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Uma oração intercessória pela Igreja (122) - Hermisten Maia

Uma oração intercessória pela Igreja (122)

         8.3. É preservada por Cristo   (Continuação)

            É extremamente difícil combater a um inimigo invisível.[1] Satanás procura confundir a Igreja, usando para isto várias táticas. Uma delas é semear o joio no meio do trigo, para que não saibamos quem é quem e, na pressa de distinguirmos um do outro, percamos parte do trigo e fiquemos com o joio (Mt 13.24-30; 36-43).

            No entanto, a despeito de nossa debilidade, Deus preserva a sua Igreja. Satanás usa de suas artimanhas para destruir a Igreja de Deus, entretanto, ela é sustentada pelo próprio Cristo. “O diabo não é tão contra nós como é contra Deus. Nada somos aos olhos seus, exceto que somos o povo de Deus. A paixão e ambição consumidora do diabo é danificar e destruir a obra de Deus”, interpreta Lloyd-Jones (1899-1981)[2]

   Satanás é muito poderoso. Sozinhos jamais poderíamos vencê-lo. Servos de Deus, em tempos diferentes, destacaram este ponto:

Aqueles que a tal combate se preparam na confiança de si próprios não compreendem suficientemente com quão aguerrido e bem equipado adversário se tenham de haver.[3] Existe um inimigo superior, inevitável, a quem é totalmente impossível resistir se Deus não vêm em nosso auxílio.[4] O homem que ainda não descobriu o poder da tentação é o mais típico novato em questões espirituais (…). O poder do inimigo contra nós somente é inferior ao poder de Deus. Ele é mais poderoso que qualquer homem que jamais viveu; e os santos do Velho Testamento caíram diante dele.[5]

            Devemos nos lembrar de que Satanás, que é o diabo (Ap 12.9; 20.2), apesar de limitado, porém, é ardiloso e tem muito poder, porém, não autogerado, antes, foi-lhe entregue.[6] 

            Portanto, não devemos nos desesperar. Jesus Cristo, o Senhor da Igreja tem total controle sobre todas as coisas, visíveis e invisíveis. Ele não dividiu nem abandonou a sua soberania. “Assim, ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém!” (1Tm 1.17).

Satanás como servo involuntário de Deus

            A Bíblia nos ensina que os Anjos bons estão a serviço de Deus, em favor dos eleitos (Hb 1.14);[7] são estes os anjos eleitos (1Tm 5.21). “Eles foram criados para realçar a glória de Deus por todos os meios possíveis”, interpreta Calvino.[8]

            A Palavra também nos ensina que Satanás que é o chefe dos anjos caídos (Mt 9.34; 10.25; 12.22-27), além de acusar os eleitos (Jó 1.18-21; Ap 12.9,10), tenta destruir, como se fosse possível, a obra de Cristo (Mt 4.1-11/Lc 4.13/Mt 13.24-30, 36-43; Mt 16.21-23; 2Co 4.1-6; 11.4).

            Entretanto, a Bíblia declara de forma inequívoca, que Satanás nada pode fazer sem a prévia permissão de Deus; por isso, Deus delimitou o seu raio de ação (Jó 1.12; Mc 5.7-13). Jesus Cristo tem todo o poder (Mt 28.18; Ap 4.10,11). “Cristo já derrotou Satanás uma vez para sempre, mas ele está sempre pronto para renovar a batalha”, conclui Calvino.[9]

            Em outros lugares escreveu sobre isto com a sua costumeira fidelidade bíblica:

É evidente que Satanás está sujeito ao poder de Deus, e é de tal maneira governado por sua vontade, que se vê obrigado a obedecer-lhe e a cumprir o que lhe manda.[10] Satanás com toda sua fúria e com suas forças se vê reprimido por seu mandato [mandato de Deus], como o cavalo pelo freio, e tudo quanto poderia impedir nosso bem e salvação depende de seu arbítrio e vontade [de Deus].[11] Paulo não lhe concede [a Satanás] o supremo governo, o qual pertence exclusivamente à vontade de Deus, a não ser que lhe atribui aquela tirania cujo exercício procede da permissão divina. O que é Satanás senão o verdugo de Deus para punir a ingratidão humana? (…) Satanás nada pode fazer senão aquilo que lho permite a vontade de um superior, e que ele não é au)tokra/twr.[12] Satanás mesmo, que opera interiormente com seu poder compelidor, é ministro de Deus, de tal maneira que ele só age em obediência à ordem divina.[13] Por isso afirmamos que os fiéis nunca, jamais poderão ser vencidos nem oprimidos por ele [Satanás].[14]

