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A Pessoa e Obra do Espírito Santo (397) - Hermisten Maia

A Pessoa e Obra do Espírito Santo (397)

4) A Santidade como meta (Continuação)

O pecado da murmuração

Paulo continua argumentando a respeito de como os filipenses deveriam praticar a sua obediência: “Fazei tudo sem murmurações (goggusmo/j) (Fp 2.14).

A palavra Goggusmo/j,[1] além de “murmuração” tem o sentido de descontentamento, queixa, desagrado, desprazer, reclamação, queixume, “zum-zum”.

A palavra é onomatopaica. Ela descreve um murmúrio surdo e ameaçante do povo, que zomba e arremeda seus líderes e está pronta para uma revolta e insurreição.

Por certo Paulo tinha em mente o comportamento pecaminoso dos israelitas, que se queixavam constantemente contra Moisés e Arão: “Todos os filhos de Israel murmuraram contra Moisés e contra Arão; e toda a congregação lhes disse: Tomara tivéssemos morrido na terra do Egito ou mesmo neste deserto!” (Nm 14.2).

          Mas, na realidade, o povo estava murmurando contra Deus pois, foi Ele quem os conduziu até ali: “Até quando sofrerei esta má congregação que murmura contra mim? Tenho ouvido as murmurações que os filhos de Israel proferem contra mim”(Nm 14.27).

          A murmuração era uma provação a Deus:

13 Cedo, porém, se esqueceram das suas obras e não lhe aguardaram os desígnios; 14 entregaram-se à cobiça, no deserto; e tentaram a Deus na solidão. (…) 24Também desprezaram a terra aprazível e não deram crédito à sua palavra;  25 antes, murmuraram em suas tendas e não acudiram à voz do SENHOR.  26 Então, lhes jurou, de mão erguida, que os havia de arrasar no deserto;  27e também derribaria entre as nações a sua descendência e os dispersaria por outras terras. (Sl 106.13,14,24-27).

          A murmuração indica que estamos considerando os atos e obras de Deus como falhos e insuficientes.[2] Paulo exorta os coríntios ilustrando com este fato:

5 Entretanto, Deus não se agradou da maioria deles, razão por que ficaram prostrados no deserto.  6 Ora, estas coisas se tornaram exemplos para nós, a fim de que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram.  10Nem murmureis (goggu/zw), como alguns deles murmuraram e foram destruídos pelo exterminador.(1Co 10.5,6,10).

Moisés narra como dez dos espias, com os seus temores contaminaram todo o povo e foram mortos por isso:

31 Porém os homens que com ele tinham subido disseram: Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós.  32 E, diante dos filhos de Israel, infamaram a terra que haviam espiado, dizendo: A terra pelo meio da qual passamos a espiar é terra que devora os seus moradores; e todo o povo que vimos nela são homens de grande estatura.  33 Também vimos ali gigantes (os filhos de Anaque são descendentes de gigantes), e éramos, aos nossos próprios olhos, como gafanhotos e assim também o éramos aos seus olhos.  1Levantou-se, pois, toda a congregação e gritou em voz alta; e o povo chorou aquela noite.  2 Todos os filhos de Israel murmuraram contra Moisés e contra Arão; e toda a congregação lhes disse: Tomara tivéssemos morrido na terra do Egito ou mesmo neste deserto! (…) 36 Os homens que Moisés mandara a espiar a terra e que, voltando, fizeram murmurar toda a congregação contra ele, infamando a terra,  37 esses mesmos homens que infamaram a terra morreram de praga perante o SENHOR. (Nm 13.31-14.2; 36-37).

          Notemos que de todos aqueles que saíram do Egito – com mais de vinte anos –, apenas Josué e Calebe entraram na terra de Canaã; todos os outros que entraram nasceram no deserto (Nm 14.28-30).[3] 

          Curiosamente, a visão do mesmo fenômeno, acompanhada pela ótica da fé, deu a Josué e a Calebe uma perspectiva diferente. O motivo é simples; apesar das dificuldades, creram em Deus. Eles viram os gigantes, contudo, confiavam em seu Deus. Depois de espiar a terra, deram seu relatório e testemunho de fé. Não esconderam os fatos. Mas, creram no poder de Deus e em suas promessas:

6 E Josué, filho de Num, e Calebe, filho de Jefoné, dentre os que espiaram a terra, rasgaram as suas vestes  7 e falaram a toda a congregação dos filhos de Israel, dizendo: A terra pelo meio da qual passamos a espiar é terra muitíssimo boa.  8 Se o SENHOR se agradar de nós, então, nos fará entrar nessa terra e no-la dará, terra que mana leite e mel.  9 Tão-somente não sejais rebeldes contra o SENHOR e não temais o povo dessa terra, porquanto, como pão, os podemos devorar; retirou-se deles o seu amparo; o SENHOR é conosco; não os temais. (Nm 14.6-9).

          A murmuração foi uma prática comum  entre os judeus no deserto (1Co 10.10)[4] e por parte dos judeus em relação a Jesus e a seus discípulos (Lc 5.30; Jo 6.41,43, 61).[5] Esta é uma atitude comum aos ímpios (Jd 16).[6]

          A obediência não deve ser queixosa. Frequentemente tendemos a passar muito tempo nos queixando dos aparentes problemas, ao invés de olhá-los com discernimento, objetividade e fé. Devemos obedecer a Deus, sem queixumes, com a consciência de que a vontade de Deus, os seus mandamentos e preceitos são sempre o melhor para a nossa vida.

Por outro lado, a murmuração cria uma atmosfera de insatisfação cujo fim é angústia, frustração e desobediência.

Maringá, 02 de fevereiro de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]*Jo 7.12; At 6.1; Fp 2.14; 1Pe 4.9.

[2]Ver: Juan Calvino, La Majestad de Dios: In: Sermones Sobre Job, Jenison, Michigan: T.E.L.L., 1988, (Sermon nº 11), p. 136.

[3]28 Dize-lhes: Por minha vida, diz o SENHOR, que, como falastes aos meus ouvidos, assim farei a vós outros.  29 Neste deserto, cairá o vosso cadáver, como também todos os que de vós foram contados segundo o censo, de vinte anos para cima, os que dentre vós contra mim murmurastes;  30 não entrareis na terra a respeito da qual jurei que vos faria habitar nela, salvo Calebe, filho de Jefoné, e Josué, filho de Num” (Nm 14.28-30).

[4] “Nem murmureis (goggu/zw), como alguns deles murmuraram e foram destruídos pelo exterminador” (1Co 10.10).

[5]“Os fariseus e seus escribas murmuravam (goggu/zw) contra os discípulos de Jesus, perguntando: Por que comeis e bebeis com os publicanos e pecadores?” (Lc 5.30). 41Murmuravam (goggu/zw) , pois, dele os judeus, porque dissera: Eu sou o pão que desceu do céu (…) 43 Respondeu-lhes Jesus: Não murmureis (goggu/zw) entre vós” (Jo 6.41,43). “Mas Jesus, sabendo por si mesmo que eles murmuravam (goggu/zw) a respeito de suas palavras, interpelou-os: Isto vos escandaliza?” (Jo 6.61).

[6]“Os tais são murmuradores (*goggusth/j), são descontentes, andando segundo as suas paixões. A sua boca vive propalando grandes arrogâncias; são aduladores dos outros, por motivos interesseiros” (Jd 16).

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