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A Pessoa e Obra do Espírito Santo (111) - Hermisten Maia

A Pessoa e Obra do Espírito Santo (111)

6.2.5. O Espírito Santo e o confronto do Senhor Jesus com Satanás

Jesus não expulsa demônios por meio do príncipe dos demônios. Ele domina os demônios por ser o Santo de Deus. – John Piper.[1]

Devemos nos lembrar de que Satanás, que é o diabo (Ap 12.9; 20.2), apesar de limitado, porém, ardiloso e tem muito poder, porém, não autogerado, antes, foi-lhe entregue.[2] Ele é também ousado  na utilização de seu poder para o mal.

    Calvino escreveu:

Quando Satanás é chamado o deus e príncipe deste mundo, quando é designado como o valente armado, o espírito a quem pertence o poder do ar, leão a rugir (2Co 4.4; Jo 12.31; Mt 12.29; Ef 2.2.; 1Pe 5.8), estas representações não contemplam  outra cousa senão a que sejamos mais cautos e vigilantes, vale dizer, mais preparados para travar luta, o que, por vezes, até se expressa em termos explícitos.[3]

    Paulo fala dos “desígnios” [4] de Satanás(2Co 2.11), indicando a ideia de que ele tem metas definidas, estratégias elaboradas, um programa de ação com variedades de técnicas e opções a serem aplicadas conforme as circunstâncias e a quem quer seduzir e o que tem em vista. Satanás “fará qualquer coisa para conseguir vantagem sobre nós, diz o apóstolo, fará qualquer coisa para derrubar-nos, para fazer-nos parecer ridículos e para pôr em desgraça o nome de Deus”, aplica Lloyd-Jones.[5] Ele emprega toda a sua “energia” para realizar os seus propósitos (At 13.10).[6]

    Aliás, este fato vem indicar que Satanás não é uma força impessoal. Uma força não planeja, não faz tramas, nem arma ciladas; isto é próprio de um ser pessoal. O seu nome Satana=j [7] indica de fato aquilo que ele é: “O adversário”.

    Satanás age contra nós como um brilhante estrategista, buscando a melhor tática para nos vencer. “A astúcia é a grande característica do diabo”, conclui Lloyd-Jones.[8]

    Sem dúvida, a grande arma de Satanás é a sagacidade, a astúcia, a artimanha, o ardil. Isto faz com que ele aja de forma variada, tenha um repertório multiforme, sinistro de ataques. A sua força está de modo especial na sua inteligência, associada à sua perspicácia, que foram desenvolvidas ao longo de séculos de história.

    Murray escreve:

Satanás possui habilidades intelectuais muito mais elevadas do que qualquer homem possa ter. Onde o orgulho se mostra evidente, podemos estar certos de que Satanás encontrou uma porta. É ele quem deseja que os homens sejam idolatrados e considerados como celebridades.[9]

    Considerando a astúcia de satanás, temos que admitir que ele tem um bom discernimento do tempo, do momento adequado. Ele procura agir sempre na hora mais propícia para obter vantagem dentro dos seus propósitos.

    O Novo Testamento ilustra o que estamos dizendo: Conforme vimos, quando Jesus sentiu fome; Satanás tenta com o pão (Mt 4.2,3). Após a tentação de Jesus no deserto, Satanás se retira estrategicamente até o momento “oportuno” (kairo/j)[10] (Lc 4.13). Quando Cristo falou aos seus discípulos que era preciso que Ele fosse preso e morto, Satanás, certamente considerando que este era o momento próprio, usa a Pedro – que havia acabado de confessar a Jesus como o Cristo – para tentar o Senhor. (Mt 16.21-23). Percebam, portanto, a sua ousadia e, vejam também, algumas de suas limitações: Ele não é onisciente nem onipotente.[11]

Maringá, 15  de fevereiro de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] John Piper, Um homem chamado Jesus Cristo, São Paulo: Vida, 2005, p. 59.

[2]Disse-lhe o diabo: Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser” (Lc 4.6/Jó 1.7-12).

