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A Pessoa e Obra do Espírito Santo (293) - Hermisten Maia

A Pessoa e Obra do Espírito Santo (293)

2) Positivamente considerando (Continuação)

8) Apto para ensinar: (didaktiko/j) 1Tm 3.2/2Tm 2.24; Tt 1.9. “Hábil para ensinar”, “tenha didática”. (*2Tm 2.24). Aqui temos uma habilidade que distingue o presbítero do diácono.[1] Não se exige necessariamente do presbítero regente um profundo conhecimento de teologia. No entanto, ele deve estar habilitado a sustentar as principais doutrinas bíblicas;[2] tenha conhecimento da Palavra e seja hábil para transmitir o ensino visando à edificação do povo de Deus.

          Uma possível armadilha pode ocorrer com um consagrado membro da igreja que gosta e tem habilidade para ensinar e, por isso, os irmãos começam a vê-lo como chamado para o ministério da Palavra (Presbítero docente). 

Precipitação aqui pode gerar muita frustração. Descobrir que não somos chamados não significa uma diminuição de nossa fé, mas, sem dúvida, uma quebra de expectativas acalentadas com muita intensidade, perda de tempo e investimentos que podem nos deixar amargurados, envergonhados  e sem direção.

          Aptidão para o ensino é uma qualificação para o presbiterato (regente e docente). Contudo, esta habilidade, por si só, não se constitui em indicativo suficiente de que alguém foi chamado por Deus para o ministério da Palavra.

          Há ateus que são bons professores. Há também “teólogos” que não creem nas Escrituras e mesmo assim falam com muita habilidade sobre as “doutrinas” bíblicas.

A Igreja necessita de pastores vocacionados e bem-preparados. Exorta Calvino:

Ora, como é possível que os pastores ensinem a outrem se eles mesmos não forem capazes de aprender? E se um homem tão excelente é admoestado a estudar a fim de progredir diariamente, não seria maior a nossa necessidade em atender a tal conselho? Ai da indolência dos que não examinam atentamente os oráculos do Espírito, dia e noite, com o fim de aprender neles como desempenhar seu ofício.[3]
Esta é a principal coisa que se exige dos ministros da Palavra. Não só que sejam bem instruídos a fim de que possam ensinar a outros, mas também que sejam firmes e constantes em seu fundamento, para lutar quando a verdadeira doutrina tiver de ser defendida, de modo que permaneça intocada. Eis por que a palavra que Paulo usa significa tanto “reter” quanto “abraçar”. Por isso, devemos ver que nosso ensino seja verdadeiro. Se estivermos fortemente apegados a ela, ela jamais se desvencilhará de nós. Por mais que o diabo faça seu melhor empenho para afastá-la de nosso alcance, jamais nos separaremos dela. Paulo ainda explica seu uso.[4]

Em carta ao Rei Eduardo VI da Inglaterra (janeiro de 1551), na qual ele o instrui quanto ao uso devido das bolsas acadêmicas nas universidades, Calvino afirma que “uma vez que as escolas contêm as sementes do ministério, é extremamente necessário conservá-las puras e totalmente livres de toda espécie de erva daninha”. À frente diz que as escolas devem ser pilares do Evangelho.[5]

Os Seminários de uma igreja devem ser cuidados com grande apreço,[6] considerando o nível acadêmico  de seus professores, espiritualidade demonstrada ao longo de seu ministério, fidelidade bíblica e confessional.  De igual forma, antes de uma candidato ser enviado ao Seminário deve passar por exames minuciosos que envolvam a sua saúde física, mental e a sua experiência cristã revelada, inclusive em seus estudos anteriores, relacionamento com seus pais e na igreja.

O Seminário mal orientado decreta ao longo dos anos o enfraquecimento de uma denominação. O título acadêmico não credencia ninguém por si só para o ministério docente em nossos Seminários. Por outro lado, a piedade, de forma solitária, também não. Essas características usadas de forma excludentes das outras sempre trazem malefícios.

A observação de Sproul é correta tanto para a edificação como para a desintegração de uma denominação: “Se você quer uma reforma, você deve olhar seriamente ao que os seminários estão ensinando”.[7]

Maringá, 17 de setembro de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Cf. John MacArthur, 1 e 2 Timóteo – Estudos bíblicos de John MacArthur, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 39. Hodge  (1797-1878) comentando Rm 12.7, escreve: “Os diáconos (…) deveriam atender aos pobres e doentes e não tentar exercer o ofício de mestres” (Charles Hodge, Romanos,  São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2019, (Rm 12.7), p. 408).

[2]Ver: Samuel Miller, O Presbítero Regente: Natureza, Deveres e Qualificações, p. 42-43.

[3]João Calvino, As Pastorais,São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 4.13), p. 123. “A erudição associada à piedade e aos demais dotes do bom pastor lhe sejam uma preparação. Ora, aqueles que o Senhor destinou a tão grande ofício os equipa antes com essas armas que são requeridas para desempenhá-lo, de sorte que não venham a ele vazios e despreparados” (João Calvino, As Institutas, 2016, IV.3.11).

[4]João Calvino, Sermões sobre Tito,  Brasília, DF.: Monergismo,  2019, (Tt 1.7-9), p. 78. (Edição do Kindle).

[5]João Calvino, Cartas de João Calvino, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p.  88,89.

[6] Recorrendo à gramática, vemos que  o nosso termo Seminário, utilizado desde o século XVI, provém do latim seminarium, “viveiro de plantas”, estando associado a seminarius, “que serve para plantar”;  “Seminal,  “sementeira”, “semeadura” e, por fim à  Semem, “semente”Semem, por sua vez, é a tradução do grego Spe/rma, que significa, ”semente”, “descendência”, “posteridade” (Mt 13.24,27,32,37,38; 22.24).  Assim, o Seminário é uma “semeadura” onde se semeia a “boa semente” (kalo\n spe/rma). (Mt 13.24).

Há uma figura aplicada à palavra seminário que bem pode ilustrar o nosso conceito: “Viveiro de plantas; espaço em que se semeiam as plantas e donde se transportam, depois de certo crescimento, para o terreno próprio em que hão  de desenvolver” (Seminário: In: António da Costa Leão, et. al. (dir.),Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Lisboa:  Editorial Enciclopédia, Limitada, 1960, v. 28,  p. 234b).

Como sabemos, a Palavra de Deus é a semente por meio da qual Deus gera espiritualmente novas criaturas, constituído, assim, a sua igreja. (1Pe 1.23/Tg 1.18). Deste modo, podemos pensar em Seminário como a instituição de ensino que semeia a Palavra, formando pastores para que, nutridos pela Palavra, alimentem as suas ovelhas com a semente do Evangelho. Aliás, pastor no Novo Testamento, poimh/n, é aquele que  alimenta, apascenta, conduz e protege (poimai/nw) (*Mt 2.6; Lc 17.7; Jo 21.16; At 20.28; 1Co 9.7; 1Pe 5.2, Jd 12; Ap 2.27; 7.17; 12.5; 19.15) o rebanho (poi/mnh e poi/mnion). Tratando de modo mais específico do ofício de pastor, Paulo fala aos presbíteros de Éfeso: “Atendei por vós e por todo o rebanho (poi/mnion) sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes (poimai/nw) a igreja de Deus, a qual Ele comprou com o seu próprio sangue” (At 20.28).

[7]R.C. Sproul, O Pregador Mestre: In: R. Albert Mohler, Jr., et. al. Apascenta o meu rebanho: um apaixonado apelo em favor da pregação, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 93.

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