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A Pessoa e Obra do Espírito Santo (348) - Hermisten Maia

A Pessoa e Obra do Espírito Santo (348)

6.4.8.3. O Que a unidade não é

6.4.8.3.1. Unidade não é simplesmente companheirismo social

Igreja não é um grupo social que se reúne para lazer, diversão ou preservação da vida.[1]  Na realidade, no que concerne à relação cristã há um elemento vital que transcende a todas as outras relações humanas comuns. Somos chamados por Deus à comunhão de Seu Filho, que é o nosso Senhor: “Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1Co 1.9). Sem esta compreensão, não há genuína unidade cristã.

6.4.8.3.2. Unidade não é uniformidade de organização

A Igreja não precisa, necessariamente, manter em todos os tempos e lugares a mesma forma de organização. Sem dúvida, a organização é muito importante, todavia, ela deve estar a serviço do Evangelho com vistas ao estabelecimento da comunhão cristã (Veja-se: At 6.1-7).

E mais. Aqueles que têm insistido em uma unidade organizacional, leia-se: sob à condução do papa, tem primado por uma unidade superficial, sem atentar para o fato de que a unidade externa não significa de modo algum uma unidade teológica. A unidade organizacional, sendo possível, deve ser precedida essencialmente por uma unidade espiritual e doutrinária.[2] No entanto, essa ênfase de uma organização visível é essencial no sistema católico romano, devido à sua teologia que tem na figura do papa, o elemento catalizador e central dessa unidade.[3]Sacrificar a doutrina em prol de uma unidade externa superficial com vistas à constituição de uma “mega” igreja ou denominação em termos numéricos, não é uma atitude biblicamente honesta e, portanto, não aceitável.

Unidade organizacional não significa unidade espiritual. E, ainda que assim fosse, não significaria, necessariamente, unidade bíblica, conforme ensinada na Escritura.

6.4.8.3.3. Unidade não é uniformidade de vida

Veith diz com propriedade que “a unidade bíblica não é nenhuma uniformidade monótona, como também, não é o nada das religiões orientais, que erradicam a individualidade e a singularidade, e também não é um burocrático denominador comum inferior”.[4]

De fato, a experiência comum dos crentes, é a transformação de sua vida pelo Espírito. Contudo, isto não implica que tenhamos uma vida “uniformizada”. Deus transforma a nossa personalidade,[5]  todavia não nos coloca dentro de uma forma. Deus transformou Jacó em Israel, Simão em Pedro, Saulo em Paulo, mas não converteu Pedro em Paulo, nem Jacó em Pedro.

Lewis (1898-1963) coloca a questão nestes termos:

Se você não entregar o seu “eu”, você não será um verdadeiro “eu”. A uniformidade se encontra muito mais entre os homens “naturais” do que entre aqueles que se renderam a Cristo. Como foram monotonamente parecidos todos os grandes tiranos e conquistadores! Como são gloriosamente diferentes os santos![6]

Nós somos livres em Cristo para fazer a sua vontade, dentro das características próprias que ele mesmo nos concedeu. Passamos agora a ter uma personalidade governada pelo Espírito.

Como disse Lloyd-Jones:

Quando você se torna cristão, não perde a sua personalidade, num sentido fundamental, mas você não é mais governado pela sua personalidade; a sua personalidade é governada pelo Espírito Santo, e assim, por meio da sua personalidade, as diversas graças, o fruto do Espírito, começam a mostrar-se.[7]

Maringá, 15 de novembro de 2021

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Quanto ao conceito de que a organização social visa preservar o indivíduo dele mesmo, Vejam-se: T. Hobbes, Leviatã,São Paulo: Abril Cultural (Os Pensadores, v. 14), 1974, I.13; p. 79; J. Locke, Segundo Tratado Sobre o Governo ,São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, v. 18), 1973, III.16ss. p. 46ss; IX. 124ss., p. 88ss. e J.J. Rousseau, O Contrato Social,3. ed. São Paulo: Cultrix, 1975, III.9. p. 88.

[2]Veja-se: Phil Johnson, Não estamos divididos: In: John MacArthur, et. al. Avante, Soldados de Cristo: uma reafirmação bíblica da Igreja, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 143-155.

[3]“O Papa é o centro de unidade na teoria romana da igreja; por sua autoridade universal e suprema amarrando numa corporação visível todos os membros da Igreja Cristã, e reduzindo a certa uniformidade exterior de fé, e culto, e ordem, todas as partes da sociedade eclesiástica” (James Bannerman, A Igreja de Cristo: Um tratado sobre a natureza, poderes, ordenanças, disciplina e governo da igreja cristã, (v. 1 e 2), Recife, PE.: Editora Os Puritanos, 2014, p. 708).

[4] Gene Edward Veith, Jr., De Todo o Teu Entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 96.

[5]Veja-se: Jay A. Adams, Conselheiro Capaz,São Paulo: Fiel, 1977, p. 37ss; 84ss. C.S. Lewis, observou que: “Só ganharemos a nossa verdadeira personalidade quando consentirmos em que Deus nos coloque no lugar que nos compete.          Somos mármore esperando ser esculpido, metal esperando ser vertido no molde” (C.S. Lewis, Peso de Glória, 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 1993, p. 46).

[6]C.S. Lewis, A essência do Cristianismo autêntico, São Paulo: ABU Editora, 1979, p. 128.

[7]D.M. Lloyd-Jones, A Unidade Cristã,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1994, p. 60.

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