[3]J. Calvino, As Institutas, I.14.13; Veja-se também:  J. Calvino, Efésios, (Ef  6.12-13), p. 188-191.

[4]“Para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios (no/hma)(2Co 2.11). A palavra traduzida por “desígnio” (no/hma), ocorre cinco vezes no NT., sendo utilizada apenas por Paulo: 2Co 2.11; 3.14; 4.4; 10.5; 11.3; Fp 4.7, tendo o sentido de “plano” (Platão, Político, São Paulo: Abril Cultural (Os Pensadores, v. 3), 1972, 260d), “intenção maligna”, “intrigas”, “ardis”. Com exceção de Fp 4.7, a palavra sempre é usada negativamente no NT. No/hma é o resultado da atividade do nou=j (mente); (J. Behm, noe/w, etc. In: Gerhard Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament,Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1983 (Reprinted), v. 4, p. 960). “É a faculdade geral do juízo, que pode tomar decisões e pronunciar certos ou errados os veredictos, conforme as influências às quais tem sido expostas” (J. Goetzmann, Razão: In: Colin Brown, ed. ger. ONovo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 4, p. 32).

[5]D. M. Lloyd-Jones, O Combate Cristão, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991, p. 90.

[6]“Ó filho do diabo, cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perverter os retos caminhos do Senhor?” (At 13.10). “Satanás não tem propósitos construtivos; suas táticas são simplesmente para contrariar a Deus e destruir os homens” (J.I. Packer, Vocábulos de Deus, São José dos Campos, SP.: Fiel, 1994, p. 82-83).

[7] NT. * Mc 1.13; At 26.18; 2Co 2.11; 12.7; 2Ts 2.9; 1Tm 5.15; Ap 2.9,13; 3.9.

[8] D.M. Lloyd-Jones, O Combate Cristão, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991, p. 75.

[9] Iain Murray, Como a Escócia perdeu sua firmeza na Palavra: In: John F. MacArthur, org.,  A Palavra Inerrante, São Paulo: Cultura Cristã, 2018, [p. 149-171], p. 162.

[10]A ideia da palavra é de “oportunidade”, “tempo certo”, “tempo favorável”, etc. (Vejam-se: Mt 24.45; Mc 12.2; Lc 20.10; Jo 7.6,8; At 24.25; Gl 6.10; Cl 4.5; Hb 11.15). Ela enfatiza mais o conteúdo do tempo.  Este termo que ocorre 85 vezes no NT é mais comumente traduzido por “tempo”, surgindo, então, algumas variantes, indicando a ideia de oportunidade. Assim temos (Almeida Revista e Atualizada): Tempo e tempos: Mt 8.29; 11.25; 12.1; 13.30; 14.1; Lc 21.24; At 3.20; 17.26; “Devidos tempos”: Mt 21.41; “Tempo determinado”: Ap 11.18; “Momento oportuno”: Lc 4.13; “Tempo oportuno”: Hb 9.10; 1Pe 5.6; Oportunidade: Lc 19.44; Gl 6.10; Cl 4.5; Hb 11.15; Devido tempo: Lc 20.10; Presente: Mc 10.30; Lc 18.30; “Circunstâncias oportunas”: 1Pe 1.11; Algum tempo: Lc 8.13; Hora: Lc 8.13; 21.8; Época: Lc 12.56; At 1.7; 1Ts 5.1 (Xro/nwn kai\ tw=n kairw=n); 1Tm 6.15; Hb 9.9; Ocasião: Lc 13.1; 2Ts 2.6; 1Pe 4.17; Estações: At 14.17; Vagar: At 24.25; Avançado: Hb 11.11.

[11] Veja-se: Hermisten M.P. Costa, O Pai Nosso, São Paulo: Cultura Cristã, 2001. “Satanás (ainda que, sem dúvida, ele nunca o tenha admitido, nem jamais admitirá) é uma ferramenta de Deus. Ao conceder a Satanás tanto poder, Deus se utiliza dele para executar o juízo divino sobre um mundo rebelde” (J.I. Packer, Vocábulos de Deus,São José dos Campos, SP.: Fiel, 1994, p. 81).

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