Diáconos e Presbíteros: Servos de Deus no Corpo de Cristo (17)
3.2. A Igreja é guiada por meio de seus escolhidos
Quando Paulo se despede dos presbíteros de Éfeso lhe diz: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” (At 20.28).
A Igreja é um organismo e uma organização. Como organismo enfatizamos a sua eternidade dentro do propósito de Deus. Essa é a igreja invisível, santa e pura que se concretiza na história por meio da igreja como organização, identificada pela fiel proclamação da Palavra, a administração correta dos sacramentos e o exercício fiel da disciplina. Ambos os aspectos da mesma igreja são constituídos pelo Espírito. O organismo acentua a sua eternidade, espiritualidade e vitalidade. A organização demonstra a necessidade de esse organismo ser organizado materialmente por meio do seu modus operandi que envolve as suas estruturas, leis e ação na história. Por isso, a igreja precisará sempre ter uma estrutura administrativa, normas, liderança, etc. (Rm 12.8).
Bavinck escreve de forma esclarecedora:
O governo é indispensável para a igreja como ajuntamento dos crentes. Assim como um templo precisa de um arquiteto, o campo, de um semeador, uma vinha, de um tratador, uma rede, de um pescador, um rebanho de um pastor, um corpo, de uma cabeça, uma família, de um pai, um reino, de um rei, assim também a igreja é inconcebível sem uma autoridade que a sustente, oriente, cuide e proteja. Em certo sentido, ainda mais especial que no caso do campo político, essa autoridade se baseia em Deus. (…) Assim como no campo civil ele concedeu soberania ao governo, assim também na igreja ele designou Cristo para ser rei. (…) No entanto, (…) aprouve a ele, sem de forma nenhuma transferir sua soberania às pessoas, usar o serviço delas no exercício de sua soberania e pregar o evangelho por meio delas a todas as criaturas. Também nesse sentido, a igreja nunca ficou sem governo. Ela sempre foi organizada e institucionalizada de algum modo.[1]
Keller assim descreve a igreja mais propriamente como organização:
Para ser exercidos, esses dons têm de ser reconhecidos publicamente pela igreja, o que requer certa organização. Não há como exercitar o dom de liderança (Rm 12.8) sem que haja uma estrutura institucional: eleições, estatutos, ordenação e padrões de credenciamento. Ninguém consegue governar sem algum tipo de acordo feito pela igreja toda sobre os poderes conferidos aos governantes e como esses poderes serão exercitados legitimamente.[2]
O organismo vivencia a sua realidade por meio da igreja como instituição e como povo no exercício de sua vocação na sociedade. O problema é quando a sua estrutura organizacional nega em sua prática a espiritualidade de sua essência. Desse modo, um dos indícios dessa inversão é quando a estrutura eclesiástica passa a ser o grande e único foco da igreja à qual todas as demais coisas passam a estar subordinadas. Assim, o grande elemento identificador do sucesso profético dessa igreja é a sua riqueza, templos requintados, reconhecimentos e membresia. Junto com isso vêm o desejo de perpetuação no poder, o fascínio por cargos e comissões, os quais devem ser bem distribuídos para acalmar os corações sedentos por servir a Deus com mais conforto e visibilidade.
A expressão material de nossa fé não pode ser dissociada da essência da fé que brota e fundamenta-se na Palavra, caso contrário, será uma expressão de algo falso, apenas para ser professada, não para ser vivenciada. A vida manifesta a nossa fé.[3] Não há alternativa: Ou a nossa vida expressa de forma coerente a fé professada ou a nossa vida nega a nossa fé, revelando uma outra fé. Sem fé não vivemos!
Maringá, 21 de junho de 2019.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
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[1] Herman Bavinck, Dogmática Reformada − Espírito Santo, Igreja e nova criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 4, p. 333.
[2]Timothy Keller, Igreja centrada, São Paulo: Vida Nova, 2014, p. 409.
[3] “A fé, sem a evidência de boas obras, é inutilmente pretendida, porque o fruto sempre provém da raiz viva de uma boa árvore” (John Calvin, Commentaries on the Epistle of James, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996, (Calvin’s Commentaries, v. 22/2), (Tg 2.18), p. 312).
Grande é a responsabilidade daqueles que guiam a Igreja. Velam pelas almas dos fiéis.