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A Pessoa e Obra do Espírito Santo (69) - Hermisten Maia

A Pessoa e Obra do Espírito Santo (69)

Juízo eterno

O direito de Deus agir como juiz é estabelecido por Ele mesmo. Foi Deus mesmo quem “erigiu” o seu trono para julgar. Ele mesmo preserva. O seu trono é um símbolo que expressa o seu autopoder.

    O mesmo Deus que estabeleceu as estrelas nos céus (Sl 8.3);[1] os céus[2] e a Terra,[3] firmou o seu trono nos céus (Sl 103.9).[4]

     O seu juízo permanece para sempre: “Mas o SENHOR permanece no seu trono eternamente (~l’A[) (olam), trono que erigiu (!WK) (kun) para julgar (jP’v.mi) (mishpat)(Sl 9.7).  

    Em nosso país falamos com frequência de leis que “não pegam”. Ou seja: As leis existem, mas, não vigoram. Na realidade não há poder no Executivo de implementá-las, fiscalizá-las e de fazê-las cumprir. Deste modo, há leis que existem apenas no papel e, também, há outras que independentemente de sua prática ou não, são modificadas, substituídas ou abolidas.[5] Deste modo, o que era legal, agora, deixou de ser. Isto existe em vários campos de conhecimento e atuação.

ð As mãos nas ruas e avenidas.

ð As normas mecanográficas para a confecção de trabalhos acadêmicos.

ð Normas ortográficas.

ð A penalidade para determinados crimes.

ð As leis de trânsito.

ð As leis que regulam os horários de funcionamento de shoppings e comércio em geral. No período de pandemia isso tem variado com certa frequência em cada região e de região para região dentro do mesmo estado.

ð Reforma tributária.

    É verdade que podemos falar de leis que permanecem, tais como da termodinâmica, da gravidade, etc. No entanto, todas estas leis permanecem, não pela sua descoberta, antes, porque Deus as criou e as preserva. Elas já existiam, mesmo sem os status de “lei” e, Deus nos governava por meio delas e de inúmeras outras que nem sequer conhecemos. A nossa percepção científica não serve de parâmetro para a realidade. As coisas não passam a existir simplesmente porque as descobrimos.

    Os juízos de Deus por serem verdadeiros, fundamentando-se na verdade que emana do próprio Deus, duram para sempre: “As tuas palavras são em tudo verdade desde o princípio, e cada um dos teus justos (qd,c) (tsedeq) juízos (jP’v.mi) (mishpat) dura para sempre (~l’A[) (‘olam) (Sl 119.160).

    Deste modo, o que quero destacar, é que o juízo de Deus, tanto no aspecto deliberativo como executivo, permanece para sempre. Ele faz cumprir o que deliberou. Ele tem total autonomia e poder para assim proceder. Não existe grau de recurso além dele mesmo.[6] Não há impedimento algum.

    Barnes  (1798-1870) comenta:

Deus é soberano. Seu trono é fixo e firme. Seu domínio não é vacilante nem mutável. Seu reinado não é como o reinado dos monarcas terrenos, que depende do capricho de uma vontade mutável, ou de paixão; não está sujeito a ser alterado pela morte, por revolução ou por nova dinastia. O trono de Deus é sempre o mesmo, e nada o pode abalar nem derrubar. (…) Ele reina sobre todo o universo – os céus e a terra; por isso pode executar todos os seus propósitos.[7]

    Desta forma podemos descansar confiantes em seu cuidado e proteção. O salmista tem essa certeza: “Pois o necessitado não será para sempre esquecido, e a esperança dos aflitos não se há de frustrar perpetuamente (d[;)(‘ad) (Sl 9.18).

    Passando por tremenda crise, estando cercado pelos seus inimigos e diante de conselhos que lhes parecem contraditórios, Davi recorre à sua convicção a respeito de Deus. Deus é justo:  “Porque o SENHOR é justo, ele ama a justiça; os retos lhe contemplarão a face”(Sl 11.7).

Se Deus é santo, soberano e justo, devo confiar inteiramente na vitória final da justiça de Deus. Davi está convencido da justiça e legitimidade de sua causa, por isso, invoca ao Deus justo.

De fato, quem melhor do que Deus para julgar a sua causa?

A justiça da terra pode ser subvertida, manobras podem ser feitas, pessoas podem ser subornadas, outras podem fazer “vista grossa”, no entanto, a justiça eterna de Deus permanece; ela não foi nem será extirpada de seu trono no céu (Sl 11.4).[8]

    Pode haver justiça sem santidade, porém, não pode haver santidade sem justiça. Contudo, a justiça pode ser apenas ideal, mas, não real pela impossibilidade de aplicá-la; por nos faltarem os meios.

    Em Deus temos a harmonia perfeita entre santidade, poder e justiça. Deus é santo e tem todo o poder para agir conforme a sua justiça, sendo Deus mesmo justo, Aquele que ama a justiça, o padrão de toda justiça. Deus age sempre em retidão.

