A Pessoa e Obra do Espírito Santo (10)
4.3. Divindade
Vimos que o Espírito é uma pessoa. Demonstraremos agora, que Ele é uma Pessoa Divina.
No Antigo Testamento não encontramos a afirmação explícita de que Deus seja um Espírito ou ser espiritual, ou imaterial. Todavia, sugere a ideia de que o Espírito é uma Pessoa distinta na Trindade.[1] Também, as oposições feitas entre homem-carne e Deus-espírito, evidenciam que Deus é Espírito e que o Espírito é Deus (Is 31.3).[2] Assim, temos:
1) O homem/carne representa tudo o que é frágil, perecível e transitório: Jó 10.4-5; Sl 78.39; Is 40.6.
2) Deus/Espírito representa o Poder,[3] a Eternidade e a imperecibilidade: Gn 6.3; Jó 10.4-5; Jr 17.5-8.
O pensamento judeu está mais voltado à mobilidade do que à essencialidade. Ou seja, a ênfase maior não é à essência do Espírito, mas ao fato dele ser a fonte da vida e do movimento. O Espírito é poderoso, eterno, imperecível.[4]
Estas sugestões veterotestamentárias recebem maior força e clareza no Novo Testamento, quando a divindade do Espírito é apresentada de forma mais clara e enfática (Cf. Jo 4.24; 2Co 3.17-18;[5] Ef 2.22).[6]
No Catecismo Maior de Westminster(1648), pergunta 11, lemos:
“Como podemos saber se o Filho e o Espírito Santo são Deus, iguais ao Pai?”
“As Escrituras revelam que o Filho e o Espírito são Deus iguais ao Pai, atribuindo-lhes os mesmos nomes, atributos, obras e culto, os quais só a Deus pertencem”. (grifos meus).[7]
A nossa abordagem será circunstancialmente diferente, embora envolva os elementos mencionados no Catecismo.
4.3.1. O Espírito é chamado Deus
3 Então, disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo? 4 Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder? Como, pois, assentaste no coração este desígnio? Não mentiste aos homens, mas a Deus. (At 5.3-4)
4.3.2. Recebe nomes Divinos
Podemos observar que as expressões “Palavra de Deus” e “Palavra do Espírito” são normalmente usadas de forma intercambiável. (Ex 17.7/Hb 3.7-9; Nm 12.6/2Pe 1.21; Sl 95.7-11/Hb 3.7-11; Is 6.3,8-10/At 28.25; Sl 78.17,21/At 7.51; Jr 31.31-34/Hb 10.15-17). (Vejam-se também: Nm 20.2-13/Sl 106.32-33).
4.3.3. Perfeições Divinas São-Lhe Atribuídas:
- Santidade: Jo 14.26/Is 63.10.
- Onipresença e Imensidão: Sl 139.7-10/Jr 23.24.
- Onipotência: Lc 1.35; Rm 15.19.
- Onisciência: Is 40.13-14/Rm 11.34; 1Co 2.10-11[8]/Jo 16.13; 2Pe 1.21.
- Liberdade Soberana: Is 40.13; 1Co 12.11;[9] Hb 2.4.
- Eternidade: Hb 9.14/Gn 1.2.[10]
- Glória: 1Pe 4.14.
- Graça: Hb 10.29.
4.3.4. Realiza Obras Divinas
O Espírito Santo como ser pessoal, é o agente executivo da Trindade: “Tudo quanto Deus faz, ele o faz por meio do Espírito”, interpreta Hodge.[11]Todavia, deve ser ressaltado que Ele é O agente, não uma agência.[12] Podem ser feitas várias analogias com o Espírito, como pomba e fogo. Diversas operações especiais Ele realiza. No entanto, antes disso tudo, Ele é uma Pessoa.[13]
1) Criação: Gn 1.2-3; Jó 33.4; Sl 33.6
2) Preservação e Governo: Jó 26.13; 33.4; Sl 104.30.
3) Inspiração das Escrituras: 2Pe 1.20,21/2Tm 3.16.
4) Regeneração: Jo 3.5-6/Tt 3.5.
5) Revela os eventos futuros: Lc 2.26; Jo 16.13; At 11.28; 1Tm 4.1.
6) Ressurreição: Rm 8.11; 1Pe 3.18.
7) Confere dons: 1Co 12.4-11.
8) Governa a Igreja:
a) Decisões: At 15.28.
b) Vocação de Seus servos: At 13.2; 20.28.
9) Iluminação: Ef 1.17,18.[14]
10) Santificação: 2Ts 2.13; 1Pe 1.2.
11) Milagres: Mt 12.28.
4.3.5. É adorado: Lc 2.25-29; At 4.23-25/At 1.16,20/Ef 2.18.
