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A Pessoa e Obra do Espírito Santo (49) - Hermisten Maia

A Pessoa e Obra do Espírito Santo (49)

                      2) Tudo pertence a Ele

As Escrituras também declaram que Deus como Criador tem o domínio sobre sua criação. Ele é o senhor e dono de toda a terra.

     O salmista enfatizando a grandeza de Deus, registrou:    “Derretem-se como cera os montes, na presença do SENHOR, na presença do Senhor de toda a terra” (Sl 97.5).[1]

     No Salmo 2 vemos ilustrados aspectos do poder de Deus. Lemos o Pai falando ao Filho: 8 Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão. 9 Com vara de ferro as regerás e as despedaçarás como um vaso de oleiro” (Sl 2.8-9).

     Como tudo lhe pertence, Deus pode oferecer ao Filho todas as coisas. Na sua promessa, não há hipérbole ou exagero de um rei que se vê maior do que é. Tudo lhe pertence.

Todas as coisas existem nele, até mesmo seus opositores pertencem e são preservados por Deus: “Ao SENHOR pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam” (Sl 24.1).

     Deste modo, o governo de Cristo é universal, envolvendo todas as nações.

Aliás, Deus seria o Senhor se o seu reinado não se estendesse a todas as coisas?[2] Não. Por isso, não há nenhum tipo de problema de esfera nem de jurisdição; tudo lhe pertence. O anúncio por parte da igreja do Senhorio de Cristo é um alerta para que todos percebam a realidade premente de sua mensagem. Não se trata de arrogância, presunção ou uma mensagem bombástica apenas para criar debate ou frisson, antes, é a verdade absoluta que pode mudar a nossa vida, conferindo sentido à história, à vida e à morte.

     McGrath ilustra esse ponto: “A insistência evangélica na importância da evangelização é, portanto, uma consequência inteiramente apropriada e natural de sua cristologia; se Jesus Cristo é de fato Salvador e Senhor, ele precisa ser proclamado ao mundo como tal”.[3]

O Senhor governa sobre grandes e pequenos. Por isso a rebelião de todas as classes. Na ignorância espiritual de todos, devido ao pecado de toda a humanidade, há rebeldia contra Deus e o seu Ungido.

O pecado entre as suas artimanhas de sobrevivência e fortalecimento, se vale da concessão da falsa sensação de liberdade. Todos queremos ser livres.  O trágico é que justamente o pecado, o mais escravizador de todos os senhores (Jo 8.34), que nos conduz a todo tipo de amarras, nos levando a multifacetados vícios escravizantes, faz-nos pensar que a liberdade buscada, o sentido da vida perseguido, está justamente no vício. Que tragédia! O supremo encarcerador nos fascina com a promessa de total liberdade. É precisamente por isso que, dominados por  esse engano, o governo de Cristo é considerado como “laços” e “algemas” (cordas, correntes) pelos incrédulos (Sl 2.3).

Harman comenta: “Os homens pecaminosos nunca se dispõem a andar dentro das fronteiras que Deus impõe às suas criaturas. Em sua arrogância, declaram sua suposta liberdade e reivindicam ser senhores de seus próprios destinos”.[4]

     Spurgeon (1834-1892) descreve a união maligna e intensa desses homens contra o Messias: “Com malícia determinada se organizam em oposição a Deus. Não foi um alvoroço e fúria passageiros, mas um ódio profundo, porque resolveram de modo claro resistir ao Príncipe da Paz”.[5]

     As “extremidades da terra” (Sl 2.8) são possessões do Senhor. Não há quem possa dizer-lhe: isto não lhe pertence. Não há um centímetro sequer de toda a criação que não seja abrangido pela totalidade do poder governativo de Deus.[6] Tudo pertence a Deus. Nenhum rei “governa senão pela vontade de Deus”.[7] Portanto, reivindicar qualquer autonomia ou qualquer forma de exclusão do poder de Deus, mantendo-o alheio, consiste em um atentado à sua soberania.[8]

Força do seu reinado

A “vara de ferro” (Sl 2.9) tipifica apenas um aspecto de seu domínio: a sua força. A vara de ferro forjado é resistente para isso. Como o contexto do Salmo é de rebeldia, é natural que seja realçada a sua força contra os opositores. Na realidade, o Reinado de Cristo também é de paz e fraternidade.

Calvino comenta:

Todos quantos não se submetem à autoridade de Cristo fazem guerra contra Deus. Visto que a Deus apraz governar-nos pela mão de seu próprio Filho, aqueles que se recusam a obedecer ao próprio Cristo negam a autoridade de Deus, e lhes é debalde fazer uma profissão de fé diferente.[9]

Cristo é munido com poder pelo qual possa reinar mesmo sobre aqueles que se opõem à sua autoridade e recusam obedecê-lo.[10]

Maringá, 14 de novembro de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Vejam-se também: Js 3.11,13; Mq 4.13; Zc 4.14; 6.5.

[2]Veja-se: William Edgar, Razões do Coração: reconquistando a persuasão cristã, Brasília, DF.: Refúgio, 2000, p. 117.

[3]Alister E. McGrath, Paixão pela Verdade: a coerência intelectual do Evangelicalismo, São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 42.

[4]Allan Harman, Comentário do Antigo Testamento ‒ Salmos, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, (Sl 2), p. 79.

[5]C.H. Spurgeon, El Tesoro de David, Barcelona: CLIE., (1989), v. 1, (Sl 2.2), p. 19)

[6]É bastante conhecida a declaração de Kuyper, quando, realizando um antigo sonho, falou na Aula Inaugural na Universidade Livre de Amsterdã em 20 de outubro de 1880, expressando a sua cosmovisão que caracterizaria aquela Instituição: Nenhuma única parte do nosso universo mental deve ser hermeticamente fechado do restante. (…) Não existe um centímetro quadrado no domínio inteiro de nossa existência humana sobre o qual Cristo, que é Soberano sobre tudo, não reivindique: ‘É meu!’” (Abraham Kuyper, Sphere Sovereignty: In: James D. Bratt, ed. Abraham Kuyper: A centennial reader, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1998, p. 488).

[7]João Calvino, O Profeta Daniel: Capítulos 1-6, São Paulo: Parakletos, 2000, v. 1, (Dn 2.36-39), p. 148.

[8] Veja-se: Vern S. Poythress, O Senhorio de Cristo: servindo o nosso Senhor o tempo todo, com toda a vida e de todo o nosso coração, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 13-14.

[9] João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 2.1-2), p. 61.

[10] João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 1, (Sl 2.9), p. 71.

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