A Pessoa e Obra do Espírito Santo (462)
6.5.3. O Espírito e o Reino
No Antigo Testamento e no judaísmo posterior, a esperança de Israel se lança num futuro – provavelmente não muito distante – em que Deus derramaria sobre todos o Espírito, sendo este ato associado à obra do Messias que viria cheio dele (Cf. Is 11.2; 42.1; 48.16; 61.1-11/[1]Is 32.15-17; Ez 36.25-27; 37.14; 39.29; Zc 12.10; Jl 2.28-32/Lc 4.17-21). Por isso, podemos dizer que a presença do Espírito no Ministério de Jesus Cristo é uma presença escatológica que marca o cumprimento da Promessa e, também, de forma similar, à chegada do Reino (Cf. Mt 12.28).
As manifestações do Espírito indicam de forma inequívoca e efetiva, o domínio e a sentença de Deus sobre satanás que foi dominado: ele é o valente que está amarrado (Mt 12.28,29/Lc 10.18).
“Cada expulsão, que Jesus opera, dum espírito mau significa uma antecipação da hora em que satã será visivelmente dominado”, resume Jeremias (1900-1979).[2] O Reino é uma realidade presente e as obras do Espírito são um atestado evidente disto. “A expulsão de demônios demonstra que o reino de Deus chegou aos homens. O expulsar demônios é em si uma obra do reino de Deus”, enfatiza Ladd (1911-1982) [3] (Ver: Lc 17.21).
O Reino é uma realidade presente vivenciada por todos aqueles que creem em Cristo. Todavia, ele não é estabelecido por nós. O Reino pertence a Deus (Mt 6.13), e nele se origina e se desenvolve. “Sua vinda unicamente se compreende sobre a base de sua ação milagrosa e todo-poderosa”, comenta Ridderbos (1909-2007).[4] Todavia, nem por isso deixamos de orar: “Venha o Teu Reino”. “A vinda do Reino é totalmente independente de nosso poder (…). Porém a vinda do Reino é objeto de nossa oração”, escreve Barth.[5]
O Reino de Deus é o Reinado de Deus. O governo triunfante de Cristo sobre todas as coisas, visíveis e invisíveis. Conforme já nos referimos, “o Reino de Deus significa que Deus é Rei e age na história para trazer a história a um alvo divinamente determinado”, comenta Ladd (1911-1982).[6] Como Rei, Deus dirige a história a conduzindo ao seu propósito eterno e glorioso.
Falar no Reino é apontar para a concretização do propósito de Deus em Cristo, libertando os homens do poder de Satanás, conduzindo-os à liberdade concedida por Cristo, o Senhor. Portanto, o Reino é um relacionamento pessoal com o Rei.[7]
O Espírito testifica que somos filhos de Deus e que, por maior que seja a nossa pobreza material, por mais insignificantes que sejamos considerados social e economicamente, somos súditos do Reino, sendo herdeiros de Deus, tendo o sinal de nossa cidadania e herança – sinal este concedido por Deus (Rm 8.16,17; Gl 4.6,7; Ef 1.14,18; Cl 3.24; Tt 3.7/1Jo 3.1,2).
Voltando ao texto de Paulo supracitado (Rm 8.23), entendemos que a Igreja geme por anelar pela concretização plena das virtudes eternas que ela já tem a amostra (Rm 14.17; 15.13; 1Ts 1.6/Gl 5.22,23). É neste espírito que a Igreja ora: “Venha o Teu Reino”.
Quem ora pela vinda do Reino, é porque já o conhece, já usufrui das suas riquezas, já provou da sua bem-aventurança (Rm 14.17).[8] Somente um cidadão do Reino pode dizer de forma consciente: “Venha o teu Reino”. Por isso, ele ora para que o Reino já presente venha em toda a sua plenitude sobre todos.
Maringá, 24 de abril de 2022.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1] Veja-se: G. Van Groningen, Revelação Messiânica no Velho Testamento, p. 602-603.
[2]Joaquim Jeremias, Teologia do Novo Testamento,p. 148.
[3]G.E. Ladd, El Evangelio del Reino,Miami: Vida, 1985, p. 59. Vejam-se, também: A.A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro,p. 67 e William Hendriksen, Mateus, São Paulo: Cultura Cristã, 2000, v. 2 (Mt 12.29), p. 35-36.
[4]Herman Ridderbos, La Venida del Reino,Buenos Aires: La Aurora, 1985, v. 1, p. 43.
[5]K. Barth, La Oración,Buenos Aires: La Aurora, 1968, p. 52. “O reino é de todo obra de Deus ainda quando opera em e através dos homens”(G.E. Ladd, Reino de Deus: In: E.F. Harrison, ed. Diccionario de Teologia, p. 450b).
[6] George E. Ladd, The Presence of the Future: The Eschatology of Biblical Realism, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, Revised Edition,1974, p. 331.
[7] Veja-se: J.I. Packer, A Oração do Senhor, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 46.
[8]Esta é a experiência da Igreja: Ela é na presente era a manifestação do Reino: “A igreja é o centro vivo e ardente do reino, uma testemunha de sua presença e poder, e um precursor de sua vinda final” (Enrique Stob, Reflexiones Éticas: Ensayos sobre temas morales,Grand Rapids, Michigan: T.E.L.L., 1982, p. 68).