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Uma oração intercessória pela Igreja (142) - Hermisten Maia

Uma oração intercessória pela Igreja (142)

          7) Fé Cristocêntrica

            “Testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo” (At 20.21).

            A fé cristã é centrada em Cristo Jesus (Ef 1.15). Por isso, o Evangelho é a mensagem de Deus, procedente de Deus cujo conteúdo primeiro é a respeito do próprio Deus. Essa poderosa mensagem produz arrependimento e fé.

            Desse modo, Jesus Cristo é o próprio Evangelho. Ele é a encarnação da Boa Nova de salvação concedida por Deus ao seu povo. Sem Cristo não há Boa-Nova. Portanto, o Evangelho, antes de ser uma mensagem, é uma Pessoa: Jesus Cristo,[1] o Deus encarnado: verdadeiro Deus e verdadeiro homem. O Evangelho envolve a sua pessoa e o seu ensino. Não existe Evangelho sem Jesus Cristo. É a sua encarnação, morte e ressurreição conforme as Escrituras, que produz a mensagem. Portanto, sem esses fatos, não há mensagem a ser anunciada. “[Evangelho] é a solene publicação da graça revelada em Cristo”, assevera Calvino.[2]

            Por isso, pregar o Evangelho significa pregar Jesus Cristo:[3] “Esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho (eu)aggeli/zw), não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio” (Rm 15.20).[4] Onde a mensagem de Cristo chegara, o Evangelho fora anunciado.

            A mensagem de Jesus era: “Arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1.15). Antes de ser assunto aos céus, o Senhor ordenou aos seus discípulos:“Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado” (Mc 16.15-16).

            Sem a revelação de Deus jamais conheceríamos o Evangelho. Todavia, ele não termina em informação, antes exige arrependimento e fé. O Evangelho não apenas nos instrui, antes, é para ser crido e vivido. O arrependimento gera a tristeza para com o nosso pecado. A fé redireciona as nossas esperanças, redimensionando a nossa agenda de vida e prioridades à luz da Palavra. Portanto, a fé faz parte essencial da reivindicação graciosa do Evangelho. Por meio da graça mediante a fé somos capacitados a receber a graça da salvação.

            A pregação, portanto, visa ser compreendida por todos. Falamos de forma mais clara possível a fim de que os homens entendam o que estamos dizendo e o significado dessa mensagem que não é nossa, é de Deus. Contudo, a nossa tarefa não termina aqui: pregamos fiel, inteligente e submissamente, oramos, convidamos, testemunhamos e intercedemos.

            Toda proclamação cristã envolve em si mesma um desafio para que os nossos ouvintes respondam com fé ao nosso testemunho que nada mais é do que o anúncio do Evangelho. A aplicação dessa mensagem produzindo fé em seus ouvintes, pertence a Deus. Ele assim o faz conforme o seu propósito santo e glorioso.  Podemos até pregar mal e, de certa forma, todos pregamos, contudo, o Evangelho continua sendo o poder de Deus

            Lloyd-Jones escreve: “A pregação cristã não é meramente uma exortação, não é meramente um apelo, é a narração de fatos. O Espírito Santo habilita as pessoas a darem testemunho dos fatos e depois mostra o sentido e a significação deles aos ouvintes”.[5]

            A fé salvadora é uma fé Teológica e, esta é Cristocêntrica. A Teocentricidade da fé é Cristocêntrica.  A fé não é uma virtude humana, antes, é resultado da graça que nos faz confiar no Evangelho e descansar em Cristo. A questão primeira não está na intensidade de nossa fé, antes, em quem cremos. É o Senhor Jesus em sua majestade quem confere sentido à nossa fé e nos ajuda em nossa, por vezes, incredulidade (Mc 9.24). 

         Esta é a genuína fé cristã. Ela está enraizada no coração que foi regenerado por Deus. A fé salvadora é obra de Deus e é direcionada para Deus por meio de Cristo (Hb 12.2; 1Jo 5.1-5).[6] Contudo, o que nos salva não é a nossa fé, mas, o que Cristo por graça realizou por nós despertando a nossa fé nele.

Fé Salvadora

            A fé salvadora é um dom da graça de Deus, por meio do qual somos habilitados a receber a Jesus Cristo como nosso único e suficiente Salvador e, a crer em todas as promessas do Deus Trino, conforme estão registradas nas Escrituras.[7]

            O Catecismo Menorde Westminster (1647) na questão 86, assim define: “Fé em Jesus Cristo é uma graça salvadora, pela qual o recebemos e confiamos só nele para a salvação, como ele nos é oferecido no Evangelho”.

