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A Pessoa e Obra do Espírito Santo (59) - Hermisten Maia

A Pessoa e Obra do Espírito Santo (59)

    4) Rei Eterno  (Continuação)

A Igreja cristã se firmou amparada na certeza da ressurreição de Cristo, o Messias.[1] Daí que a sua ressurreição se constituiu no elemento central de toda pregação. Esta é a fé da Igreja.[2] É a nossa certeza. Calvino está correto ao dizer que, “Sem a ressurreição não podemos consolar-nos de nenhuma maneira; todos os argumentos possíveis serão insuficientes para alegrar-nos”.[3]

    Deus por intermédio de Pedro e João  curou um homem coxo de nascença com mais de quarenta anos (At 3.1-10,22). Sendo esses ameaçados e proibidos de falar do nome de Cristo, quando se reúnem para compartilhar os fatos com os demais discípulos, registra Lucas:

23 Uma vez soltos, procuraram os irmãos e lhes contaram quantas coisas lhes haviam dito os principais sacerdotes e os anciãos. 24 Ouvindo isto, unânimes, levantaram a voz a Deus e disseram: Tu, Soberano Senhor, que fizeste o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há; 25 que disseste por intermédio do Espírito Santo, por boca de Davi, nosso pai, teu servo: Por que se enfureceram os gentios, e os povos imaginaram coisas vãs? 26 Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma contra o Senhor e contra o seu Ungido; 27 porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel, 28 para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram; 29 agora, Senhor, olha para as suas ameaças e concede aos teus servos que anunciem com toda a intrepidez a tua palavra. (At 4.23-29). (Destaques meus).

    Aqui vemos claramente a consciência dos discípulos de que o Salmo de Davi se cumpria e, ao mesmo tempo, Deus continuava como Senhor de todas as coisas, operando, inclusive por intermédio de seus inimigos.

    A afirmação do Evangelho da soberania de Deus e do governo redentivo de Cristo, sempre enfrentará oposição de todas as pessoas e classes. Não nos iludamos. Muitas vezes a rebelião contra a Igreja não tem outro alvo senão o governo de Cristo.[4] A igreja quando se mantém fiel ao seu Senhor tenderá e enfrentar grande oposição.[5] A sua própria constituição e preservação é estranha à mera compreensão humana e a interesses terrenos. “A Igreja de Deus jamais subsiste sem inimigos”, interpreta Calvino.[6]

    No entanto, ela sabe quem é o Senhor e qual é a sua vocação. Ela é filha da eternidade, não do tempo. A sua mensagem é o reinado de Cristo, o seu único Senhor. A igreja não está acima de seu Senhor. Se ela lhe for fiel, se sua proclamação for Cristocêntrica, enfrentará oposição.

Algumas aplicações

1) Deus reina eterna e gloriosamente sobre todo o universo, sobre toda a Criação; nada escapa ao seu controle e direção. “Se nosso coração se encontra plenamente cativo à autorrevelação de Deus como o Criador, não mais podemos imaginar que exista uma zona neutra e segura fora do alcance de Deus”, conclui corretamente Dooyeweerd (1894-1977).[7]

2) No nascimento de Jesus Cristo, o Deus encarnado, vemos o cumprimento de parte do Salmo 2:

30Mas o anjo lhe disse: Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. 31 Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. 32 Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; 33 ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim. (Lc 1.30-33).

3) Temos aqui um desafio amoroso à evangelização. O Senhor deseja que todos os povos sejam conquistados para o seu Reino de amor e justiça; daí Ele dizer: “Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão” (Sl 2.8). A Igreja é a herança do Senhor constituída por todos aqueles de todos os lugares e de todos os tempos que creram no seu nome (Rm 8.17; Ef 2.4-7).[8] Compete à Igreja, portanto, anunciar o Reinado de Cristo para que homens e mulheres de todas as classes sociais, idades, e raças possam se arrepender de seus pecados e, por graça, tornarem-se alegres súditos do Reino, recebendo a Cristo pela fé.

