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A Pessoa e Obra do Espírito Santo (299) - Hermisten Maia

A Pessoa e Obra do Espírito Santo (299)

2) Positivamente considerando (Continuação)

  • 9) Cordato: (e)pieikh/j)[1] 1Tm 3.3. Significa “o que é correto ou conveniente”, “o que é útil”, daí a ideia de “equitativo”, “moderado”, “razoável”, “amável”. Ela pode ser traduzida por “clemência”, “gentileza”, “graciosidade”, “complacência”, “autocontrole”, “cortesia”, “mansidão”, “amabilidade”, “tolerância”. O fato é que nenhuma destas palavras traduz perfeitamente (*Fp 4.5; Tt 3.2; Tg 3.17 “indulgente”; 1Pe 2.18). Atencioso, amável.

          Esta característica é uma das marcas da sabedoria concedida por Deus (Tg 3.17).[2] A sabedoria celestial se revela de modo cordato. Ela não é usada para enganar, humilhar, promover disputas, ciúmes e contendas, antes é pacífica, sábia na arte de promover a paz compreendendo com misericórdia os nossos irmãos.          Essa palavra quando aplicada à autoridade constituída, denota equidade, magnanimidade. Na literatura clássica este termo era empregado para representar, escreve Bruder,

O caráter daqueles que têm mente nobre, do sábio que permanece meigo diante dos insultos, do juiz que é clemente no julgamento, e do rei que é bondoso no seu reino. Desta forma, aparecem frequentemente em retratos do soberano ideal, e em elogios acerca de homens de alta posição.[3]

          É a palavra que reconhece que há ocasiões nas quais a aplicação pura e simples da lei seria injusta; feriria o próprio princípio da lei. Por isso, a necessidade de gentileza, cortesia, clemência.[4] Os gregos diziam que “a epieikeia devia ter lugar naqueles casos em que a estrita justiça se tornava injustiça por sua generalização”, explica Barclay (1907-1978).[5]  À frente: “Epieikeia é a qualidade do homem que sabe que as leis e prescrições não são a última palavra; do homem que sabe quando não se deve aplicar a letra da Lei”.[6] Aquele que tem a consciência de que legalidade não é necessariamente sinônimo de legitimidade. O que está certo do ponto de vista legal pode estar equivocado do ponto de vista moral.[7]

          Jesus Cristo é o modelo de benignidade. Isto era tão notório, que Paulo podia rogar amparado nesta manifestação do caráter do Senhor: “E eu mesmo, Paulo, vos rogo, pela mansidão e benignidade (E)piei/keia) de Cristo, eu que, na verdade, quando presente entre vós, sou humilde; mas, quando ausente, ousado para convosco” (2Co 10.1).

          Um desafio para nós é ser firme, porém, cordial. Saber ceder, abrir mão de nossos interesses, ainda que justos,  por um bem maior. Porém, jamais negociar a verdade do Evangelho.

          Este espírito deve caracterizar o nosso ensino e evangelização. Não devemos ser agressivos com aqueles que resistem ao Evangelho. Precisamos apresentar a mensagem com brandura e paciência, nos revestindo do espírito de Cristo.[8]

          10) Governe bem a sua própria casa (1Tm 3.4-5): A palavra para governar é proi/sthmi, que significa também, “administrar”, “reger”, “liderar”, “presidir”.[9]  O termo era empregado no grego clássico no sentido de “proteger”, “guardar” e ajudar” (Eurípides, Demóstenes, Políbio). O presbítero deve ser exemplar na condução e cuidado de sua família. (Tratarei com mais detalhes este assunto quando estudarmos sobre as qualificações dos diáconos).

Maringá, 19 de setembro de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Ver: Richard C. Trench, Synonyms of the New Testament,London: Macmillan and Co., 1871, § 43, p. 145-148; William Barclay, Palavras Chaves do Novo Testamento,São Paulo: Vida Nova, 1988 (reimpressão), p. 64-65; W. Bauder, Humildade: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 2, p. 383-386.

[2] “A sabedoria, porém, lá do alto é, primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente (E)pieikh/j), tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento” (Tg 3.17).

[3]W. Bauder, Humildade: In: Colin Brown, ed. ger., O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, v. 2, p. 383.

[4]Cf. William Barclay, Palavras Chaves do Novo Testamento,p. 65.

[5]William Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, Buenos Aires: La Aurora, 1973, v. 11, (Fp. 4.4-5), p. 85.

[6]William Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, v. 11, (Fp. 4.4-5), p. 85-86.

[7]Ver: Richard C. Trench, Synonyms of the New Testament, London: Macmillan and Co., 1871, § 43, p. 146.

[8]Veja-se: João Calvino, Sermões sobre Tito,  Brasília, DF.: Monergismo,  2019, (Tt 2.15-3.2), p. 219-220. (Edição do Kindle). 

[9] *Rm 12.8; 1Ts 5.12; 1Tm 3.4,5,12; 5.17;Tt 3.8,14.

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