A Pessoa e Obra do Espírito Santo (497)
10. Anelar e apressar a Segunda Vinda de Cristo
17O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida. (…) 20Aquele que dá testemunho destas coisas diz: Certamente, venho sem demora. Amém! Vem, Senhor Jesus! (Rm 22.17,20).
Esperando e apressando a vinda do Dia de Deus, por causa do qual os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se derreterão. (2Pe 3.12).
Uma das evidências do Espírito em nós, é o desejo ardente da volta triunfante de Cristo, que se revela numa oração e trabalho para esse fim.
Pedro nos diz:“Esperando e apressando a vinda do dia de Deus, por causa do qual os céus incendiados serão desfeitos e os elementos abrasados se derreterão” (2Pe 3.12). A ideia aqui expressa, não é a de que possamos modificar o dia do regresso de Cristo. A palavra traduzida por “apressar” (speu/dw),[1] indica um desejo intenso pelo que virá, envolvendo a ideia de diligenciar com zelo, solicitude, urgenciar, etc. Ela revela uma pressa prazerosa daquilo que terá de ocorrer.[2] Não significa também, uma simples pressa para que aconteça de uma vez aquilo que terá de acontecer, como por exemplo, no caso de alguém que diz: “Já que tenho de ser operado mesmo, vou logo”; ou, “se tenho que ir mesmo, vou de uma vez…”. A ideia aqui é totalmente diferente; denota uma urgência prazerosa de que Cristo venha.
A Igreja mesmo sem poder alterar o dia da Vinda de Jesus – e devemos dar graças a Deus por isso –, faz parte do cronograma relativo ao regresso glorioso e triunfante de Cristo. Somos intimados a levar adiante os eventos que devem ocorrer antes do dia de Deus. A questão é: Como a Igreja, dirigida pelo Espírito, pode manifestar este desejo expectante pelo Advento de Cristo? A Palavra de Deus nos fornece a resposta:
1) Participando da Santa Ceia
Participar dignamente da Ceia do Senhor, além de anunciar a morte de Cristo, é, ao mesmo tempo, a proclamação da bendita esperança do Seu regresso vitorioso. “Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha” (1Co 11.26).
Na Ceia, a Igreja declara a sua fé e a sua esperança no regresso triunfante de Cristo. A participação da Ceia é um ato de testemunho e renovação da nossa esperança na promessa de Cristo.
Na Ceia, declaramos ao mundo que a História tem sentido, porque ela caminha de forma realizante para a volta majestosa de Cristo. Neste ato, está embutida a certeza de que Cristo é o centro da História para onde tudo converge; que os fatos não ocorrem por acaso, mas que são dirigidos por Deus para o Seu propósito final.
Sem a Pessoa de Cristo, a História permanece como um enigma para todos nós. Jesus Cristo é o centro não apenas do calendário; Ele é de fato o centro significativo da História (Gl 4.4), assinalando que o grande evento, o evento central da História aconteceu: o tempo se cumpriu (Plh/rwma tou= xro/nou). “Jesus Cristo é o centro para onde tudo converge. Quem O conhece, conhece a razão de todas as coisas”, interpreta Pascal.[3]
O evento de Cristo como fato inconteste dá significado histórico ao nosso hoje existencial; à esperança dos que O antecederam em sua peregrinação histórica (Hb 11) e, à nossa esperança, que se fundamenta na vida, morte e ressurreição de Cristo, conforme o registro inspirado do Evangelho (1Co 15.1-19).
A expectativa do futuro está fundamentada nos eventos do passado que, hoje, fazem uma diferença qualitativa na nossa perspectiva de vida. Por isso Paulo diz: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E ainda mais: os que dormiram em Cristo, pereceram (…). Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos que amanhã morreremos”(1Co 15.17,18,32).
Todavia, Paulo não trabalha com esta hipótese, porque ele crê no fato da ressurreição de Cristo, que foi o coroamento do Seu ministério terreno: “Antes de tudo vos entreguei o que também recebi; que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, que foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. (…) Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo Ele as primícias dos que dormem”(1Co 15.3,4,20).
Berkouwer (1903-1996) comenta:
A promessa do futuro está inextricavelmente conectada com eventos do passado. A expectação cristã é algo muito diferente de uma generalização tal como: “as sementes do futuro estão no presente”. É algo completamente determinado pela relação única entre o que está por vir e o que já aconteceu no passado. Toda a certeza da nossa expectação está fundamentada nesta relação peculiar….
Escatologia verdadeira, portanto, ocupa-se sempre com a expectação do Cristo que já foi revelado e que ‘aparecerá segunda vez…. aos que o aguardam para a salvação’. (Hb 9.28).[4]
Sem Cristo não há futuro para nenhum de nós: O nosso futuro ampara-se nos feitos de Cristo. Na Ceia declaramos a nossa esperança no regresso de Cristo, amparados e radicados na sua Promessa.
São Paulo, 06 de junho de 2022.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1]O verbo “speu/dw” ocorre 6 vezes no Novo Testamento, a saber: Lc 2.16; 19.5,6; At 20.16; 22.18; 2Pe 3.12.
[2]A única possível exceção está em At 22.18; todavia, talvez possamos interpretar o texto, entendendo o prazer de Deus em preservar a vida de Saulo, que seria o Seu instrumento especial na proclamação do Evangelho (Cf. At 9.15).
[3] Blaise Pascal, Pensamentos,São Paulo: Abril Cultural (Os Pensadores, v. 16), 1973, VIII, 556. p. 178.
[4] G.C. Berkouwer, The Return of Christ,Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1975 (Reimpressão), p. 12-13.