4) Devemos nos alegrar com a oportunidade de poder trabalhar no Reino de Deus. Servir ao Senhor é um privilégio responsabilizador. “Trabalhar no reino é o nosso estilo de vida”, afirma Plantinga.[9]

5) Este Salmo, evidenciando que a promessa de Deus não pode falhar (Sl 2.6-8), aponta para a sua consumação escatológica, assinalando a vitória completa e final do Messias, conforme atesta Paulo:

24 E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder. 25 Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés. 26 O último inimigo a ser destruído é a morte. 27 Porque todas as coisas sujeitou debaixo dos pés. E, quando diz que todas as coisas lhe estão sujeitas, certamente, exclui aquele que tudo lhe subordinou. 28 Quando, porém, todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então, o próprio Filho também se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos. (1Co 15.24-28).

    Esse Rei eterno é o nosso Pastor. Nem no tempo, nem na eternidade, poderemos ser separados do seu Reino que se manifesta sobre nós em cuidado e amor.

    Maringá, 26 de novembro de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] “A pregação da Igreja primitiva estava essencialmente baseada na ressurreição. A princípio, a doutrina da ressurreição de Jesus foi o ensinamento central do Cristianismo” (Alan Richardson, Así se hicieron los Credos: Una breve introducción a la historia de la Doctrina Cristiana, Barcelona: Editorial CLIE, 1999, p. 24).

[2]“A Cristandade descansa na certeza da ressurreição de Jesus como uma ocorrência no espaço-tempo da história” (J.I. Packer, Teologia Concisa, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1999, p. 119).

[3]Juan Calvino, Se Deus fuera nuestro Adversario: In: Sermones Sobre Job, Jenison, Michigan: T.E.L.L., 1988, (Sermon nº 6), p. 85. “Declaramos positivamente que ninguém tem feito nenhum progresso na escola de Cristo, a menos que espere rejubilante o dia de sua morte e ressurreição final” (João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, São Paulo: Novo Século, 2000, p. 66).

[4] “Quando a Igreja se acha oprimida, a glória divina é ao mesmo tempo vilipendiada” (João Calvino, O Livro dos Salmos,São Paulo: Edições Parakletos, 2002, v. 3, (Sl 102.15), p. 577).

[5] “É um fato misterioso da História que a Igreja está sempre no seu melhor quando ela enfrenta a maior oposição” (Gene Edward Veith, Jr., De todo o teu entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 93).

[6]João Calvino, O Livro dos Salmos,São Paulo: Paracletos, 1999, v. 2, (Sl 46.6), p. 334.

[7]Herman Dooyeweerd, No Crepúsculo do Pensamento, São Paulo: Hagnos, 2010, p. 258. Cullman (1902-1999) pontua bem essa questão: “O senhorio de Cristo há de estender-se a todos os âmbitos da criação. Se houvesse um só onde este senhorio fosse excluído não seria total e Cristo deixaria de ser o Kyrios” (Oscar Cullman, Cristologia do Novo Testamento, São Paulo: Editora Liber, 2001, p. 298). À frente: “Cristo não é somente o Senhor do mundo, o senhor da igreja; é também o meu Senhor. Experimentado e reconhecido como Senhor da igreja é também, Senhor de cada um dos que a compõem” (Oscar Cullman, Cristologia do Novo Testamento, São Paulo: Editora Liber, 2001, p. 302).

[8] Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados” (Rm 8.17). 4 Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, 5 e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos, 6 e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; 7 para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus” (Ef 2.4-7). “A igreja é o presente na troca de presentes. Este é o plano eterno de Deus para a igreja. Nós devemos ser profundamente gratos, ansiosos e animados por ser parte dele” (John MacArthur, Eu amo a Tua igreja, ó Deus!: In: John MacArthur, et. al. Avante, soldados de Cristo: uma reafirmação bíblica da Igreja, São Paulo: Cultura Cristã, 2010. p. 19).

[9]Cornelius Plantinga Jr., O crente no mundo de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 111.

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