Nos textos de Atos, fica claro que o Deus adorado é identificado com o Espírito Santo que proferiu as Escrituras. Há o reconhecimento de que o Senhor é o Espírito. “O culto religioso deve ser prestado a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo – e só a Ele”, ensina a Confissão de Westminster.[15]
4.3.6. É colocado em igualdade com o Pai e o Filho: Mt 28.19; 2Co 13.13.
O fato das Escrituras relacionarem as Três Pessoas da Trindade no Batismo e na Bênção Apostólica, atestam a igualdade substancial da Trindade em poder e glória.[16]
Ser batizado no nome do Pai, do Filho e do Espírito, equivale a ser entregue a Eles para a remissão dos pecados. “Quando o nome de Deus se junta com o do Filho e do Espírito Santo, assume o caráter de perfeição e plenitude (Mt 28.19); trata-se de pensamento trinitariano, ainda que falte aqui uma formulação trinitariana precisa”, comenta Bietenhard (1916-2008).[17]
Da mesma forma, quando Jesus Cristo relaciona o Espírito com o Pai e consigo mesmo, o faz de tal modo que o identifica como sendo divino (Jo 14.16;15.26; 16.7).
Maringá, 04 de outubro de 2020.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1] Cf. J. Barton Payne, The Theology of the Older Testament,p. 173.
[2] “Pois os egípcios são homens e não deuses; os seus cavalos, carne e não espírito. Quando o SENHOR estender a mão, cairão por terra tanto o auxiliador como o ajudado, e ambos juntamente serão consumidos” (Is 31.3).
[3] Veja-se: Geerhardus Vos, Biblical Theology: Old and New Testaments, p. 238; Sinclair B. Ferguson, O Espírito Santo, p. 18.
[4] Ver: Yves M.J. Congar, El Espíritu Santo,2. ed.Barcelona: Herder, 1991, p. 30.
[5] Quanto às possíveis interpretações desse texto, Veja-se: Sinclair B. Ferguson, O Espírito Santo,p. 72. Veja-se: também H. Bavinck, Our Reasonable Faith,p. 387-388.
[6] Peço licença aqui, para recordar a analogia feita por B.B. Warfield (1851-1921), já aludida nestas anotações: “Podemos comparar o Velho Testamento com um salão ricamente mobilado, mas muito mal iluminado; a introdução de luz nada lhe traz que nele não estivesse antes; mas apresenta mais, põe em relevo com maior nitidez muito do que mal se via anteriormente, ou mesmo não tivesse sido apercebido. O mistério da Trindade não é revelado no Velho Testamento; mas o mistério da Trindade está subentendido na revelação do Velho Testamento, e aqui e acolá é quase possível vê-lo” (B.B. Warfield,A Doutrina Bíblica da Trindade,p. 130-131).
[7] Francis Turretini (1623-1687), o campeão da ortodoxia calvinista no século XVII, mesmo sem indicar o Catecismo Maior de Westminster,segue esta mesma ordem na sua exposição a respeito da Divindade do Espírito. (Veja-se: F. Turretin, Institutes of Elenctic Theology,v. 1, III.30.12. p. 305ss.).
[8] “O Espírito, aqui, aparece como substrato da autoconsciência divina, o princípio do conhecimento de Deus acerca de Si mesmo. Em resumo, Ele é, simplesmente, o próprio Deus, na essência do mais recôndito do Seu Ser. Tal como o espírito do homem é o centro da vida humana, assim também o Espírito de Deus é o Seu próprio elemento vital. Como se pode, pois, pensar que está subordinado a Deus, ou que recebe o Seu Ser de Deus?” (B.B. Warfield, A Doutrina Bíblica da Trindade,p. 166).
[9] Calvino comenta: “A não ser que o Espírito fosse algo subsistente em Deus, de modo nenhum outorgar-se-Lhe-iam arbítrio e vontade” (As Institutas,I.13.14).
[10] O fato do Espírito preceder à criação de todas as coisas, aponta para a Sua eternidade. (Cf. F. Turretin, Institutes of Elenctic Theology,v. 1, III.30.12. p. 306.
[11] Charles Hodge, Teologia Sistemática,p. 394.
[12] C. Hodge, Systematic Theology,v. 1, p. 447.
[13] Cf. Geoffrey Thomas, El Espíritu Santo, Medellín: Poiema Publicaciones, 2015, p. 11.
[14] A palavra “espírito” aqui, tem sido entendida por diversos comentaristas, como referindo-se aO Espírito Santo, ou à Sua influência (Veja-se: Vincent, Alford, Wuest, Foulkes, Russel Shedd, Champlin, Salmond, Hendriksen, entre outros).
[15] Confissão de Westminster,XXI.2.
[16] Veja-se: Catecismo Menor de Westminster,Pergunta 6; Catecismo Maior de Westminster,Perg. 9
[17] H. Bietenhard, Nome: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento,São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 3, p. 281.