A Pessoa e Obra do Espírito Santo (215)
2. O poder de Deus em nossa santificação (Continuação)
3) O Espírito Santo
A Bíblia atribui mais especificamente a nossa santificação ao Espírito Santo. Ele nos regenera e renova (Jo 3.3,5; Tt 3.5), guiando-nos a fazer a vontade de Deus (Rm 8.14).[1] Ele habita em nós testificando que somos filhos do Deus Santo (Rm 8.16),[2] capacitando-nos a desejar agradar a Deus por meio da nossa obediência.
Paulo falando aos coríntios, faz um rol de pecados que caracterizavam a vida de alguns daqueles irmãos antes de se converterem a Cristo. Então, conclui: “Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes (a)polou/w), mas fostes santificados (a(gia/zw), mas fostes justificados, em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1Co 6.11).
Aqui temos a oportunidade de ver a relação entre a obra do Filho e a do Espírito. Somos santificados no nome de Cristo, pela operação do Espírito. O Espírito aplica nos eleitos de Deus os méritos redentores de Cristo. Ele é o Espírito da graça, o comunicador da Sua graça, da graça de Deus, visto que Ele é Deus (Hb 10.29).
Deus leva a efeito o objetivo de nossa eleição, de forma especial, por meio do Espírito: “….Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação (a(giasmo/j) do Espírito e fé na verdade”(2Ts 2.13).”Eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação (a(giasmo/j) do Espírito, para obediência….” (1Pe 1.2).
O Espírito aplicou os méritos salvadores de Cristo em nosso coração e, nos preserva íntegros até o fim; até o dia da redenção (Ef 1.13-14).[3]
Nele fomos “selados para o dia da redenção” (Ef 4.30). Nesta operação, o Espírito tem como objetivo nos tornar santos conforme Ele o é, visto ser “O Espírito de Santidade”(Rm 1.4); o Espírito Santo. “O Espírito Santo é o espírito da santidade e produz santidade dentro de nós”, comenta Grudem.[4]
Creio também, que deve estar claro, que todos nós somos responsáveis por nossa santificação, no sentido de usarmos os meios concedidos por Deus para este fim.[5] Esta é parte do assunto que desenvolveremos abaixo.
A fé graciosa que nos faz crer, enxergando a maravilha da boa nova do Evangelho em nossa vida, tratando definitivamente de nosso pecado, perdão e reconciliação, também nos conduz a uma transformação espiritual. A fé que pela graça crê é também a fé que por graça, nos faz obedecer. Crê e obedecer são expressões da graça que opera poderosamente em nós. A obediência é a fé manifesta.
Ryle (1816-1900) coloca a questão de forma contundente:
A fé que não envolve uma influência santificadora sobre o caráter da pessoa não é melhor que a fé dos demônios. Antes, é uma ‘fé morta, por estar sozinha’. Não é o dom de Deus. Não é a fé dos eleitos de Deus. Em suma, onde não há a santificação da vida, não há fé real em Cristo. A verdadeira fé opera através do amor. Ela constrange o homem a viver para o Senhor, movido por profundo senso de gratidão pela redenção recebida.[6]
É fundamental que entendamos que a santificação não é algo separado de nossa regeneração. Não há um hiato na vida cristã ou uma espécie de “segunda bênção”. A salvação como um todo, é operada por Deus, de eternidade a eternidade, envolvendo o nosso crescimento espiritual ou santificação. A santificação, que consiste no abandono progressivo do pecado em direção a Deus, faz parte essencial da vida do cristão, daquele que foi regenerado por Deus.[7]
Maringá, 16 de junho de 2021.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1] “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm 8.14).
[2]“O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8.16).
[3]“13 Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; 14 o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (Ef 1.13-14).
[4]Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática,São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 629.
[5] John Murray acentua: “A santificação envolve a concentração do pensamento, do interesse, do coração, mente, vontade e propósito, em direção à soberana vocação de Deus em Cristo Jesus e ao desempenho da totalidade de nosso ser no uso daqueles meios que Deus instituiu com o fim de atingir essa destinação” (John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p. 166).
[6]J.C. Ryle, Santidade, São José dos Campos, SP.: FIEL, 1987,p. 40.
[7] “Nossa vida é como um soneto divinamente escrito, uma obra-prima literária. Desde a eternidade passada, Deus nos designou para sermos iguais à imagem de seu Filho (Rm 8.29). Todos nós ainda somos imperfeitos, obras de arte não concluídas, que estão sendo trabalhadas cuidadosamente pelo Mestre divino. Ele ainda não terminou sua obra em nós, e seu trabalho não cessará até que nos tenha transformado na perfeita semelhança de seu Filho (1Jo 3.2). A energia que Ele usa para realizar sua obra é a graça” (John MacArthur, O Evangelho Segundo os Apóstolos, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2011, p. 90).