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A Pessoa e Obra do Espírito Santo (248) - Hermisten Maia

A Pessoa e Obra do Espírito Santo (248)

6.3.10.1. Uma bendita convicção (Continuação)

Deus nos chama fazendo com que o seu gracioso e eterno propósito passe a fazer parte da experiência do regenerado:

Nele [Jesus Cristo], digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados (proori/zw) segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade. (Ef 1.11).
Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou (proori/zw) para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou (proori/zw) esses também chamou (kale/w) e aos que chamou (kale/w), a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou. (Rm 8.29-30).

Esta ordem divina é eficaz porque Deus opera eficazmente em nossa mente e coração. Deus age na história conforme o seu decreto. Ele nos chama e adota como filhos benditos e herdeiros da Aliança! Aqui a Palavra de Deus é definitivamente colocada e sedimentada em nosso coração.

          A vocação de Deus permanece e nos sustenta até o fim (Fp 1.6).[1] Este chamado é para a glória eterna do seu reino:

Devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu (ai(re/omai) desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade, para o que também vos chamou (kale/w) mediante o nosso evangelho, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo. (2Ts 2.13-14).
O Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou (kale/w) à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar. (1Pe 5.10). (Ver: 1Ts 2.12).

          A mesma graça que nos elege e chama, nos confirma. Deus nos chama para a sua glória. Não há nada maior do que isso, nem aqui, nem na eternidade. A nossa salvação não é o fim último. Ela é o meio: somos destinados desde a eternidade à glória de Deus. Como filhos, glorificaremos ao Senhor por toda a eternidade.[2]

          Considerando que foi Deus mesmo quem nos chamou (vocacionou) (Fp 3.14; 2Tm 1.9; Hb 3.1; 2Pe 1.10), devemos instar com nossos irmãos e, interceder junto ao Senhor para que Ele torne nossos irmãos dignos dessa vocação. Este foi o procedimento de Paulo:

Rogo-vos (parakale/w),[3] pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno (a)cio/w)[4] da vocação (klh=sij) a que fostes chamados. (Ef 4.1).
Não cessamos de orar por vós, para que o nosso Deus vos torne dignos (a)cio/w) da sua vocação (klh=sij)e cumpra com poder todo propósito de bondade e obra de fé. (2Ts 1.11).

          Alegremo-nos na doce, graciosa e gloriosa condição de filhos de Deus. O Pai nos chamou a este privilégio: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados (kale/w) filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus” (1Jo 3.1).[5]

          Esta convicção não se respalda na força de nossa fé que “segura na mão de Deus”, antes, na graça preservadora de Deus que se caracteriza pelo fato de Deus mesmo, “segurar a nossa mão”, preservando-nos com o Sseu poder até a consumação de sua obra em nós. Sem dúvida, se dependesse de nós mesmos, de nossas mãos frágeis, cairíamos fatalmente da graça.  A salvação foi concebida, executada e garantida totalmente pelo trabalho da bendita Trindade.

          Comentando Jo 10.27-29, Hoekema (1913-1988) conclui:

A segurança dos crentes não depende da firmeza com que seguram em Cristo, mas da firmeza com que Cristo os segura. (…) A mão do Filho e a mão do Pai agarram a fraca e frágil mão do crente, seguram-na tão estreitamente que ninguém será capaz de subtrair o crente do duplo aperto das mãos de Deus.[6]

          Sabemos de nossa fragilidade. Não nos acomodamos no pecado. Contudo, temos ciência de nossas limitações. Não tenhamos ilusões quanto a isso. Por issoAssim, a nossa fé repousa no poder soberano do Deus que nos guarda (Jd 24).[7]

          O Hino, Amparo Divino,[8] expressa bem esta convicção que permeia o tempo e nos conduz em segurança à eternidade:

Com tua mão segura bem a minha,
Pois eu tão frágil sou, ó Salvador,
Que não me atrevo a dar jamais um passo
Sem teu amparo, Cristo, meu Senhor!

Com tua mão segura bem a minha,
E meu caminho, alegre, seguirei!
Mesmo onde as sombras caem mais escuras,
Teu rosto vendo, nada temerei.

E no momento de transpor o rio
Que Tu, por mim, vieste atravessar,
Com tua mão segura bem a minha,
E sobre a morte eu hei de triunfar.

Quando voltares lá dos céus descendo,
Segura bem a minha mão, Senhor!
E, meu Jesus, conduze-me contigo
Para onde eu goze teu eterno amor. Amém.

          A Confissão de Westminster resume:

Os que Deus aceitou em seu Bem-amado, os que ele chamou eficazmente e santificou pelo seu Espírito, não podem decair do estado da graça, nem total, nem finalmente; mas, com toda a certeza hão de perseverar nesse estado até o fim e serão eternamente salvos”.
Esta perseverança dos santos não depende do livre arbítrio deles, mas da imutabilidade do decreto da eleição, procedente do livre e imutável amor de Deus Pai, da eficácia do mérito e intercessão de Jesus Cristo, da permanência do Espírito e da semente de Deus neles e da natureza do pacto da graça; de todas estas coisas vêm a sua certeza e infalibilidade” (XVII.1-2).

Maringá, 26 de julho de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Veja-se: C.H. Spurgeon, Sermões Sobre a Salvação, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1992, p. 20.

[2]Veja-se: J. Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (Tt 1.2), p. 301.

[3] O verbo tem o sentido de: implorar (Mt 8.5; 18.29), suplicar (Mt 18.32); exortar (Lc 3.18; At 2.40; 11.23); conciliar (Lc 15.28); consolar (Lc 16.25; 15.32; 1Ts 5.11; 2Ts 2.17); confortar (At 16.40; 2Co 1.4; 7.6); contemplar (2Co 1.4); convidar (At 8.31); pedir (At 9.38; 1Co 4.13; 16.15); pedir desculpas (At 16.39); fortalecer (At 20.2,12); solicitar (At 25.2; Fm 9,10); chamar (At 28.20); admoestar (1Co 4.16; Hb 10.25); recomendar (1Co 16.12; 2Co 8.6; 9.5; 1Tm 6.2).

            O apelo de Paulo era frequentemente fundamentado numa questão teológica; não se amparava simplesmente em sua idoneidade ou autoridade, antes em Deus mesmo. Assim ele o faz pelas misericórdias de Deus (Rm 12.11Ts 2.12) e pelo Senhor Jesus (Rm 15.30; 1Co 1.10; Fp 4.2). Como cooperador de Deus exorta a que os coríntios não recebam em vão a graça de Deus (2Co 6.1); roga também pela mansidão e benignidade de Cristo (2Co 10.1).

[4] Este advérbio tem o sentido primário de “contrabalança”, aquilo que é de “igual valor”, “equivalente”. A ideia da palavra é a de estabelecer uma relação de compatibilidade e equilíbrio.

[5] Veja-se: John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, 2. ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2010, p. 83.

[6] Anthony Hoekema, Salvos pela Graça, São Paulo: Cultura Cristã, 1997, p. 246.

[7] Vejam-se: Anthony Hoekema, Salvos pela Graça, São Paulo: Cultura Cristã, 1997, p. 241-242; Michael Horton, Doutrinas da fé cristã, São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 716ss.

[8]A letra utilizada foi extraída do Hinário Presbiteriano Novo Cântico, Hino nº 153.  Letra original em inglês de Fanny Jane Crosby (1820-1915) (1879) e música de Hubert P. Main (1839-1925) (1880). Tradução de Henry Maxwell Wright (1849-1931) (1910).

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