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A Pessoa e Obra do Espírito Santo (461) - Hermisten Maia

A Pessoa e Obra do Espírito Santo (461)

6.5.2. Fé Cristã e Escatologia

Crer na Ressurreição do Senhor de entre os mortos e em sua Ascensão ao céu fortalece nossa fé com uma grande esperança. – Agostinho.[1]

É notório que tais filosofias e religiões apresentam este assunto de forma imprecisa e supersticiosa, baseando-se em especulações, tendo como base apenas a Revelação geral de Deus, embrulhada em suas culturas repletas de superstições e crendices, fortalecidas pela ignorância do verdadeiro Deus.

            Somente a religião cristã, respaldada na Palavra inerrante e infalível de Deus, possui uma doutrina das últimas coisas precisa. Por isso, podemos construir a nossa esperança sobre o fato da Revelação de Deus:  “A fé – descreve Brunner (1889-1966) –, é a janela aberta para o porvir, não uma saudade indefinível, uma vaga esperança, mas a alegre certeza daquilo que em Cristo foi prometido”. [2]

            A vida e ministério de Jesus Cristo foram extremamente dolorosos.[3] (Hb 5.8).   A sua morte foi extremamente terrificante, não simplesmente pelas terríveis dores envolvidas, mas, pelo fato dele levar sobre si os nossos pecados, tornando-se alvo da ira de Deus e do desprezo e malignidade humana.

            Os sofrimentos de Cristo foram físicos e espirituais (Mt 26.36-42; 1Pe 4.1); no Getsêmani, horas antes do seu martírio, Ele sente o peso ainda mais forte da aproximação da experiência mais temida: a separação de Deus, que é a morte; a ira de Deus sendo derramada sobre Ele, o Justo (Is 53.3),[4] como representante do seu povo. Todavia, Jesus se abandonou na vontade do Pai a qual é a vontade determinante para Ele e para o seu ministério; e nesta autoentrega, está a vitória de Deus sobre o pecado e sobre satanás, redimindo para si um povo comprado com o “sangue de Deus” (At 20.28/1Co 6.20; 1Pe 1.18,19).[5]

            A morte de nosso Senhor por meio da ressurreição significa a entrada da vida em nossa história. A história levada a cabo pelo homem tem a morte como fim. A história conduzida misericordiosamente por Deus, tem em seu final a vida e vida abundante por meio do Servo Sofredor que também é o Rei vitorioso. O domínio da morte e de seus horrores foi vencido na morte e ressurreição do Senhor.

            A morte de Cristo que parecia uma vitória de satanás sobre o Reinado do Senhor, não o foi, antes, foi a realização do propósito de Deus. A ressurreição de Cristo é o coroamento desta vitória.

            A fé é demonstrada na nossa atitude de esperança depositada em Deus e nas suas promessas. A esperança sem o conhecimento de Cristo e de suas promessas, é apenas uma utopia humana. Jesus Cristo é o Senhor e o alvo da nossa esperança que procede da fé (Rm 4.18; 6.8; 1Co 15.19; 2Tm 1.12; 4.7; Hb 11.1). “A esperança não é mais do que o alimento e a força da fé”, enfatiza Calvino.[6]

            A esperança só pode persistir amparada numa convicção escatológica. Contudo, esta esperança fundamenta-se na realidade subjetivamente significativa: nos atos de Deus realizados no passado e em  processo de execução no presente, conforme a Palavra nos diz e temos vivenciado. A escatologia cristã fundamenta-se sempre na verdade e fidedignidade do Deus Soberano.

            Calvino comenta:

Nossa fé repousa no fundamento de que Deus é verdadeiro. Além do mais, esta verdade se acha contida em sua promessa, porquanto a voz divina tem de soar primeiro para que possamos crer. Não é qualquer gênero de voz que é capaz de produzir fé, senão a que repousa sobre uma única promessa. Desta passagem, pois, podemos deduzir a relação mútua entre a fé dos homens e a promessa de Deus. Se Deus não prometer, ninguém poderá crer”.[7]

            Quando relacionamos o Espírito com as nossas expectativas futuras, devemos ter em mente que a escatologia não é apenas uma das facetas do seu Ministério, um apêndice à sua Obra.

            A obra escatológica do Espírito é na realidade a sua obra em toda a sua extensão, isto porque a escatologia está inserida em tudo o que cremos e somos. Concordo com Moltmann quando afirma que, “o cristianismo é total e visceralmente escatologia, e não só a modo de apêndice; ele é perspectiva e tendência para frente, e por isto mesmo, renovação e transformação do presente”.[8]

            A Escatologia de fato está inserida em tudo o que cremos e somos. “O escatológico impregna qualquer presente existencial”, pontua Braaten.[9] A Escatologia é o elemento norteador de nossa fé aqui e agora, para um além e depois. A nossa fé tem um sentido escatológico, porque ali ela se consumará.

            Toda a Teologia tem um sentido escatológico, porque todas as doutrinas encontrarão o seu sentido pleno na consumação do século. Tiremos a perspectiva escatológica da fé cristã, e nos perguntemos: à luz da eternidade, o que importa esta ou aquela doutrina? E a conclusão será efetivamente: comamos e bebamos que amanhã talvez morreremos!

            A Escatologia deve ser – não por questões meramente didáticas, mas, sim, ontológicas – a tônica da verdade cristã. À luz do fim, só permanece o que é eterno.

            A  contínua ação do Espírito como temos estudado, tem uma meta definida: Congregar o povo de Deus, pelo qual o Filho morreu, conduzindo-o em segurança até o lar celestial, evidenciado de forma maravilhosa a glória da graça de Deus na salvação de seus eleitos.

Maringá, 24 de abril de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Agostinho, A Doutrina Cristã, São Paulo: Paulinas, 1991, I.15.14, p. 63.

[2]Emil Brunner, Nossa Fé, 2. ed. São Leopoldo, RS: Sinodal, 1970, p. 114

[3] “Com toda verdade se pode dizer que não somente passou toda sua vida em perpétua cruz e aflição, senão que toda ela não foi senão uma espécie de cruz contínua” (J. Calvino,  Institución, III.8.1). “Toda a sua vida foi uma cruz perpétua” (João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã,  São Paulo: Novo Século, 2000, p. 45). Mattew Henry comenta: “A queixa mais dolorosa de Cristo em seus sofrimentos foi a aflição de sua alma e a falta do sorriso de seu Pai”  (Matthew Henry, Comentário Bíblico de Matthew Henry, 5. ed., Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2006, (Sl 6), p. 401). Veja-se também: O Catecismo de Heidelberg, pergunta 37.

[4]Lloyd-Jones interpretando Mt 26.39, diz: “Essa foi a única vez, durante Sua vida terrena, que nosso Senhor fez a Seu Pai uma petição desse gênero; e é óbvio, pois, que era algo extremamente excepcional. E isso aponta para o fato de que houve algo em Sua morte que era absolutamente necessário. (…) É absolutamente inadequado pressupor que um mero sofrimento físico produziria tal clamor….” (D.M. Lloyd-Jones, Deus o Pai, Deus o Filho,  São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1997 (Grandes Doutrinas Bíblicas, v. 1), p. 418).

[5] Veja-se: Gustaf Aulén,  A Fé Cristã,  São Paulo: ASTE., 1965, p. 186.

[6]J. Calvino, As Institutas, III.2.43

[7]João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 10.23), p. 270.

[8]Jürgen Moltmann, Teologia da Esperança,São Paulo: Herder, 1971, p. 2.

[9] Carl E. Braaten, Escatologia y Etica,Buenos Aires: La Aurora, (1977), p. 17.

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