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A Pessoa e Obra do Espírito Santo (226) - Hermisten Maia

A Pessoa e Obra do Espírito Santo (226)

7. “Sede santos!”: vocação à santidade e a responsabilidade do crente

A obra do Espírito é nos regenerar; mas o nosso chamado é para produzir em nossa vida os frutos da regeneração. No contexto da aliança da graça que Deus estabelece com seu povo, precisa nos tornar conformes à imagem de Cristo. – Joel R. Beeke; Mark Jones.[1]

Santidade é sempre a resposta de gratidão a Deus, do pecador salvo, pela graça recebida. – J.I. Packer.[2]

                                                                               Conforme temos insistido, a justificação é uma pré-condição para a santificação. A justificação meritória, fundamenta-se exclusivamente nos méritos de Cristo. Vimos também que ambos os aspectos de nossa salvação ocorrem juntos, no sentido de que a justificação é um ato de Deus  por meio do qual nos declara justos em Cristo Jesus.[3] A santificação é uma ação graciosa e contínua de Deus em nossa vida nos conduzindo à conformidade da  imagem de seu Filho, Jesus Cristo.

          Um grave problema que gostaria de mencionar rapidamente aqui, é a confusão que pode ser feita resultante da inversão dessa ordem. Nesse caso a pessoa  consideraria que a santificação os conduziria à justificação. Ou seja, a nossa suposta atitude de obediência e boas ações, nos levaria a sermos aceitos por Deus, sendo, portanto, justificados. Na realidade nada que podemos fazer por nós mesmos pode ser aceito pelo Deus santo que não tolera o mal. Somente pela fé em Cristo e nos  seus merecimentos, poderemos nos tornar agradáveis a Deus.

          Todo o nosso pensar, sentir e agir, estão contaminados em maior ou menor grau pelo pecado. As nossas melhores obras estão assim manchadas e poluídas. Por isso, a ordem destes aspectos magníficos da vida cristã jamais podem ser separados sem perdermos a dimensão da soberana graça de Deus em Cristo. Portanto, não há espaço nem para a separação entre a justificação e a santificação, nem inversão. Dito isso, continuemos em nossa exposição.

          Conforme o seu plano eterno Deus nos chamou eficazmente por meio do Espírito Santo. Esta vocação envolve necessariamente o propósito de santidade que deve guiar a nossa vida: “Porquanto Deus não nos chamou (kale/w) para a impureza, e sim para a santificação” (1Ts 4.7).

Em outras, palavras, somos chamados a seguir os passos de Jesus: “Porquanto para isto mesmo fostes chamados (kale/w), pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos” (1Pe 2.21/Hb 3.1).[4]

          Desse modo, a busca por uma vida santa é um aspecto da resposta da igreja ao gracioso chamado divino (2Pe 1.10).

Vocação e perseverança em santidade

          A eficácia da vocação divina não é uma coisa abstrata, uma teoria para ser discutida apenas em alguns momentos, quem sabe, de uma aula na academia ou em uma reunião social, antes, evidencia-se na vida de um pecador transformado.

Creio que Spurgeon (1834-1892) está correto ao afirmar: “Quando a vida de um pecador é transformada, sabemos que Deus o chamou eficazmente (…). Não podemos saber se um chamado de Deus foi eficaz até que a vida de um homem tenha mudado”.[5]

A transformação não pode ser presumida por um suposto chamado. No entanto, a transformação de nossa vida é uma evidência do chamado eficaz e frutuoso de Deus.

Esta ordem divina é eficaz porque Deus opera eficazmente em nossa mente e coração. Deus age na história conforme o seu decreto. Ele nos chama e adota como filhos benditos e herdeiros da Aliança! Aqui a Palavra de Deus é definitivamente colocada e sedimentada em nosso coração.

          A doutrina da perseverança dos santos, inclui em sua essência, a perseverança em santidade, não uma justificativa acomodatícia à prática e permanência no pecado.[6] A graça de Deus que nos chama, nos acompanha até à consumação de sua obra em nós, nos conduzindo à glorificação perfeita em Cristo. O próprio Filho, senhor da glória (1Co 2.8), é quem nos conduzirá ao Pai (1Pe 3.18).[7]

Maringá, 01 de julho de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Joel R. Beeke; Mark Jones orgs. Teologia Puritana: Doutrina para a vida, São Paulo: Vida Nova, 2016, p. 757.

[2] J.I. Packer, A Redescoberta da santidade,  2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2018, p. 19.

[3] Watson (c. 1620-1686) disse que “A justificação é uma misericórdia provinda das entranhas da livre graça. Deus não nos justifica porque temos valor, mas ao nos justificar nos faz de grande valor” (Thomas Watson, A Fé Cristã, estudos baseados no breve catecismo de Westminster, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 264).

[4] “Por isso, santos irmãos, que participais da vocação (klh=sij) celestial, considerai atentamente o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão, Jesus” (Hb 3.1).

[5]C.H. Spurgeon, Sermões Sobre a Salvação, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1992, p. 21.

[6]“É totalmente errado afirmar que o crente está seguro, independentemente de sua vida posterior de pecado e infidelidade. A verdade é que a fé em Jesus Cristo está sempre atrelada à vida de santidade e fidelidade. Sendo assim, não é apropriado pensar a respeito de um crente independentemente dos frutos na fé e na santidade. Dizer que o crente está seguro, qualquer que seja a extensão de seu hábito de pecado em sua vida subsequente, é abstrair a fé em Cristo de sua definição mais exata e ensinar o tipo de abuso que torna a graça de Deus em lascívia. A doutrina da perseverança é a doutrina daqueles crentes que perseveram (…). A Perseverança dos santos faz lembrar forçosamente que somente aqueles que perseveram até o fim são verdadeiramente santos, mas a conquista do prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo não é automática. Perseverança significa o engajamento de nossa pessoa na devoção mais intensa e concentrada aos meios ordenados por Deus para a realização de seu propósito de salvação. A doutrina escriturística da perseverança não tem nenhuma afinidade com o quietismo e o antinomismo prevalecentes nos círculos evangélicos” (John Murray, Redenção: consumada e aplicada, 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 138-139).

[7] “Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito”  (1Pe 3.18).

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