A Pessoa e Obra do Espírito Santo (432)
6.4.10.3. A Igreja como expressão e agente da Glória do Deus Triúno (Continuação)
O que anunciamos jamais será o Evangelho bíblico se se consistir apenas numa mensagem de alívio para as supostas necessidades do homem. Esta concepção nos parece imperiosamente relevante. Quando proclamamos o Evangelho, estamos glorificando a Deus por meio de nossa obediência ao seu mandamento de anunciar a mensagem de redenção a todos os homens.
“O nome de Deus nunca é melhor celebrado do que quando a verdadeira religião é extensamente propagada e quando a Igreja cresce, a qual por essa conta é chamada ‘plantações do Senhor, para que Ele seja glorificado’ [Is 61.3]”, interpreta Calvino.[1]
Contudo, devemos também ter em mente que o nosso propósito em assim fazê-lo deve ser o de glorificar a Deus no anúncio de sua mensagem redentiva.
Deus é glorificado não somente por intermédio dos que creem, quando a sua misericórdia resplandece, mas, mesmo por intermédio daqueles que rejeitam a mensagem, sendo glorificada a sua paciência e justiça (Rm 9.22-24)[2] que são tão santas como o seu amor e misericórdia.
Schreiner, portanto, está correto ao declarar: “Eu definiria a glória de Deus como a beleza, majestade e grandiosidade de quem Ele é; portanto, a grandiosidade de seu ser é demonstrada em tudo o que Ele faz, quer na salvação quer no julgamento”.[3]
A Igreja de Deus, no seu ato essencial de proclamar as virtudes de Deus (1Pe 2.9-10), tem como objetivo final a Glória de Deus (Rm 11.36; 1Co 10.31). A Evangelização visa glorificar a Deus, por meio do anúncio da natureza de Deus e de sua obra eficaz efetivada em Cristo Jesus.
Ousamos dizer, que a Evangelização tem fundamentalmente como alvo final, glorificar a Deus. Deus é glorificado por meio da salvação de seu povo (Is 43.7; Jo 17.6-26; Ef 1.7/2Ts 1.10-12) e a consequente confissão de sua soberania (Fp 2.5-11). A glória de Deus é muito maior do que a nossa salvação; mas, também sabemos que “a glória de Jesus é a salvação de seus seguidores”, conclui Hendriksen.[4]
O Espírito dirige a Igreja na glorificação de Cristo, ensinando-lhe a obediência proveniente da fé.[5] Para isto, temos no Filho o próprio paradigma a ser seguido. Foi justamente na obediência perfeita ao Pai, que o Filho O glorificou.
O Filho ora: “Eu te glorifiquei (doca/zw) na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer” (Jo 17.4). Quando evangelizamos estamos revelando o nosso amor a Deus e ao nosso próximo, glorificando a Deus, sendo-lhe obedientes na vivência de nossa natureza de testemunho e serviço: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama”(Jo 14.21).
A obediência é fruto da genuína fé.[6]Na obediência a Cristo, a Igreja o glorifica. O Espírito que cumpre seu ministério obedientemente (Jo 16.13-14),[7] conduz a Igreja a ser a glorificação de Cristo em sua obediência (Jo 17.9,10).[8]
Se pudéssemos imaginar na eternidade alguém perguntando sobre os frutos da obra do Pai, do Filho e do Espírito Santo, encontraríamos a resposta na indicação jubilosa da Igreja de Deus, a qual Ele comprou com o seu próprio sangue e preservou até o fim (At 20.28/Is 43.7/Ef 1.3-14; 2.6,7). Conforme vimos, “a Igreja é o brilho mais esplendente da sabedoria de Deus (…). A Igreja é a expressão final da sabedoria de Deus, a realidade que, acima de todas as demais, capacita até os anjos a compreenderem a sabedoria de Deus”, exulta Lloyd-Jones.[9]
O Evangelho deve ser anunciado em sua inteireza a todos os homens e ao homem todo. A Teologia oferece solidez na transmissão desta verdade, mostrando quem é Deus e a real necessidade do homem.
Van Til (1895-1987) comenta: “Tudo o que as Escrituras dizem a respeito do homem, e particularmente tudo o que elas dizem sobre a salvação do homem, é afinal de contas para glória de Deus. Nossa teologia está centralizada em Deus porque nossa vida está centrada em Deus”.[10]
Quando a evangelização se transforma apenas em questão de estatística ― número de membros, tamanho do edifício, arrecadação, relevância social das pessoas que frequentam os cultos, etc. ―, há muito deixamos de compreender o genuíno significado do Evangelho bíblico. A grandeza e importância da Igreja está em seu Senhor; as demais coisas são periféricas. A mensagem do Evangelho propõe-se a anunciar a Deus na beleza de sua santidade, sabendo que Deus será glorificado por meio de nossa fidelidade à sua Palavra.
Maringá, 18 de março de 2022.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1] João Calvino, O Livro dos Salmos,São Paulo: Edições Parakletos, 2002, v. 3, (Sl 102.21), p. 581.
[2]“Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição, a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória (do/ca) em vasos de misericórdia, que para glória (do/ca) preparou de antemão, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?” (Rm 9.22-24).
[3]Thomas R. Schreiner, Uma Teologia bíblica da glória de Deus: In: S. Storms; J. Taylor, orgs. John Piper: ensaios em sua homenagem, São Paulo: Hagnos, 2013, p. 262.
[4]William Hendriksen, O Evangelho de João, São Paulo: Cultura Cristã, 2004, (Jo 17.6), p. 758.
[5]“A principal obra do Espírito Santo é glorificar ao Senhor Jesus Cristo. Portanto, não haverá valor em nossas orações, se não crermos nele, em sua divindade singular, em sua encarnação, nascimento virginal, milagres, morte expiatória, ressurreição e ascensão. O Espírito O glorifica e, portanto, devemos crer nele e ser ‘unânimes’ em nossa doutrina” (D. Martyn Lloyd-Jones, A Unidade Cristã, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1994, p. 72).
[6]Dietrich Bonhoeffer, Discipulado,2. ed. São Leopoldo, RS.: Sinodal, 1984, p. 25.
[7]“Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir. Ele me glorificará (doca/zw), porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar” (Jo 16.13-14).
[8]“É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus; ora, todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e, neles, eu sou glorificado” (Jo 17.9-10).
[9]D. Martyn Lloyd-Jones, As Insondáveis Riquezas de Cristo, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1992, p. 77.
[10]Cornelius Van Til, An Introduction to Systematic Theology, Phillipsburg, New Jersey: Presbyterian and Reformed Publishing Co. 1974, p. 1.