            Portanto, a pregação de Paulo era centrada em Cristo intimando seus ouvintes a se arrependerem de seus pecados e voltarem-se confiantes para Cristo em quem somente há salvação.

            A mensagem de arrependimento e fé deve acompanhar durante toda a história a vida da igreja. Precisamos constantemente de nos arrepender e crer. A nossa fé nem sempre triunfa de modo existencial durante as nossas angústias. E mais, a nossa fé deve ser desenvolvida, aperfeiçoada na realidade contínua de Deus em nossa vida.[8]

São Paulo, 5 de setembro de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Stott resumiu: “A boa nova é Jesus” (John R.W. Stott, A Missão Cristã no Mundo Moderno, Viçosa, MG.: Ultimato, 2010, p. 66). “O conteúdo do Evangelho é Jesus mesmo, não um credo ou uma doutrina ou teoria acerca Dele” (Alan Richardson, Así se hicieron los Credos: Una breve introducción a la historia de la Doctrina Cristiana, Barcelona: Editorial CLIE, 1999, p. 17).

[2]João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, p. 26.

[3] Veja-se: Alister E. McGrath, Paixão pela Verdade: a coerência intelectual do Evangelicalismo, São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 41-43.

[4]Para um estudo mais detalhado do emprego da palavra Evangelho, Vejam-se: Gerhard Friedrich, Eu)aggeli/zomai: In: Gerhard Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, v. 2, p. 707-737; U. Becker, Evangelho: In: Colin Brown, ed. ger. ONovo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, v. 2, p. 166-174; Rudolf Bultmann, Teologia del Nuevo Testamento, Salamanca: Ediciones Sigueme, 1980, p. 134-135; William F. Arndt; F. Wilbur Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature,2. ed. Chicago: University Press, 1979, in loc. p. 317-318; Euaggelion: W. Barclay, Palavras Chaves do Novo Testamento,São Paulo: Vida Nova, 1988, p. 73; Isidro Pereira, Dicionário Grego-Português e Português-Grego, 7. ed. Braga: Livraria Apostolado da Imprensa, (1990), in loc; W.G. Kümmel, Introdução ao Novo Testamento, São Paulo: Paulinas, 1982, p. 33-34; E.F. Harrison, Introducción al Nuevo Testamento, Grand Rapids, Michigan: Subcomision Literatura Cristiana, 1980, p. 131ss.; R.H. Mounce, Evangelho: In: J.D. Douglas, ed. org., O Novo Dicionário da Bíblia, São Paulo: Junta Editorial Cristã, 1966, v. 1, p. 566-567; R.H. Mounce, Evangelho: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, São Paulo: Vida Nova, v. 2, 1990, p. 109. H.J. Jager, Palabras Clave del Nuevo Testamento, 2. ed. Madrid: Fundacion Editorial de Literatura Reformada, 1982, v. 1, p. 7ss.; Evangelho: In: W.E. Vine; Merril F. Unger; William White Jr., Dicionário Vine: o significado exegético e expositivo das palavras do Antigo e do Novo Testamento, Rio de Janeiro: CPAD., 2002, p. 629; John N. Oswalt, Bãsar: In: R. Laird Harris; Gleason L. Archer, Jr.; Bruce K. Waltke, orgs. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 227; G. Strecker, Eu)agge/lion: In: Horst Balz; Gerhard Schneider, eds. Exegetical Dictionary of New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1978-1980, v. 2, p. 70-74.

[5]David Martyn Lloyd-Jones, Cristianismo Autêntico: Sermões nos Atos dos Apóstolos, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2006, v. 2, p. 260-261.

[6] “Olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus” (Hb 12.2). “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus; e todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao que dele é nascido. 2 Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: quando amamos a Deus e praticamos os seus mandamentos. 3 Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos, 4porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. 5Quem é o que vence o mundo, senão aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus?” (1Jo 5.1-5).

[7]“Somos reconhecidos como filhos de Deus, não por conta de nossa própria natureza, nem por nossa própria iniciativa, mas porque o Senhor nos gerou voluntariamente (Tg 1.18), ou seja, com base em seu amor imerecido. Daqui se deduz, primeiramente, que a fé não provém de nossa própria ação, senão que é fruto da regeneração espiritual. Pois o Evangelista afirma que ninguém pode crer, a não ser que seja gerado por Deus. Daqui se depreende que a fé é um dom celestial. Além do mais, a fé não é um mero e frio conhecimento, porquanto ninguém pode crer se porventura não for renovado pelo Espírito de Deus” (João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 1.13), p. 47-48).

[8]Veja-se: João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 2.11), p. 95.

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