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A quem oramos? (Mt 6.6,9) (1) - Hermisten Maia

A quem oramos? (Mt 6.6,9) (1)

A Palavra de Deus nos ensina que a nossa oração deve ser dirigida ao Pai. Em nossas orações devemos aprender logo de início que estamos falando com o nosso Pai; o nosso Deus é Pai, de quem podemos nos aproximar com confiante amor, certos de que Ele está atento ao nosso clamor. “O Pai está sempre à disposição de seus filhos e nunca está preocupado demais que não possa ouvir o que eles têm a dizer. Esta é a base da oração cristã”. (J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, São Paulo: Mundo Cristão, 1980, p. 194).

O conhecimento que temos do Deus Pai é-nos revelado por Cristo; por sua graça O conhecemos. Jesus declara: Ninguém conhece o Filho senão o Pai; e ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11.27). Falamos com o Pai – não com um estranho” –, a Quem conhecemos pela graça.

Aqui há algo extremamente relevante que devemos mencionar. A paternidade de Deus sobre Israel é claramente reconhecida pelo povo do Antigo Testamento (Dt 32.6; Sl 103.13-14; Jr 31.9,20; Ml 2.10); a ideia está sempre presente nas páginas do Antigo Testamento. Apesar deste substantivo ser usado mais de 1200 vezes ali,1 só ocorre 14 vezes referindo-se a Deus; todavia, nestes casos, é sempre empregado de forma reveladora. (Cf. J. Jeremias, A Mensagem Central do Novo Testamento, 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1979, p. 12ss.) Curiosamente, os sumerianos, cerca de três mil anos antes de Cristo, já se referiam ao seu deus como um pai.2

A paternidade de Deus descrita no Antigo Testamento é exclusiva: Deus é Pai de Israel (Dt 7.6-8; 14.2; Is 63.15,16; 64.8) e esta paternidade encontra o seu fundamento num ato histórico e singular; o êxodo do Egito. J. Jeremias escreve sobre isto:

Associar a paternidade de Deus com um fato histórico implica uma profunda revisão do conceito de Deus como Pai. A certeza de que Deus é Pai e Israel seu filho não se funda no mito, mas em um ato único de salvação realizado por Deus, do qual Israel foi o alvo da história.3

Como já nos referimos, apesar dos judeus não usarem com frequência o título pai para Deus, estavam convictos desta realidade: Deus é pai de Israel. Entretanto, o que mais nos chamou a atenção é o fato de não ser encontrado no judaísmo nenhum exemplo convincente da utilização da expressão “meu pai” para Deus.4 Os judeus podiam dirigir-se a Deus, liturgicamente, como yiba) (‘abhi’) (“Meu Pai”); mas nunca empregavam a forma familiar, )fba) (’abhã’)5 (grego: a)bba=) (abba), que soaria desrespeitoso.

Agostinho (354-430), resume a questão dizendo:

Quem quer que leia a Sagrada Escritura poderá encontrar tais louvores de modo variado e extenso. Entretanto, em parte alguma encontra-se algum preceito ordenando ao povo de Israel que se dirigisse a Deus como Pai e o invocasse como Pai nosso.6

Portanto, o surpreendente para o judeu foi o fato de Jesus referir-se ao Pai de uma forma nunca vista, jamais praticada. Acontece que Jesus, em suas orações, não usava de um artifício para criar impacto ou para presumir, diante de seus ouvintes, ter uma relação inexistente com o Pai. Não. Jesus apenas revelou o fato do Seu relacionamento íntimo e especial com o Pai. Isto Ele fez, usando a expressão aramaica ’abba, que foi tomada por empréstimo do linguajar das crianças, equivalendo mais ou menos ao nosso “papai” ou “paizinho”.7 O Talmud diz que “quando uma criança saboreia o trigo (isto é, quando é desmamada), aprende a dizer ‘abba’ e ‘imma’ (Papai e mamãe)”.8 Com o passar do tempo o uso desta expressão também tornou-se comum entre os jovens e adultos para se referirem aos seus pais.9

Abba era um designativo tão familiar e íntimo que nenhum judeu ousaria usá-lo para Deus. Tal emprego, feito por Jesus, impressionou de tal forma os discípulos, que eles não traduziram a expressão para o grego.

Com exceção da oração de Mt 27.46, que seguiu a forma do Sl 22.1, em todas as suas orações, Jesus dirigiu-se a Deus como Abba.10

Permita-me mais uma vez usar as palavras de J. Jeremias, que pinta este quadro de forma singular:

Jesus dirigia-se a Deus como uma criancinha a seu pai, com a mesma simplicidade íntima, o mesmo abandono confiante (…). Jesus considerava este modo infantil de falar como a expressão do conheci­mento único de Deus que o Pai lhe dava, e de seus plenos poderes de Fi­lho.11

Isto implica em dizer que Jesus tinha plena consciência de ser, de modo único e singular, O Filho de Deus (Mt 11.27; Mc 13.32; 14.36). Quando a Igreja professou a sua fé na filiação divina de Jesus, o fez respaldada pelo próprio testemunho de Jesus, de ser o Filho de Deus. O que para os ouvintes foi uma novidade, a afirmação da Sua filiação divina por ocasião do batismo, para Ele foi apenas o testemunho público daquilo que Ele sempre soubera.

 

Maringá, 02 de janeiro de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


 

1 E. Jenni, Padre: In: Ernst Jenni; C. Westermann, eds. Diccionario Teologico Manual del Antiguo Testamento, Madrid: Ediciones Cristiandad, 1978, v. 1, p. 36.

2 Veja-se: J. Jeremias, A Mensagem Central do Novo Testamento, p. 11-12; J. Jeremias, O Pai-Nosso, São Paulo: Paulinas, 1976, p. 33-34. A referência ao seu deus como “Pai”, é um fenômeno comum na história das religiões, quer dos povos mais primitivos quer dos mais evoluídos culturalmente. (Cf. G. Schrenk, pa/thr: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1983 (Reprinted), v. 5, p. 951.

3 J. Jeremias, A Mensagem Central do Novo Testamento, p. 13.

4 J. Jeremias, A Mensagem Central do Novo Testamento, p. 20.

5 Cf. A. Richardson, Introdução à Teologia do Novo Testamento, São Paulo: ASTE., 1966, p. 149ss.

6 Agostinho, O Sermão da Montanha, São Paulo: Paulinas, 1992, II.4. p. 115.

7 “O emprego inteiramente novo, e, para os judeus, nunca imaginado, do termo infantil e familiar ‘abbã’ na oração é uma expressão de confiança e obediência para com o Pai (Mc 14.36), como também de Sua autoridade incomparável (Mt 11.25ss)” (O. Hofius, Pai: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 3, p. 383).

8 J. Jeremias, O Pai Nosso, p. 36,37; O. Hofius, Pai: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, v. 3, p. 382.

9 Cf. O. Hofius, Pai: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, v. 3, p. 382.

10 J. Jeremias, A Mensagem Central do Novo Testamento, p. 20ss.

11 J. Jeremias, O Pai Nosso, p. 37. Veja-se também, G. Kittel, a)bba=: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, v. 1, p. 6.

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