A Pessoa e Obra do Espírito Santo (457)
6.4.13.4. A Igreja como expressão e agente da glória de Deus
“A Ele, pois, a glória eternamente. Amém!” – Rm 11.36.
“A glória do Pai lhe é invisível até que ela resplandeça em Cristo” ‒ João Calvino.[1]
A) A Glória de Deus na salvação dos seus
Deus chama o Seu povo por meio dos Seus filhos. De fato. Este é o método de Deus. Quando a igreja cumpre assim a sua missão, sendo coerente com a sua natureza, Deus é glorificado, visto que o objetivo final da nossa eleição – bem como o de todas as coisas –, é a Glória de Deus (Ef 1.4-6,12-14; 2.6,7; Rm 9.22-23/Is 43.7)[2].[3]
Deus nos elegeu para sermos o instrumento de Seu louvor. Na eleição resplandece a gloriosa graça de Deus em atos de bondade para conosco. A conclusão de nossa salvação revelará a glória da graça salvadora de Deus (Ef 1.6,11,12,13,14): “O objetivo final da eleição não será atingido até que Deus, tendo operado a salvação dos eleitos – e tendo-os levado para a glória – seja, deste modo, glorificado plenamente em Si Mesmo”, comenta Klooster (1922-2003).[4]
Aqui temos o nosso horizonte espiritual ampliado: “a coisa principal não é que os eleitos sejam salvos, mas que Deus seja justificado em todas as suas obras e glorificado no juízo”, escreve Kuyper.[5]
A glória de Deus, portanto, que é a beleza harmoniosa de suas perfeições, é realçada por meio da nossa salvação e santificação em Cristo Jesus. Deus manifesta a sua Glória por intermédio dos eleitos que constituem a sua Igreja. Ele mesmo, “nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado” (Ef 1.5-6).[6]
Como igreja, seremos o troféu de Cristo por toda a eternidade. Somos o resultado de sua obra salvadora. Por isso, quando Ele vier, será glorificado em nós (Ef 1.5,6; 2.7/Jo 17.10; 2Ts 1,10,12). “Na eternidade, olharemos para nós mesmos e diremos: ‘Eis aqui a prova de que Deus é bondoso – Ele me salvou!’ Seremos os troféus na galeria dos troféus de Deus”, exulta Wells.[7]
À pergunta: por que Deus objetiva a sua glória? -, encontra na Escritura a resposta simples e objetiva: Deus objetiva a Sua glória, porque não há nada maior do que Ela.[8] Portanto, não procurar a sua Glória, significaria a autonegação de que Ele é o Senhor da Glória.
Maringá, 15 de abril de 2022.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1] João Calvino, Exposição de Hebreus,São Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 1.3), p. 34.
[2]“ 4 assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor 5 nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, 6 para louvor da glória (do/ca) de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, (…) 12 a fim de sermos para louvor da sua glória (do/ca), nós, os que de antemão esperamos em Cristo; 13 em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; 14 o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória (do/ca) (Ef 1.4-6,12-14).
“E, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus” (Ef 2.6,7). “Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição, a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória (do/ca) em vasos de misericórdia, que para glória (do/ca)preparou de antemão” (Rm 9.22-23). “A todos os que são chamados pelo meu nome, e os que criei para minha glória (כּבוד)(kabod),(LXX: do/ca) e que formei, e fiz” (Is 43.7).
[3] Vejam-se: Catecismo de Genebra,Pergs. 1-2: In: Catecismos de la Iglesia Reformada,Buenos Aires: La Aurora, 1962, p. 29; Catecismo Menor de Westminster,Perguntas: 1,7,46,47,101; J. Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 9.23), p. 343-344; J. Calvino,As Institutas,III.23.8; III.24.14; Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.A. Hodge,São Paulo: Editora os Puritanos, 1999,p. 96. Hodge: “A causa final de todos os propósitos de Deus é Sua própria glória” (Ap 4.11; Nm 14.21; Is 48.11; Ez 20.9). (Charles Hodge, Systematic Theology,v. 1, p. 535).
[4]Fred H. Klooster, A Doutrina da Predestinação em Calvino,Santa Bárbara D’Oeste, SP.: SOCEP., 1992, p. 29. “A ideia geral expressa (Jó 17.1) é que o nosso Senhor está desejoso de que a glória de Deus seja manifestada, e manifestada especialmente na salvação dos homens” (D.M Lloyd-Jones, Salvos desde a Eternidade, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: v. 1), p. 42).
[5]Abraham Kuyper, The Work of the Holy Spirit,Chattanooga: AMG. Publishers, 1995, p. 10.
[6] Vejam-se também: Confissão de Westminster, III.3,5,7; V.1; XXXIII.2; Catecismo Maior, Pergs. 12 e 18; Catecismo Menor, Perg. 7.
[7] Tom Wells, Fé: Dom de Deus,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1985, p. 100. John MacArthur Jr. usa figura semelhante em seu instrutivo e desafiador livro: Chaves para o Crescimento Espiritual, 2. ed. São José dos Campos, SP.: FIEL, 1986, p. 47.
[8] “Sendo Deus mesmo infinitamente mais digno do que a soma de todas as criaturas, segue-se que a manifestação da sua própria excelência é fim infinitamente mais digno e exaltado do que o seria a felicidade das criaturas; seria realmente o fim o mais exaltado e digno que nos é possível imaginar” (A.A. Hodge, Esboços de Theologia, p. 223).