A Pessoa e Obra do Espírito Santo (476)
Considerações finais: responsabilidade e evidências dos que têm o Espírito
Ao longo deste estudo, temos analisado quem é o Espírito e, o que Ele faz. Neste último capítulo, pontuaremos de forma mais específica o significado destas verdades na nossa vida, à luz da Palavra de Deus.
A habitação do Espírito em nós é frequentemente identificada como uma manifestação sobrenatural e extravagante. Todavia, a Palavra nos ensina que a presença do Espírito em nossa vida, tem um sentido eminentemente prático e visível; isto, não por seu aparato simplesmente externo, mas, por nossa perseverança em fazer a vontade de Deus, em seguir os valores eternos registrados nas Escrituras, confessando a Cristo, verbal e vivencialmente, como o Senhor de nossa vida (1Co 12.3).
Recapitularemos agora, de forma didática e resumida, como a presença do Espírito se torna evidente em nós.
1. Testemunho eficiente
O Espírito nos capacita a testemunhar a Cristo de forma fiel e com poder (At 1.8). Desta maneira, a Igreja não se assombra diante dos obstáculos que muitas vezes tentam fazê-la calar ou mesmo desanimar. Ela caminhai no poder e sabedoria do Espírito, cumprindo a sua missão imperativa e incondicional de testemunha de Cristo. A Igreja, conforme temos insistido, não pode deixar de dar testemunho, visto que ela “não pode fugir à vocação do seu próprio ser”[1] (At 1.8; 4.8-13,31; 6.10/7.55; 9.17-20; 11.21-25; 13.9-12).
Como Igreja, somos levados sob a direção do Espírito, de forma irreversível a testemunhar sobre a realidade de Cristo e do poder da sua graça.
2. Andar no Espírito
“2 Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte. (…) 4 a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito. 5 Porque os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito. 6 Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz” (Rm 8.2,4-6).
“16 Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. 17 Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer. (…) 25 Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito” (Gl 5.16,17,25)
“8 Pois, outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz no Senhor; andai como filhos da luz 9 (porque o fruto da luz consiste em toda bondade, e justiça, e verdade), 10 provando sempre o que é agradável ao Senhor” (Ef 5.8-10).
Agora, em Cristo, somos filhos da luz: “Vós todos sois filhos da luz (fw=j) e filhos do dia; nós não somos da noite, nem das trevas” (1Ts 5.5). Portanto, devemos andar de acordo com a nossa nova natureza: “Pois, outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz (fw=j) no Senhor; andai como filhos da luz (fw=j) porque o fruto da luz (fw=j) consiste em toda bondade, e justiça, e verdade” (Ef 5.8-9/1Jo 3.24).
É nossa responsabilidade brilhar no mundo apontando como um sinal luminoso o caminho de Cristo. A Igreja tem uma responsabilidade ontológica ‒ como resultado de sua nova natureza ‒, e missionária para com o mundo. Esta é a instrução do Senhor: “Vós sois a luz (fw=j) do mundo. (…) brilhe também a vossa luz (fw=j) diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.14,16).
Do mesmo modo, Pedro escreve às igrejas: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (fw=j)” (1Pe 2.9).
Os filipenses, portanto, deveriam continuar incansavelmente sendo as “grandes luzes” no meio daquela geração pervertida e corrompida.
Portanto, como temos insistido, a eleição eterna de Deus não é uma categoria abstrata, distante e apenas ideal. Os eleitos de Deus, por inteira e incompreensível graça, após o chamado eficaz de Deus são identificáveis pela sua vida e testemunho. A nossa eleição se materializa em obediência a Deus.
A nossa fidelidade concernente ao propósito da eleição, será avaliada em cada um de nós pelo escrutínio perfeito de Deus; nada permanecerá encoberto. (Ef 1.4/Rm 2.16; 1Co 4.5).
O Espírito da vida conduz-nos à vida e paz. Andar no Espírito significa agir, decidir, planejar e viver sob a direção e controle do Espírito de Cristo, conforme a nossa nova condição de filhos da luz (Ef 5.8).
Neste novo contexto de vida, encontramos no Espírito a capacitação para cumprirmos a Lei. A Lei nos mandava cumprir seus preceitos;[2] o Espírito nos leva a fazê-lo com o coração alegre, libertando-nos, assim, do domínio do pecado e da morte.
A Lei revela o nosso pecado, o Espírito demonstra a graça por intermédio de nossa obediência. Portanto, andar no Espírito é viver não à revelia da Lei, antes é caminhar em harmonia com a Lei de Deus, que é a “lei da liberdade” (Cf. Tg 1.25; 2.12). É justamente isto a vitória sobre o pecado (Gl 5.1-12,18). “Estar no Espírito significa estar na esfera do reino libertador de Deus, que é mediado pelo Espírito”.[3]
A figura bíblica do “andar” é significativa, pois aponta para a nossa realidade diária de caminhar, nos deparando com novas e desafiadoras situações, para as quais o Espírito nos conduzirá de forma segura conforme as Escrituras.
A vida no Espírito é, portanto, uma aventura integral na qual descobrimos diariamente a riqueza da Palavra e a sua perenidade para cada e nova circunstância de toda a nossa existência. (Sl 119.105).
Andar no Espírito aponta para um novo itinerário e, também, para uma nova qualidade de vida. A Palavra de Deus é o Livro que regulamenta os princípios desse caminhar; “O Espírito não nos dirige aparte da Palavra”, resume Hoekema.[4]
Maringá, 08 de maio de 2022.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1] Boanerges Ribeiro, O Senhor que Se Fez Servo,p. 43.
[2] “Pela lei Deus exige o que lhe é devido, todavia não concede nenhum poder para cumpri-la. Entretanto, por meio do Evangelho os homens são regenerados e reconciliados com Deus através da graciosa remissão de seus pecados, de modo que ele é o ministério da justiça e da vida” (João Calvino, Exposição de Segundo Coríntios,São Paulo: Paracletos, 1995, (2Co 3.7), p. 70). Na mesma linha de raciocínio, escreveu Bruce: “O Espírito realiza o que a lei não consegue realizar: a lei podia dizer às pessoas o que deveriam fazer, mas não podia suprir-lhes o poder, nem mesmo a vontade de fazê-lo; o Espírito supre ambas as coisas (Rm 8.3,4; 2Co 3.4-6). Quando o Espírito toma a iniciativa de partilhar com os crentes o desejo e o poder para realizar a vontade de Deus, esse desejo e poder se lhes torna possessão pessoal, como dádiva de Deus, e os crentes obedecem à vontade de Deus ‘de coração’ (Ef 6.6)” (F.F. Bruce, Filipenses,Florida: Editora Vida, 1992, (Fp 2.12-13), p. 91).
[3]George E. Ladd, Teologia do Novo Testamento, Rio de Janeiro: JUERP., 1985, p. 451.
[4] A.A. Hoekema, Salvos pela Graça,São Paulo: Cultura Cristã, 1997, p. 59.