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A Pessoa e Obra do Espírito Santo (501) - Hermisten Maia

A Pessoa e Obra do Espírito Santo (501)

d) Sem mácula e irrepreensíveis

  Notemos que o “empenho” (spoud/a/zw) ensinado por Pedro para referir-se à busca da Igreja por preservar a paz, aplica-se também à essas recomendações (2Pe 3.14). Ambas as palavras são parecidas, apresentando apenas uma intensidade da proposição de Pedro, de que a Igreja deve aguardar o retorno de Cristo de forma irrepreensível.

            Os dois termos empregados aqui, ocorrem juntos em outro texto, referindo-se ao sacrifício de Cristo em prol da Sua Igreja:  “Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito (a)/mwmoj) e sem mácula (a)/spiloj), o sangue de Cristo” (1Pe 1.18-19).

            Usando uma terminologia bem semelhante, Paulo, escreve: “Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula (mh\…. spi/loj),[1] nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito (a)/mwmoj)” (Ef 5.25-27).

            Em síntese, podemos dizer que Jesus Cristo deseja que a Igreja seja tal qual foi Ele em Sua entrega por nós; Ele morreu justamente para que fôssemos assim.

            Considerando isso, vejamos, agora, o significado de cada palavra:

1) “Sem Mácula”

a)/spiloj,[2] significa “imaculado”, “incontaminado”. Ela é antônima de contaminação.

       A Igreja aguarda a vinda de Cristo empenhando-se por viver de forma limpa, sem mácula, sem contaminação, cumprindo assim, o propósito do Senhor. Notemos que isto é um desafio constante.

A vida cristã não é algo acabado, completo e final. Estamos em Cristo, somos salvos pela graça de Deus; no entanto, continuamos a ser desafiados a proceder de forma imaculada diante de todo e cada desafio que se nos apresenta. O crente é chamado a uma caminhada constante.

No Novo Testamento os cristãos eram reconhecidos como aqueles que eram do caminho. Saulo, antes de convertido, pediu cartas ao sumo sacerdote “a fim de que, caso achasse alguns que eram do Caminho, assim homens como mulheres, os levasse presos para Jerusalém” (At 9.2). Lucas relata que Priscila e Áquila, após ouvirem uma pregação de Apolo, o chamaram e, “com mais exatidão, lhe expuseram o caminho de Deus” (At 18.26).(Ver: At 19.9 e 23).

            O Cristianismo é essencialmente um caminho de vida, fundamentado na prática do Evangelho, conforme ensinado por Jesus Cristo. A santificação é, portanto, um desafio a perseguirmos este caminho, nos empenhando por fazer a vontade de Deus.

Por isso, a santificação nos fala de caminharmos sempre em direção ao alvo proposto por Deus, com os nossos corações humildes, desejoso de agradar a Deus, de fazer a sua vontade com o sentimento adequado. Daí a exortação de Pedro que nos esforcemos por ser achados pelo Senhor “sem mácula”.

2) “Irrepreensível”

a)/mwmoj,[3] sem mancha, imaculado, sem nódoa, inocente. Essa palavra, comum no ritual judaico, era empregada para indicar os animais usados para o sacrifício; eles não podiam ter defeito (Ex 29.1; Lv 1.3,10; 3.1,6).[4] Ela descreve uma pureza ética; a ideia predominante é a ausência de qualquer coisa que se constituiria em corrupção diante de Deus. Ela denota, portanto, o que o cristão deve ser diante de Deus. A)/mwmoj concebe toda a vida humana – em suas multifárias dimensões –, como uma oferenda a Deus.

            Fomos eleitos na eternidade para vivermos deste modo: “Assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis (a)/mwmoj) perante ele”(Ef 1.4). A nossa reconciliação teve também esse propósito: “….vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis (a)/mwmoj) e irrepreensíveis” (Cl 1.22).

            O desafio da Igreja é de se esforçar por viver assim no meio de uma geração pervertida e corrupta: “Fazei tudo sem murmurações nem contendas, para que vos torneis irrepreensíveis (a)/memptoj)[5] e sinceros (a)ke/raioj),[6] filhos de Deus inculpáveis (a)/mwmoj) no meio de uma geração pervertida (Skolio/j)[7] e corrupta (Diastre/fw),[8] na qual resplandeceis como luzeiros (Fwsth/r)[9] no mundo” (Fp 2.14-15).

Paulo diz então, que o nosso comportamento deve refletir como estrelas no firmamento (Gn 1.14).

            O nosso consolo é que Deus pelo Seu poder nos preservará assim para o encontro com o Senhor Jesus: “… Aquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados (a)/mwmoj) diante da sua glória” (Jd 24).

            Se dependesse unicamente de nossos poderes, diante da glória de Deus jamais a Igreja poderia ser vista como imaculada, no entanto, é Deus mesmo quem nos apresentará assim em Cristo. Deus nos preserva intocáveis, para que possamos ser apresentados diante do Senhor Jesus, na manifestação da sua glória. Ninguém tem do que nos acusar; fomos justificados por Cristo (Rm 8.31,33/Jd 24-25).

Maringá, 14 de junho de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] *Ef 5.27; 2Pe 2.13. A palavra, sem o advérbio de negação, significa “mancha”, “nódoa”. Tem também, o sentido figurado de “vergonha”.

[2]*1Tm 6.14; Tg 1.27; 1Pe 1.19; 2Pe 3.14.

[3] Ef 1.4; 5.27; (Fp 2.15. Aqui há uma variante textual, que indica um sinônimo, a)mwmhta/, talvez por seguir a LXX, Dt 32.5);Cl 1.22; Hb 9.14; 1Pe 1.19; Jd 24; Ap 14.5.

[4] Em todos esses textos, a LXX usa a)/mwmoj.

[5] * Lc 1.6; Fp 2.15; 3.6; 1Ts 3.13; Hb 8.7.

[6] * Mt 10.16; Rm 16.19; Fp 2.15.

[7] *Lc 3.5; At 2.40; Fp 2.15; 1Pe 2.18. Skolio/j, Sentido literal: “torto”, “encurvado”. Sentido figurado: perverso, malvado, desonesto, inescrupuloso.

[8] * Mt 17.17; Lc 9.41; 23.2; At 13.8,10; 20.30; Fp 2.15. Diastre/fw, Sentido literal: “entortar”. Sentido figurado: Pervertido, depravado, distorcido, dividido. Denota uma situação anormal. Os filipenses deveriam ter uma vida singular no meio de uma sociedade dissimulante, com uma ética tortuosa e, por isso mesmo, perversa.

[9] Fwsth/r (*Fp 2.15; Ap 21.11). A palavra é proveniente de Fw+j. Fwsth/r, estrela, esplendor, radiância, brilho, luminário. O tempo presente indica a ação contínua. A palavra originalmente está associada ao brilho do sol (Ap 22.5); à luz das lâmpadas (Lc 8.6; 11.33; 15.8; At 16.29), ao calor da fogueira (Mc 14.54; Lc 22.56). (Em todos esses exemplos, as palavras empregadas são Fw+j ou Fwto/j. (Ver: H. C. Hahn; Colin Brown, Luz: In: Colin Brown, ed. ger. Teologia do Novo Testamento, O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento,São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 3, p. 101-107).

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