Calvino traz uma palavra de estímulo e consolo:

 

Quando, pois, a fraude, a astúcia, a traição, a crueldade, a violência e a extorsão reinam no mundo; em suma, quando todas as coisas são arremessadas em total desordem e escuridão, pela injustiça e perversidade, que a fé sirva como uma lâmpada a capacitar-nos para visualizarmos o trono celestial de Deus, e que essa visão nos seja suficiente para fazer-nos esperar pacientemente pela restauração das coisas a um melhor estado.[7]

 

Maringá, 22 de fevereiro de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

 

*Este artigo faz parte de uma série. Veja aqui a série completa!

 


[1]Cf. A.F. Kirkpatrick, The Book of Psalms, Cambridge: University Press, © 1902, 1951, (Sl 11), p. 59.

[2] Do mesmo modo: Jr 11.20; 12.3; 20.12.

[3] João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 1, (Sl 4.1), p. 92.

[4]João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 2, (Sl 50.21), p. 417.

[5]“Intimamente relacionada com a santidade de Deus está a sua ira, a qual é, de fato, a sua reação santa ao mal” (John R.W. Stott, A Cruz de Cristo, Miami: Editora Vida, 1991, p. 93).

[6]João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 2, (Sl 36.5), p. 128.

[7]João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 1, (Sl 11.4), p. 240.

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