Jesus e a santidade do Pai

     Na Oração Sacerdotal Jesus dirige-se a Deus como “Pai justo” (Jo 17.25). Na sua entrega em favor de seu povo, Jesus Cristo tinha em vista a profunda certeza e confiança da paternidade e da justiça de Deus. Na entrega do Filho, além da misericórdia e do amor, temos, também, a perfeita manifestação de sua justiça.

    Diante das provações pelas quais passamos, aprendemos que muitas vezes, o mais importante do aprendizado não consistiu na concessão ou não do que pedimos em oração, mas, o que Deus nos ensinou neste processo de desafio à confiança, submissão, paciência e entrega.

    Se ando em fidelidade, posso entender as aflições pelas quais passo, como uma provação de Deus, que é justo (Sl 11.5). Deste modo, sabemos que a provação de Deus visa sempre ao nosso aperfeiçoamento. Por vezes somos refinados por meio das provações. Portanto, devo perseverar firme, confiante no seu amparo e cuidado.

    Como escreveu Calvino: “Se não podemos encontrar justiça em parte alguma do mundo, o único apoio de nossa paciência se encontra em Deus e em descansar felizes na equidade de seu juízo”.[9]

    Justamente por este fato, devemos confiantemente nos aquietar e nos alegrar no conforto de suas promessas e louvá-lo. Afinal, o fundamento do seu trono permanece inabalável. “Reina o SENHOR. Regozije-se a terra, alegrem-se as muitas ilhas. Nuvens e escuridão o rodeiam, justiça (qd,c) (tsedeq) e juízo são a base do seu trono” (Sl 97.1-2).

Juízo além de nossa compreensão

    Davi escreve extasiado com as manifestações das perfeições de Deus: “A tua justiça é como as montanhas de Deus; os teus juízos, como um abismo profundo. Tu, SENHOR, preservas os homens e os animais” (Sl 36.6).

    É necessário que não nos precipitemos. Os juízos de Deus ultrapassam em muito o nosso discernimento imediato. Ele, no entanto, que é Rei, julga para sempre, com justiça e sabedoria, tendo em vista a sua glória e a felicidade de seu povo.

Justo e compassivo

    “Pois o SENHOR julga (!yDI) (din) (administra[10]) ao seu povo e se compadece  (~x;n”) (nacham) (consolar,[11] confortar,[12] ter compaixão[13]) dos seus servos” (Sl 135.14).

      “O SENHOR é reto. Ele é a minha rocha, e nele não há injustiça” (Sl 92.15), exulta o salmista.

      No reto juízo de Deus haverá sempre misericórdia. Deus é justo e misericordioso. Não há incompatibilidade nos atributos de Deus. Eles são perfeitos porque Deus é prefeito. Somente na perfeição transcendente de Deus há verdadeira harmonia entre o que nos parece irreconciliável.  Os nossos critérios de perfeição são sempre rotos visto que o imperfeito não pode criar e avaliar o perfeito e, mesmo que o tivesse diante de si, não teria parâmetros provenientes de si mesmo para identificá-lo com certeza.

Na justiça de Deus encontramos o amor provedor do Senhor. Portanto, não tentemos ser mais justos do que Deus, nós que julgamos com passionalidade ainda que tentemos ser “objetivos”. Somos pecadores e limitados; não nos esqueçamos disso.

Descansemos, portanto, em Deus, que julga com retidão e justiça. Amém.

Maringá, 06 de dezembro de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] “Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste (!WK) (Sl 8.3).

[2]“O SENHOR com sabedoria fundou a terra, com inteligência estabeleceu (!WK) os céus” (Pv 3.19).

[3]“A tua fidelidade estende-se de geração em geração; fundaste (!WK) a terra, e ela permanece” (Sl 119.90).

[4]“Nos céus, estabeleceu (!WK) o SENHOR o seu trono, e o seu reino domina sobre tudo” (Sl 103.19).

[5] Deve-se observar contudo, que há correntes no Brasil que entendem que seja saudável  que todas as leis não sejam praticadas, porque seria impossível, considerando inclusive a quantidade de leis existentes e o número estrondoso de decretos, normas, resoluções, portarias que são criados diariamente.

[6] Figura análoga encontrei posteriormente em Piper. Veja-se: John Piper, Na sala do trono: In: Kathleen B. Nielson; D.A. Carson, orgs. Este é o nosso Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 58.

[7]Albert Barnes, Notes on the Old Testament: Explanatory and Practical, 10 ed. Grand Rapids, Michigan:  Baker Book House, 1973,  v. 3, (Sl 103.19), p. 79.

[8]Cf. A.F. Kirkpatrick, The Book of Psalms, Cambridge: University Press, © 1902, 1951, (Sl 11), p. 59.

[9] João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 1, (Sl 4.1), p. 92.

[10] Sl 9.9.

[11] Sl 23.4; 86.17.

[12] Sl 71.21.

[13] Sl 90.13.

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