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Os eleitos de Deus e o seu caminhar no tempo e no teatro de Deus (52) - Hermisten Maia

Os eleitos de Deus e o seu caminhar no tempo e no teatro de Deus (52)

b) É em Cristo

 

Jesus Cristo orou por esta unidade:

 

22 Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos;  23 eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim. (Jo 17.22-23).

 

Ao que parece, a unidade está relacionada à nossa posição em Cristo. Todos que estamos em Cristo estamos unidos pela fé comum e, em Cristo, devemos nos aperfeiçoar nesta unidade. A unidade cristã vai além das variedades denominacionais – que nos permite, por exemplo ter projetos em comum –[1]  e temporais. Passamos a ser um só corpo, a estar no mesmo Reino e sob o mesmo Rei.

 

A Igreja como Corpo de Cristo ainda está sendo formada, constituída. Isto, não só em Maringá, Paraná, São Paulo ou Brasil, mas, em todo o mundo.

 

Foi o próprio Senhor quem disse:

 

14 Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim,  15 assim como o Pai me conhece a mim, e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas.  16 Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá um rebanho e um pastor. (Jo 10.14-16).

 

A unidade cristã é para ser vivenciada por todo cristão. Jesus Cristo que nos redimiu e nos atraiu para si, destruiu a barreira de separação existente entre nós e Deus e entre nós e o nosso próximo. Jesus Cristo deu a sua vida para unir todo o seu povo de todas as nações.

 

João narra que o Sumo Sacerdote Caifás profetizou inconscientemente sobre Jesus Cristo, explicando em seguida o apóstolo a respeito do significado disso: “Ora, ele (Caifás) não disse isto de si mesmo; mas, sendo sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus estava para morrer pela nação e não somente pela nação, mas também para reunir em um só corpo os filhos de Deus, que andam dispersos” (Jo 11.51-52).

 

Obviamente, esta unidade não é superficial nem circunstancial. Ela é real e profunda, porque envolve a experiência unificadora de todos os remidos que tiveram a mesma experiência regeneradora e transformadora levada a efeito pelo Espírito amparado na obra sacrificial e vitoriosa de Cristo.

 

É justamente por essa vitalidade profunda que a igreja, mesmo não sendo perfeita, pode superar as suas crises, problemas e incompreensões. As nossas relações nos permitem reconsiderar um caminho, voltar, pedir perdão, perdoar, construir novas relações…. Estamos unidos uns aos outros, porque todos estamos unidos em Cristo.

 

Bonhoeffer interpreta:

 

Fraternidade cristã não é um ideal que nós devêssemos realizar. Ela é uma realidade criada por Deus em Cristo, e nós podemos ter parte nela. Quanto maior a clareza com que reconhecemos o fundamento, o poder e a promessa de toda nossa comunhão somente em Jesus Cristo, tanto maior a tranquilidade para pensar nessa nossa comunhão e orar e esperar por ela.[2]

 

O Espírito de Cristo produz essa unidade: “Esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef 4.3). Por mais que tentemos produzir esta unidade, não conseguiremos. Daí isto não ser requerido de nós, mas sim, a sua preservação, já que ela é obra do Espírito. “Onde reina o Espírito, ali há unidade”, escreve Lloyd-Jones.[3] E é em Cristo que temos o “vínculo” dessa união.[4]

 

A nossa união não é por conveniência social, antes, é uma evidência do chamado divino. Paulo escreve aos coríntios: “Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão (koinwni/a), de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1Co 1.9).

 

Somente em Jesus Cristo podemos ter a genuína união bíblica. Nele, fomos regenerados e justificados. Somos santificados também no Senhor. Desse modo, a união em Cristo, que vem por meio da Palavra, por vezes divide, para que seja separado o joio do trigo, o evangelho da heresia, uma genuína teologia bíblica de uma teologia divorciada da plenitude da revelação da Escritura.[5] Assim sendo, podemos dizer que a unidade em Cristo é uma unidade em santidade. A mesma Palavra que nos une é a que nos purifica e santifica.

 

Portanto, a base da comunhão é o Senhor. Fomos chamados a esta comunhão. Logo, qualquer união em detrimento da pessoa e dos princípios de Jesus Cristo, o Deus encarnado, não é a legítima união cristã.

 

c) É uma unidade essencial

 

É uma unidade entre aqueles que nasceram de novo, que receberam a Palavra e a guardam (Jo 17.6-8).[6] Usufruímos o mesmo poder vital que nos gerou, anima e fortalece.

Bavinck (1854-1921) comenta:

A unidade entre Cristo e os crentes é como a da pedra angular e o templo, entre o homem e a mulher, entre a cabeça e o corpo, entre a videira e os ramos. Os crentes estão em Cristo da mesma forma que todas as coisas, em virtude da criação e da providência, estão em Deus. Eles vivem em Cristo como os peixes vivem na água, os pássaros vivem nos ares, o homem em sua vocação, o erudito em seu estudo. Juntamente com Cristo os crentes foram crucificados, mortos e sepultados, e juntamente com Ele eles ressuscitaram e estão assentados à mão direita de Deus e glorificados.[7] Os crentes assumem a forma de Cristo e mostram em seu corpo tanto o sofrimento quanto a vida de Cristo e são aperfeiçoados (completados) nele. Em resumo, Cristo é tudo em todos (Rm 13.14; 2Co 4.11; Gl 4.19; Cl 1.24; 2.10; 3.11).[8]

 

4) É uma unidade de propósito

O Espírito constitui a Igreja com o propósito de glorificar a Deus, proclamando os seus atos heroicos e salvadores (1Pe 2.9-10). A Igreja por sua vez glorifica a Deus sendo-lhe obediente (Jo 14.21/Jo 17.4).

Mesmo que não consigamos uma unidade organizacional devido a métodos e estilos diferentes, devemos, no entanto, estar comprometidos com a glória de Deus, que é a nossa vocação incondicional e suprema (1Co 10.31).

 

São Paulo, 15 de maio de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

 

*Leia esta série completa aqui.


[1] Veja-se: Phil Johnson, Não estamos divididos: In: John MacArthur, et. al. Avante, Soldados de Cristo: uma reafirmação bíblica da Igreja, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 148ss. Alguns princípios práticos quanto ao trabalho em conjunto e, ao mesmo tempo, à avaliação crítica honesta e caridosa de nossos oponentes, pode ser encontrada em: Timothy Keller, Igreja centrada, São Paulo, Vida Nova, 2014, p. 412-413; 438-439.

[2] Dietrich Bonhoeffer, Vida em Comunhão, São Leopoldo, RS.: Sinodal, 1982, p. 12.

[3]D.M. Lloyd-Jones, A Unidade Cristã, p. 36.

[4]J. Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 12.4-5), p. 429.

[5] “Aqueles que apoiam uma unidade falsa pela tolerância de erros e heresias se esquecem de que uma divisão baseada em fundamento bíblico ajuda a preservar a verdadeira unidade do corpo de Cristo” (Joel Beeke, Coisas Gloriosas são ditas sobre Ti. In: John MacArthur, et. al. Avante, Soldados de Cristo: uma reafirmação bíblica da Igreja, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 35).

[6] 6 Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu mos confiaste, e eles têm guardado a tua palavra. 7 Agora, eles reconhecem que todas as coisas que me tens dado provêm de ti; 8 porque eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste, e eles as receberam, e verdadeiramente conheceram que saí de ti, e creram que tu me enviaste” (Jo 17.6-8).

[7] Rm 6.4ss.; Gl 2.20; 6.14; Ef 2.6; Cl 2.12,20; 3.3.

[8]Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, p. 398.

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