A Pessoa e Obra do Espírito Santo (206)
3.3. Fruto do Espírito
Se o Espírito do Pai e do Filho (Mt10.20;Gl4.6) habita em nós, os frutos de sua presença e direção devem se evidenciar em nossa vida.
O fruto do Espírito é o grande atestado de nossa filiação divina e de nossa progressiva santificação.[1] Paulo assim descreve este fruto: “…. amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gl5.22,23/Mt5.9;1Jo3.10).
Essa é a conclusão lógica de Calvino: “Visto, então que ele nos elegeu para sermos santos e andarmos em pureza de vida, nossa eleição deve ser como uma raiz que produz frutos bons”.[2]
Jesus Cristo diz: “Bem-aventurados os pacificadores (ei)rhnopoio/j),porque serão chamados filhos (ui(oi\) de Deus” (Mt 5.9). Aqui temos uma declaração do mais alto privilégio que poderemos ter: sermos chamados filhos de Deus. Aqueles que promovem a paz se parecem com o seu Filho, Jesus Cristo, o Deus da paz (Jo 14.27; Cl 3.15). Pela graça nos parecemos com Jesus Cristo, o Filho de Deus.
Esta semelhança não é meramente incidental ou física, antes, faz parte de nossa constituição genética: nascemos de novo por obra do Espírito do Pai e do Filho (Jo 3.3,5; Tt 3.5);[3] temos o Espírito de Deus em nós (Rm 8.9) que nos guia e dá testemunho de nossa filiação (Rm 8.14,16).[4]
Portanto, é natural que nos pareçamos com Jesus Cristo, o nosso irmão mais velho, o primogênito que possibilitou e efetivou a nossa adoção e se constitui no modelo para o qual devemos caminhar conforme o propósito de Deus (Rm 8.29).[5]
Jesus Cristo é o modelo de pacificador, sendo Ele mesmo aquele que nos pacificou com Deus, nos conduziu ao Pai (2Co 5.18-19).
Os filhos de Deus por já usufruírem da paz, podem, de fato, promover a paz. A pregação do Evangelho é o primeiro e mais eficaz meio para fazê-lo. A paz genuína deverá sempre começar pela reconciliação com Deus. Esta mensagem reivindicatória de Deus é confiada exclusivamente aos filhos de Deus.
Os evangelistas, portanto, são os grandes pacificadores porque levam a mensagem, o evangelho da paz, promovem a reconciliação dos filhos rebeldes com o seu Pai Celestial.
Devemos nos esforçar por viver em paz com o nosso próximo. No entanto, o desejo pela paz nunca deve justificar atos de injustiça ou conivência com o mal. A paz verdadeira só ocorre dentro dos padrões justos, verdadeiros e santos de Deus. “Os únicos verdadeiros pacificadores no mundo são aqueles que levam as pessoas à justiça, aos padrões de Deus”, conclui MacArthur Jr.[6]
Lutero, portanto, estava certo: era impossível conscientemente negar os ensinos das Escrituras: o justo viverá pela fé!
Paulo escreve aos coríntios:
18 Ora, tudo provém de Deus que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, 19 a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação. 20 De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus. (2Co 5.18-20).
João escreve com ternura: “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é” (1Jo 3.2).
Bonhoeffer, comenta com sensibilidade: “Os pacificadores hão de carregar a cruz com seu Senhor, pois foi na cruz que se fez a paz. Estando assim envolvidos na obra pacificadora de Cristo, chamados para a obra do Filho de Deus, por isso serão chamados também eles filhos de Deus”.[7]
3.4. Obediência
Jesus Cristo diz que aqueles, e somente aqueles, que obedecem ao Pai são seus irmãos, portanto, somente eles são filhos de Deus: “Qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu irmão, irmã e mãe” (Mt12.50).
3.5. Comunhão integral
A adoção envolve uma mudança relacional com Deus e com o nosso próximo: Somos filhos de Deus e irmãos em Cristo (Hb 2.17).[8] Essa irmandade espiritual traz consigo implicações de amor e serviço.
O conceito de Igreja como família de Deus é muito forte. Paulo se refere à igreja desta forma (Ef2.19). O tratamento comum entre os crentes envolvia o reconhecimento de sua irmandade.[9]
É reveladora a forma como Paulo instruía Timóteo a respeito do tratamento que deveria conceder à igreja: “Não repreendas ao homem idoso; antes, exorta-o como a pai; aos moços, como a irmãos; 2 às mulheres idosas, como a mães; às moças, como a irmãs, com toda a pureza” (1Tm5.1-2).[10]
Os filhos de Deus têm obviamente a Deus como Pai, a Jesus Cristo como seu irmão primogênito (Rm8.29) e, também, a todos aqueles que creem em Cristo, como irmãos na fé.
Os filhos, portanto, na consciência da sua irmandade, procuram sempre a comunhão fraterna na verdade de Cristo, considerando que todos os que creem têm somente um pai: “O que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós igualmente mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo” (1Jo1.3).
Daí todo o esforço da Igreja em preservar esta unidade fraterna, que é produzida pelo Espírito, mas, que, concomitantemente, é exercitada e desenvolvida por todos nós (Ef4.3,5,6,11-16).
Maringá, 04 de junho de 2021.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1] Veja-se: R.C. Sproul, O Ministério do Espírito Santo, p. 163ss.
[2] João Calvino, Sermões em Efésios, p. 65.
[3] “Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tt 3.5).
[4] “14 Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. (…) 16 O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8.14,16).
[5]“Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8.29).
[6]John MacArthur Jr., O Caminho da Felicidade, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 154.
[7] Dietrich Bonhoeffer, Discipulado, 2. ed. São Leopoldo, RS.: Sinodal, 1984, p. 62.
[8] Veja-se: John Frame, Teologia Sistemática, São Paulo: Cultura Cristã, 2019, v. 2, p. 330.
[9] Vejam-se: Mt 12.50. Rm 1.13; 8.12; Rm 16.1; 1Co 1.11; 6.8; 7.15; Fm 1.2; Tg 1.2; 2.15.
[10] Quem me chamou a atenção para este texto foi Grudem. (Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, p. 620).