A Pessoa e Obra do Espírito Santo (101)
K) Guia-nos
O profeta Isaías, bem antes do cativeiro de Judá, considera que Deus como pastor e senhor apascenta o seu rebanho, cuidando carinhosamente dele. Escreve então, consolando o povo que seria tirado de sua terra: “Como pastor (h[‘r‘) (raah), apascentará (h[‘r’) (raah) o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos e os levará no seio; as que amamentam ele guiará mansamente” (Is 40.11).
Como afirmamos anteriormente, a Palavra de Deus traz princípios eternos para o nosso viver cotidiano. De fato, Deus, por intermédio da sua Palavra, nos desafia a seguir a sua “luz”, quando se nos deparam outras “luzes” provenientes do mundo que por vezes nos fascinam pelos contornos propiciados conforme seus fachos brincando diante de nós com o binômio luz e sombra, deixando boa parte dos efeitos disso por conta de nossa imaginação ingênua ou propensa às novidades prometidas ou apenas insinuadas.
A Palavra de Deus nos guia sempre em segurança, apresentando-nos o caminho de vida. Por isso, ela deve ser o nosso guia perene. A solução de Deus deve ser buscada e praticada; ela nos guia passo-a-passo, rumo à sua vontade. O salmista declara: “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para os meus caminhos” (Sl 119.105). Em meio às trevas, Deus nos orienta e guia por seu caminho com a luz que procede dele mesmo.
O que deve nos caracterizar nesse processo, é a meditação na Palavra, confiança em Deus e o desejo de obedecê-lo. Meditação, sem confiança e obediência, de nada adiantaria. Poderíamos ter apenas um conhecimento intelectual que no máximo, terminaria em nosso deleite intelectual. – Racionalismo.
Confiança, sem meditação e obediência, estaríamos vagando sem saber o que Deus deseja de nós e, por isso, nem saberíamos ao que obedecer. Estaríamos propensos a acreditar em qualquer ensinamento que nos parecesse provir de Deus. – Religiosidade emotiva e vazia de conteúdo e envolvimento concreto.
Obediência, sem meditação e confiança, poderíamos, quem sabe, seguir práticas e ritos religiosos, sem saber ao certo o que Deus deseja. Assim, seríamos bastante voláteis em nossa fé, sendo conduzidos de uma lado para o outro, com uma forte tendência a alimentar uma confiança mágica em roteiros místicos que nos são propostos mas, que nos distanciam do Deus da Palavra. – Religiosidade supersticiosa.
No nosso caminhar segundo a Palavra, nos aproximamos gradativamente de Deus, tendo uma trilha segura que nos conduz à plenitude daquilo que Deus tem para nós, bem como rumo à compreensão do propósito de Deus na história. Pedro diz: “Temos assim tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vossos corações” (2Pe 1.19).
Calvino comentando essa passagem, diz:
Seu objetivo era apenas nos ensinar que todo o curso de nossa vida deve ser guiado pela Palavra de Deus; pois de outra forma devemos estar envolvidos por todos os lados nas trevas da ignorância; e o Senhor não brilha sobre nós, exceto quando tomamos sua Palavra como nossa luz.[1]
Agora, ainda envoltos em nossa carnalidade, com frequência, não percebemos com clareza o que Deus quer nos mostrar ainda que sigamos, por vezes, timidamente o seu caminho No entanto, quando Cristo retornar consumando a sua obra, então veremos perfeitamente a grandiosidade da obra de Cristo concluída em nós.
O segredo de um caminhar seguro está na fidelidade à Palavra, mantendo-a em nosso coração, a sede de todas as nossas deliberações. Davi, descrevendo o procedimento do justo, diz: “No coração tem ele a lei de Deus; os seus passos não vacilarão”(Sl 37.31).
Se caminharmos segundo a “lâmpada” que é-nos concedida por Deus, jamais cairemos nas trevas do pecado. Portanto, se queremos ser santos, devemos buscar na Palavra a “ciência” de Deus para a nossa vida. No entanto, ainda que distanciados de Deus, se pelo Espírito enxergamos a sua Palavra, podemos segui-la, porque Deus mesmo nos guiará em segurança rumo à nossa recuperação nele.
O salmista após meditar no poder sustentador de Deus e na sua misericórdia manifesta para com o seu povo, conclui: “…. este é Deus, o nosso Deus para todo o sempre: ele será nosso guia até à morte”(Sl 48.14/Sl 73.24).
Na realidade, este é um dos propósitos da teologia, conforme define Wollebius (1586-1629):
A teologia consiste tanto em contemplação como em ação. Ela é sabedoria e prudência; o discernimento naquilo que ele apreende princípios através de uma inteligência divinamente iluminada e estende as suas conclusões através do conhecimento; e a prudência está no que ela guia a alma humana em suas ações.[2]
Maringá, 03 de fevereiro de 2021.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1]John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker, 1996 (Reprinted), v. 22/2, (2Pe 1.19), p. 388.
[2]Johannes Wollebius, Compêndio de Teologia Cristã, Eusébio, CE.: Peregrino, 2020, p. 24.