A Pessoa e Obra do Espírito Santo (265)
6.4.5. A Igreja de Cristo: A rocha inabalável
No capítulo primeiro de Efésios, o apóstolo Paulo descreve de forma doxológica aspectos dos grandes feitos de Deus de eternidade à eternidade, tendo como ponto fundamental a sua graça abençoadora que nos elege, redime, adota e sela (Ef 1.3-14). A manifestação da soberania de Deus culmina na ressurreição de Cristo, tornando público o seu poder e a glória do Filho acima de todos os poderes.
Demonstra então, que todas as criaturas estão subordinadas ao Filho por meio de quem todas as coisas foram criadas e são preservadas:
19E qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder; 20 o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais, 21acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro. (Ef 1.19-21).
Neste contexto, de modo surpreendente, Paulo introduz a Igreja, dizendo: “22E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, 23a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas” (Ef 1.22-23).
Toda esta oração tem em vista a Igreja, o povo escolhido de Deus, o Corpo de Cristo. Ele deseja que a igreja tenha consciência dos altos privilégios dos quais ela é destinatária pela obra grandiosa de Cristo.
Analisemos preliminarmente alguns aspectos bíblicos da Igreja de Deus:
6.4.5.1. Está fundamentada em Cristo
Os papistas (…) agem de forma ridícula quando o põem em lugar de Cristo como o fundamento da Igreja, como se ele, também, não estivesse fundamentando em Cristo, como os demais. − João Calvino.[1]
Após a confissão de Pedro de que Jesus é o Cristo (Mt 16.16), o Senhor então lhe diz: “Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja”(Mt 16.18).
O nome Pedro (pe/troj) significa “pedaço de rocha” (quebrado), “pedra”; “um pequeno deslocamento do maciço rochoso”. Entretanto, Jesus disse que sobre esta pedra (pe/tra), rocha, rochedo, “cadeia de montanhas rochosa”. Ele edificaria a Sua igreja.
Apesar de haver esta distinção nas palavras utilizadas, é necessário que se diga que na literatura clássica, a diferença entre os termos não é tão nítida, sendo as palavras usadas, por vezes, indistintamente.[2]
Todavia, comparando este texto com outros das Escrituras, podemos entender que aqui a pedra se refere a Cristo ou, como é muito comumente interpretado, à profissão de fé de Pedro como Jesus sendo o Cristo. Nesse caso, a afirmação é de que a Igreja é edificada sobre esta confissão fundamental.
Na parábola dos “lavradores maus”, Jesus cita o Salmo 118.22: “A pedra (li/qoj) que os construtores rejeitaram, esta veio a ser a principal pedra, angular” (Lc 20.17). Aqui o Senhor demonstra que Ele, somente Ele é o fundamento inabalável da Igreja. Os escribas e sacerdotes, mesmo não concordando com a interpretação, entenderam corretamente que Jesus referia-se a eles e a si mesmo (Lc 20.19).[3]
Sem Cristo não há igreja. Em outras palavras: Igreja sem Cristo é uma contradição não meramente de palavras, mas, de essência. A esfera lógica, nesse caso, seria adequadamente uma expressão perfeita da realidade essencial. Somente a igreja é constituída pelo povo chamado, reunido e congregado por Cristo para viver nele e para Ele.
Paulo assim se expressa combatendo o pueril sectarismo coríntio: “Porque ninguém pode lançar outro fundamento (qeme/lioj), além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo” (1Co 3.11/Rm 15.10).
O apóstolo referindo-se aos judeus, vale-se de figura semelhante: “E beberam da mesma fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra (pe/tra) espiritual que os seguia. E a pedra (pe/tra) era Cristo” (1Co 10.4).
Novamente, o apóstolo afirma que todos estamos edificados em Cristo, a pedra angular: “20edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular (a)krogwniai=oj);[4] 21no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor” (Ef 2.20-21).
Portanto, o fundamento da Igreja não é o homem com as suas fraquezas e pecado, nem a sua vacilante confissão de fé; mas sim, o próprio Cristo, como rocha eterna e inabalável.
Maringá, 16 de agosto de 2021.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1] João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 1.42), p. 78.
[2] Cf. W. Mundle; C. Brown, Pedra: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 3, p. 495,500.
[3] “Naquela mesma hora, os escribas e os principais sacerdotes procuravam lançar-lhe as mãos, pois perceberam que, em referência a eles, dissera esta parábola; mas temiam o povo” (Lc 20.19).
[4] Is 28.16; 1Pe 2.6.