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A Pessoa e Obra do Espírito Santo (165) - Hermisten Maia

A Pessoa e Obra do Espírito Santo (165)

A imagem restaurada e o Espírito

Já tratamos da vinda de Cristo e de seu ministério no poder do Espírito. Em Cristo somos restaurados à imagem de Deus.Vamos continuar desenvolvendo este assunto por diversos ângulos associados à nossa completa salvação.

          O Espírito foi-nos outorgado uma única vez e para sempre: “O Espírito é o dom da certeza”, interpreta Bruner.[1] Paulo escreve aos Romanos: “…. O amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado”(Rm 5.5). Anos mais tarde, exorta a Timóteo: Guarda o bom depósito, mediante o Espírito Santo que habita em nós” (2Tm 1.14).

          A presença do Espírito em nós é real, ainda que em parte ou, como disse Calvino, umas poucas gotas do Espírito”[2] (Rm 8.23). As “primícias do Espírito” que temos, traz consigo a promessa da abundante colheita que teremos no futuro e, ao mesmo tempo, é o antegozo dela. O Espírito é uma realidade presente que nos fala da nossa salvação passada (justificação) e presente (santificação), indicando também, a consumação futura da nossa salvação (glorificação) (Rm 8.23-24). A amostragem que temos hoje pelo Espírito, indica a superioridade do que teremos no porvir (Rm 8.18).[3]

          O Espírito em nós é o selo de propriedade divina, até o resgate final (2Co 1.22; 5.5; Ef 1.13,14/1Pe 2.9). O Espírito é o selo de Deus em nós.[4] Somos o Templo do Espírito (1Co 3.16; 6.19). Fomos comprados pelo precioso sangue de Jesus e, agora, pertencemos ao Senhor (At 20.28; 1Co 6.20; 7.23; 1Pe 1.18-19). O Espírito é o sinal da nossa total libertação futura da influência de Satanás, do pecado e da carne. “A nossa redenção ainda não se completou, mas está assegurada”.[5]

          Deus nos concedeu o Espírito como um selo de inviolabilidade e preservação; o Espírito, constitui os Presbíteros para pastorearem o rebanho do Sumo Pastor que é Deus, até que Cristo volte (At 20.28/1Pe 5.1-4).

          Paulo escreve aos gálatas: E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai! De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro por Deus” (Gl 4.6-7). (Vejam-se: Rm 8.16,17; Ef 1.14,18; Cl 3.24; Tt 3.7/1Jo 3.1,2).

É significativo para nossa abordagem, o fato de que o apóstolo diz que Deus enviou “o Espírito de seu Filho”. Ou seja, podemos nos relacionar com o Pai por meio de Seu Filho (Jo 14.6). E, é o Espírito do Filho, Aquele que é eternamente o Filho de Deus, Quem nos conduz ao Filho em nossa irmandade com Ele e, pela mesma graça, na condição de filhos de Deus (Jo 1.12; Gl. 3.26).

          A presença soberana do Espírito é a característica fundamental do cristão. O Espírito é a identidade dos que pertencem a Deus – “….se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8.9) –, dos filhos adotivos de Deus (Rm 8.15),[6] que são guiados por Ele (Rm 8.14).[7]

Quem tem o Espírito, tem a Cristo. Quem não possui o Espírito não tem a Cristo e, de fato, não pertence a Ele (Rm 8.9-10). Assim, participar do Espírito é o mesmo que participar do Filho. O próprio Espírito testifica continuamente em nós que somos filhos de Deus e, portanto, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo (Rm 8.16,17).[8] Embora a certeza de nossa salvação não seja algo essencial à salvação, o Pai deseja comunicar-nos constantemente esta certeza a fim de que ela seja subjetivada em nós e, deste modo, possamos viver a plenitude do privilégio e da responsabilidade de nossa filiação.

          Notemos que esta identidade com Cristo pelo Espírito, é uma identidade de sofrimento e glória. A vida cristã consiste numa identificação com Cristo, em seus sofrimentos e em sua glória. “A união com Cristo é a união com Ele na eficácia da sua morte e na virtude da Sua ressurreição – aquele que assim morreu e ressuscitou com Cristo é liberto do pecado, e o pecado não exercerá o seu domínio”, conclui Murray (1898-1974).[9]

Maringá, 20 de abril de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Frederick D. Bruner, Teologia do Espírito Santo, São Paulo: Vida Nova, 1983, p. 209.

[2]João Calvino, Exposição de Romanos,(Rm 8.23), p. 287. Estejamos atentos à figura de Calvino. Comentando Tt 3.6, diz: “…. uma gota do Espírito, por assim dizer, por menor que seja, é como uma fonte a fluir tão abundantemente que jamais secará” (J. Calvino, As Pastorais, (Tt 3.6), p. 351).

[3]O Espírito Santo, pois, nos foi outorgado a fim de que pudéssemos nutrir algum tipo de ideia quanto ao que nos aguarda quando chegarmos na glória. Deus nos deu as primícias. (…) Por conseguinte, em certo sentido nossa salvação não é completada, mas será completada, e o Espírito nos é conferido a fim de que possamos, não só saber isso com toda certeza, mas também para podermos até começar a experimentá-lo. E tudo o que experimentamos nesta vida, num sentido espiritual, é simplesmente primícias, ou uma prelibação, algo posto por conta, uma espécie de prestação de Deus, a fim de que pudéssemos saber o que nos está por vir” (D.M. Lloyd-Jones, Deus o Espírito Santo,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1998, p. 334, 325).

[4] Veja-se: John Owen, Two Discourses Concerning the Holy Spirit and His Work. The Works of John Owen, (CD-ROM), (Ages Software, 2000), v. 4, p. 504ss.

[5] Walter T. Conner, A Obra do Espírito Santo,Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1961, p. 114.

[6]Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai” (Rm 8.15).

[7]Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm 8.14).

[8]“O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados” (Rm 8.16-17).

[9]John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada,São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p. 159. “A doutrina sobre a santificação, como ensinada na Bíblia, é que nos tornamos santos (…) por sermos unidos a Cristo, de tal modo que nos reconciliamos com Deus e nos tornamos participantes do Espírito Santo” (C. Hodge, O Caminho da Vida, New York: Sociedade Americana de Tractados, [s.d.], p. 275).(Veja-se: A. Booth, Somente pela Graça,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1986, p. 45). É impossível falar de qualquer bênção da vida cristã, sem que tenhamos em mente o fato de que estamos unidos a Cristo; aliás, tudo que somos e temos é em Cristo.

            A nossa união com Cristo é tão vital, que a Bíblia emprega diversas figuras para exemplificá-la (Jo 15.5; Ef 2.20-22; 4.15-16; 5.23-32; 1Pe 2.4-5; Ap 19.7-9); todavia, todas as metáforas, mesmo tomadas conjuntamente não expressam a totalidade do significado desta relação vital que temos com o Senhor.

            A.A. Hodge, (1823-1886) observou que, “A designação técnica desta união é ‘mística’ em linguagem teológica, porque ela transcende tanto todas as analogias das relações de parentescos terrestres, na intimidade da sua comunhão, no poder transformador da sua influência e na excelência das suas consequências” (Archibald A. Hodge, Esboços de Theologia, p. 453).  

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