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A Pessoa e Obra do Espírito Santo (89) - Hermisten Maia

A Pessoa e Obra do Espírito Santo (89)

c) Devemos desejá-la ardentemente

A nossa motivação primeira para a prática da justiça jaz em Deus, visto que Deus, o nosso Senhor, coerente consigo mesmo, ama a justiça: “Porque o SENHOR é justo (qyDIc;) (tsadiyq), ele ama a justiça (hq’d’c..)(tsedaqah); os retos lhe contemplarão a face” (Sl 11.7). Novamente: “Ele ama a justiça (hq’d’c..)(tsedaqah) e o direito; a terra está cheia da bondade do SENHOR” (Sl 33.5).

Por sua vez, quando desejamos algo intensamente num universo de pessoas com  valores totalmente diferentes,  ficamos parecendo seres estranhos, alienados e, por isso mesmo, de difícil socialização. Estamos à beira do ridículo.

Percebam: se as pessoas se julgam saciadas com tanta facilidade – aliás, nunca souberam o que é mesmo ter fome e sede de justiça –, como pode existir alguém que se manifeste tão carente sendo que esta tal  justiça está tão fácil e tão bem resolvida neste grupo social?

Este sujeito é “meio neurótico”, talvez seja o comentário feito com alguma discrição. Contudo, a resposta de Jesus a estas questões incluiria a declaração de que estes, somente estes, que estão famintos e sedentos por justiça serão saciados. Ele mesmo nos saciará, conforme o canto de Maria: “Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos” (Lc 1.53).

    Jesus Cristo nos ensina:“Bem-aventurados os que têm fome (peina/w) e sede (diya/w) de justiça (dikaiosu/nh), porque serão fartos (xorta/zw)(Mt 5.6). O Senhor Jesus toma duas necessidades básicas e intensas. A figura era ainda mais forte para os seus ouvintes do que para a maioria de nós, se considerarmos  o seu contexto: O antigo Oriente ensolarado, com secas constantes, tempestades de areia, a pobreza amplamente socializada, a falta de água e comida. Eles sabiam bem o que era desejar o alimento e a água para saciar a sua sede.[1] Além disso, a associação destas duas palavras indicava no mundo grego o desejo intenso por algo, tal como, liberdade, honra, riqueza, discernimento, etc.[2]

    Parece-nos que esta bem-aventurança pode ser entendida de duas formas complementares:

    1) Bem-aventurado é o homem que deseja ardentemente caminhar nas veredas da justiça de Deus (Sl 23.3), praticando a sua Palavra. Este homem encontrará, no auxílio do Espírito, a capacitação para cumprir os preceitos de Deus.

    Ele é bem-aventurado porque é amado e aceito por Deus: “O caminho do perverso é abominação ao Senhor, mas este ama o que segue a justiça (hq’d’c..)(tsedaqah)(Pv 15.9). Como diz Pedro, retratando o seu recente e duro aprendizado: “Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo (dikaiosu/nh)lhe é aceitável” (At 10.34-35).

    A Palavra nos diz que Deus atende a sua oração: “O senhor está longe dos perversos, mas atende à oração dos justos (qyDIc;)(tsadiyq) (Pv 15.29).

    2) Feliz é o homem que, consciente de que nele não há justiça alguma, anela pela justiça que há em Cristo. Este homem encontrará a satisfação legal de suas necessidades por meio da imputação dos méritos de Cristo.[3]

    Neste sentido Paulo escreveu:

Se pela ofensa de um, e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça (dikaiosu/nh), reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo. Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça(dikai/wma) veio a graça sobre todos os homens para a justificação (dikai/wsij = “absolvição”) que dá vida. (Rm 5.17-18. Veja-se: Rm 4.25).

    Deste modo, todos aqueles que, pela fé, recorrem à justiça de Cristo são declarados justos. A nossa justiça provém da fé, que é dom de Deus. Assim, a fé e a justiça são dons de Deus (Rm 4.3,5,9,11; 5.18,19; 10.6; Gl 3.6; 5.5; Fp 1.11; 3.9; Hb 11.7).[4]

Maringá, 14 de janeiro de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Veja-se: William Barclay, El Nuevo Testamento Comentado,Buenos Aires: La Aurora, 1973, (Mateo I), v. 1, (Mt 5.6), p. 108.

[2] Cf. W. Bauder, Fome: In: Colin Brown, ed. ger.,O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 2, p. 255-256.

[3] Para uma visão diferente, veja-se: John A. Broadus, Comentário do Evangelho de Mateus, 3. ed. Rio de Janeiro: JUERP., 1966, v. 1, p. 155. Para uma interpretação associada apenas à imputação, veja-se: R.C.H. Lenski, Commentary on the New Testament: The Interpretation of St. Matthew’s Gospel, [s. cidade]: Hendrickson Publishers, 1998, (Mt 5.6), p. 189-190.

[4] “Pois que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça (dikaiosu/nh)” (Rm 4.3) “Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica (dikaio/w) o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça (dikaiosu/nh) (Rm 4.5). “….a fé foi imputada a Abraão para justiça (dikaiosu/nh)” (Rm 4.9). “Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça (dikai/wma), veio a graça sobre todos os homens para a justificação  (dikai/wsij) que dá vida.  19 Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos (di/kaioj) (Rm 5.18-19). “É o caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça” (Gl 3.6). “Cheios do fruto de justiça (dikaiosu/nh), o qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus” (Fp 1.11).

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