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A Pessoa e Obra do Espírito Santo (446) - Hermisten Maia

A Pessoa e Obra do Espírito Santo (446)

6.4.12.1.4. A Sabedoria do Espírito na cotidianidade do povo de Deus (Continuação)

Paulo exorta Timóteo a permanecer naquilo que aprendeu desde a infância. Sem dúvida, é um privilégio poder ter usufruído desde a mais tenra idade uma formação bíblica. Devemos dar graças a Deus por isso.[1] Por outro lado, os pais e avós nem sempre percebem de imediato os frutos de seus ensinamentos, porém, devemos perseverar em ensinar as Sagradas letras deixando com Deus os resultados que certamente aparecerão:

3Dou graças a Deus, a quem, desde os meus antepassados, sirvo com consciência pura, porque, sem cessar, me lembro de ti nas minhas orações, noite e dia. 4 Lembrado das tuas lágrimas, estou ansioso por ver-te, para que eu transborde de alegria 5 pela recordação que guardo de tua fé sem fingimento, a mesma que, primeiramente, habitou em tua avó Lóide e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também, em ti. (2Tm 1.3-5).

14Tu, porém, permanece (me/nw = continuar, ficar, morar) naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste 15 e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio (sofi/zw) para a salvação pela fé em Cristo Jesus. (2Tm 3.14-15).

            De passagem, devemos observar a responsabilidade dos que ensinam. A palavra é o conteúdo da mensagem do Ministro: A Escritura torna o homem sábio para a salvação. Por isso, ele precisa manejá-la bem, visto que os falsos mestres também a empregam, com habilidade maligna, sedutora e persuasiva,  como pretexto para justificar os seus falsos ensinamentos.

Paulo exorta a Timóteo: Procura (spouda/zw = “esforçar-se com zelo”, “apressar-se”) apresentar-te a Deus, aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem (o)rqotome/w = “cortar em linha reta”, “endireitar”) a Palavra da verdade (a)lh/qeia)” (2Tm 2.15).

O sábio manejo da Escritura significa estudá-la, vivenciá-la e proclamá-la conforme o seu propósito. O manejo sábio da Escritura envolve, necessariamente, fidelidade ao Senhor da Escritura. A igreja, portanto, é chamada a ser serva e não senhora da Revelação.

Calvino instrui:

É uma recomendação por demais sublime das Escrituras dizer que a sabedoria suficiente para a salvação não pode ser encontrada em outra parte (…). Ao mesmo tempo, porém, ele nos diz o que devemos buscar na mesma Escritura, pois os falsos profetas também fazem uso dela em busca de pretexto para o seu ensino. Para que ela nos seja proveitosa para a salvação, temos que aprender a fazer dela um uso correto.[2]

            A Palavra de Deus deve habitar em nós e nós nela, perseverando inabalavelmente em seus ensinamentos. Permanecer na Palavra significa permanecer em Deus, no seu amor e Deus em nós. Observem a relação estabelecida por Cristo entre o permanecer nele, a Palavra permanecer em nós, a obediência e o amor de Deus em nós:

4 permanecei (me/nw) em mim, e eu permanecerei[3] em vós. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer (me/nw) na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes (me/nw) em mim. 5 Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece (me/nw) em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. 6 Se alguém não permanecer (me/nw) em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o queimam. 7 Se permanecerdes (me/nw) em mim, e as minhas palavras permanecerem (me/nw) em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito. 8 Nisto é glorificado meu Pai, em que deis muito fruto; e assim vos tornareis meus discípulos. 9Como o Pai me amou, também eu vos amei; permanecei (me/nw) no meu amor. 10Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis (me/nw) no meu amor; assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço (me/nw).(Jo 15.4-10).

            Esta Palavra nos torna sábios para a salvação. Ela nos conduz à compreensão do propósito de Deus por meio de Sua verdade revelada, não para a elaboração do mal ou invencionices vazias (2Pe 1.16),[4] antes, para nos instruir naquilo que edifica. A sabedoria concedida por Deus deve nos tornar sábios para o bem, como indica Paulo:

Pois a vossa obediência é conhecida por todos; por isso, me alegro a vosso respeito; e quero que sejais sábios (sofo/j) para o bem e símplices (a)ke/raioj [5] = puro, sem mistura, sem mescla, não adulterado, intacto)[6] para o mal. (Rm 16.19).

            A palavra (a)ke/raioj) é aplicada ao leite e ao vinho que não foram misturados com água; à pureza do metal e à muralha de uma fortaleza que se manteve intacta. Portanto, a sabedoria do Espírito é pura, sem dissimulação nem segundas intenções. 

Jesus Cristo nos instrui: “Eis que vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices (a)ke/raioj) como as pombas” (Mt 10.16).

A sabedoria cristã dos filhos de Deus se revela no seu uso para o bem. A sabedoria que procede de Deus (Tg 1.17) não é empregada para o mal, para destruir ou satisfazer os nossos desejos egoístas.

Deus, descrevendo a insensibilidade espiritual de Judá, diz: “…. o meu povo está louco, já não me conhece; são filhos néscios, e não entendidos; são sábios para o mal, e não sabem fazer o bem” (Jr 4.22/Is 1.17).

A sabedoria cristã é o oposto disso. Ela se dispõe a ajudar, socorrer, edificar. O seu planejamento é para o bem, nunca para o mal.

Judá estava tão distante de Deus que desaprendera a fazer o bem, os seus pensamentos eram ligeiros, ágeis para o mal. No entanto, o desafio de Deus para nós é para que nos exercitemos na prática do que é justo. E quanto ao mal? Que sejamos puros quanto a ele, não tendo ideias para executá-lo. No entanto, quando nos desafiarem a fazer o bem, que sejamos argutos, prontos, tendo uma visão perspicaz e penetrante. Até para fazer o bem precisamos ter discernimento.

Há, por exemplo, um tipo de assistencialismo que longe de ajudar, cria um espírito de dependência que não se configura como ajuda. Ser sábio para o bem não significa conceder tudo o que nos pedem, mas, saber administrar com discernimento os recursos disponíveis, de forma criativa e fraterna visando uma contribuição individual e social. Assim, Deus será glorificado.

Portanto, devemos utilizar a inteligência que Deus nos deu, para edificar, construir, socorrer, nunca para destruir, lucrar desonestamente: isto seria esperteza, que nada tem a ver com o Cristianismo e a pureza que deve caracterizar os filhos de Deus.

 São Paulo, 30 de março de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]“Se porventura alguém tenha adquirido desde sua tenra juventude um sólido conhecimento das Escrituras, o mesmo deve considerar tal coisa como uma bênção especial da parte de Deus” (João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (2Tm 3.15), p. 261).

[2] João Calvino, As Pastorais,(2Tm 3.15), p. 261.

[3] Esta palavra não consta no original, é apenas dito: “E eu em vós”.

[4]“Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas (sofi/zw), mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade” (2Pe 1.16).

[5] *Mt 10.16; Rm 16.19; Fp 2.15.

[6] Tem o sentido figurado de pureza, inocência, integridade.

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