A Pessoa e Obra do Espírito Santo (121)
6.3. O Espírito Santo e a nossa salvação
É uma grande bênção ter um Deus que não é uma Pessoa senão três. Constitui uma Trindade abundante. Porque não só um Pai que nos ama e cuida de nós, senão também um Cristo que trouxe salvação e intercede por nós e um Espírito Santo que mora dentro de nós e aplica a salvação à nossa vida. – Edwin H. Palmer (1922-1980).[1]
O verdadeiro cristianismo começa com a obra do Espírito Santo no coração de uma pessoa. – Vern S. Poythress,[2]
O ensino externo será infrutífero e inútil se não for acompanhado pelo ensino do Espírito Santo. Portanto, Deus tem dois métodos de ensino: primeiro, ele nos faz ouvi-lo pelos lábios humanos; e, segundo, ele nos fala intimamente por seu Espírito; e ele faz isso ou no mesmo instante, ou em momentos distintos, conforme achar oportuno. – João Calvino.[3]
Introdução: O ministério Cristocêntrico do Espírito
O Ministério terreno de Cristo foi concluído. Ele se encontra no esplendor da Glória junto ao Pai (At 7.55; Rm 8.34; 1Jo 2.1/Jo 17.5). Todavia, o Espírito continua o seu Ministério apontando para Jesus Cristo. O Ministério do Espírito deveria suceder ao Calvário e à ressurreição (Jo 7.39), consistindo em apontar para o Filho conduzindo o seu povo à recepção de sua graça.[4]
Neste Ministério, o Espírito age de forma progressiva e intensiva. Ele dá testemunho de Cristo a todos os homens por meio da Palavra (Jo 15.26/Rm 10.17). Creio que este testemunho consiste em mostrar aos homens quem é Jesus Cristo: o Deus eterno, que abdicando da manifestação de sua Glória eterna (Fp 2.5-8/Jo 17.5), assumiu a natureza humana para redimir os pecadores (1Jo 4.1-3).
Sem o Espírito, o incrédulo jamais poderia ver a luminosa glória das duas naturezas de Cristo em sua real beleza.[5]
Quando o homem adquire, pelo Espírito, o conhecimento da Pessoa de Cristo, passa, pelo mesmo Espírito a confessá-Lo como Senhor de todas as coisas, inclusive de sua vida.
No Antigo Testamento, Davi, mediante a iluminação do Espírito (Mt 22.43/Mc 12.36), reconheceu que Jesus era o Senhor (Deus),. Ninguém pode reconhecer como Redentor a Cristo sem a ação reveladora do Espírito (Mt 16.16-17/1Co 12.3).
O Espírito guia a Igreja à Verdade na Verdade: à Verdade que é Cristo (Jo 14.6), por meio da sua Palavra que é a Verdade (Jo 17.14,17). Agindo assim, o Espírito faz o que Lhe é próprio, visto ser Ele o “Espírito da Verdade” (Jo 15.26; 16.13; 1Jo 5.6).
“Ele não ensina acerca de Si mesmo, nem chama a atenção para Si mesmo, nem glorifica a Si mesmo. Ele está o tempo todo chamando a atenção para o Senhor, e essa é a característica de toda a obra do Espírito Santo”, comenta Lloyd-Jones.[6]
A Igreja confessa o Senhorio de Cristo pelo Espírito:“Ninguém pode dizer: Senhor Jesus! senão pelo Espírito Santo” (1Co 12.3). É evidente que esta confissão não é apenas de lábios; antes, é fruto de um coração transformado e convicto (Rm 10.9,10).
No advento de Cristo, muitos se aproximarão dele dizendo: “Senhor, Senhor!”, todavia, por suas obras não condizerem com a sua confissão verbal, terão como resposta de Cristo: “Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade”(Veja-se, Mt 7.21-23).
A confissão sincera é resultado de um conhecimento pessoal e intransferível. A confissão confiante só é possível após este conhecimento. “Não nos é possível servir nem adorar a um Deus desconhecido, nem depositar nele a nossa confiança”, afirma Pink.[7]
Este conhecimento é operado pelo Espírito no coração dos eleitos. Quando isto acontece, Cristo de fato é glorificado: O Espírito é o agente da glorificação de Cristo (Jo 16.13-14). “A obra do Espírito é colocar Jesus diante dos olhos e dentro dos corações dos homens, para fazer resplandecer a Pessoa e obra dele diante deles com todas as excelências de ambas”, comenta Lenski (1864-1936).[8]
Notemos que o testemunho do Espírito visa basicamente à glorificação de Cristo e, esta glorificação só se torna possível mediante o conhecimento da Pessoa de Cristo. Do mesmo modo como Cristo glorificou o Pai em sua encarnação, o Espírito, voluntariamente, glorifica a Cristo em suas operações. Por sua vez, nosso Senhor Jesus Cristo opera e abençoa a sua Igreja por intermédio do Espírito.[9]
A Igreja é constituída por aqueles que receberam o testemunho do Espírito por meio da Palavra e o guarda, revelando-o na sua vida (Mt 5.14-16/Jo 17.6-8; Mt 28.20) e na sua proclamação (Mt 28.19-20/Jo 17.20; At 1.8/Jo 15.26-27).
Esses assuntos aqui esboçados, serão alvo de um estudo mais detalhado nas páginas que se seguem.
Maringá, 23 de fevereiro de 2021. Rev. Hermisten Maia Pereira
[1] Edwin H. Palmer, El Espiritu Santo,Edinburgh: El Estandarte de la Verdad, (s.d.), Edición Revisada, p. 14.
[2] Vern S. Poythress, Redimindo a filosofia: uma abordagem teocêntrica às grandes questões, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 31.
[3] João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 2, (Jo 14.25), p. 109.
[4]Veja-se: A.H. Strong, Systematic Theology,35. ed. Valley Forge, PA.: The Judson Press, 1993, p. 324.
[5]Cf. John Owen, A Glória de Cristo,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1989, p. 24. Em outro lugar, Owen diz: “Quando Ele tomou sobre Si a forma de um servo em nossa natureza, Ele se tornou aquilo que nunca havia sido antes, mas não deixou de ser aquilo que sempre tinha sido em Sua natureza divina. Ele, que é Deus, não pode deixar de ser Deus. A glória da Sua natureza divina estava velada, de forma que aqueles que O viram não acreditaram que Ele era Deus” (Ibidem.,p. 30).
[6]D. Martyn Lloyd-Jones, Deus o Espírito Santo,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1998, p. 61. Em outro lugar: “A atividade do Espírito Santo consiste em glorificar o Filho. (…) Portanto, o grande pensamento que serve de diretriz e que devemos ter em mente é que a obra principal do Espírito Santo é glorificar o Senhor Jesus Cristo” (D.M. Lloyd-Jones, Salvos desde a Eternidade, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: v. 1), p. 91).
[7] A.W. Pink, Os Atributos de Deus,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1985, p. 5.
[8]R.C.H. Lenski, The Interpretation of St. John’s Gospel, Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, (Commentary on the New Testament), 1998, (Jo 16.14), p. 1092.
[9] Veja-se: Herman Bavinck, Our Reasonable Faith,p. 387.