           Disso Calvino extrai grande conforto. Comentando o Salmo 62, aplica:

Como é possível temermos quando o Deus que nos cobre com a sombra de suas asas é o mesmo que governa o universo com um gesto seu, mantém secretas as cadeias do diabo e de todos os ímpios, e eficazmente administra os desígnios e intrigas deles?[15]

            O nosso conforto é-nos assegurado pelas Escrituras, conforme escreve Paulo e Pedro respectivamente: “Todavia, o Senhor é fiel; ele vos confirmará e guardará do Maligno”(2Ts 3.3). “Sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo. Nisto exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações”(1Pe 1.5).

Maringá, 05 de agosto de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] “Quando o inimigo é invisível, maior é o perigo” (João Calvino, Efésios, São Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 6.12), p. 190).“A vida cristã não é um mar de rosas; é um campo de batalha, na qual o crente tem de lutar continuamente pela sua vida. A primeira regra para o sucesso é: conheça o seu inimigo” (J.I. Packer, Vocábulos de Deus,São José dos Campos, SP.: Fiel, 1994, p. 76-77).

[2]D.M. Lloyd-Jones, O Combate Cristão, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991, p. 85. “Satanás aplica toda sua energia para tirar qualquer coisa de Cristo” (João Calvino, O evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 1.3), p. 35).

[3]J. Calvino, As Institutas, III.20.46.

[4]Karl Barth, La Oración, Buenos Aires: La Aurora, 1968, p. 86.

[5]D.M. Lloyd-Jones, Por Que Prosperam os Ímpios?, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1985, p. 16-17. Em outro lugar, Lloyd-Jones diz: “Se você não reconhecer que, todo o tempo em que estiver nesta vida e neste mundo, haverá este terrível poder infernal dentro de você, ao seu redor e sobre você, então será um mero neófito nestes assuntos! (…) O primeiro passo é que o homem tem que reconhecer e confessar sua pecaminosidade” (David M. Lloyd-Jones, O Clamor de um Desviado: Estudos sobre o Salmo 51, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1997, p. 16-17). “Só o cristão imaturo pensa que pode lidar com a tentação”. Somente este é que diz: “‘Isto nunca vai acontecer comigo. Não caio nessa’” (Tony Evans, Chega de Ceder à Tentação: In: Bruce H. Wilkinson, ed. ger. Vitória sobre a Tentação, 2. ed. São Paulo: Mundo Cristão, 1999, p. 177).

[6]Disse-lhe o diabo: Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser” (Lc 4.6/Jó 1.7-12).

[7] “É evidente que Deus emprega seus anjos de diferentes maneiras, pondo um só anjo sobre várias nações e também vários anjos sobre um só homem, Não há necessidade de sermos exigentes e escrupulosos inquirindo sobre o modo exato em que ministram juntamente para nossa segurança; baste que, conhecendo pela autoridade de um apóstolo o fato de serem eles designados como ministros sobre nós, descansemos satisfeitos com o fato de que estão sempre atentos a sua incumbência. Lemos em outra parte sobre sua prontidão em obedecer e executar as ordens divinas; e isso deve contribuir para o fortalecimento de nossa fé, visto que Deus faz uso de seus esforços para nossa defesa” (João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 3, (Sl 91.11), p. 452). Calvino nos alerta quando à temeridade de ir além do revelado nas Escrituras, inclusive quanto a esse assunto: “Consideremos do simples ensino da Escritura o que o Senhor quis saibamos nós acerca de seus anjos” (João Calvino, As Institutas, I.14.4). “Ora, ainda que da diversidade de nomes concluímos que há várias ordens, todavia, investigá-los mais minuciosamente, fixar seu número e determinar suas hierarquias, não seria mera curiosidade, e, sim, também temeridade ímpia e perigosa” (João Calvino, Efésios, São Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 1.21), p. 46). (Veja-se também: João Calvino, As Pastorais,São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 1.7), p. 34).

[8]João Calvino, Gálatas, São Paulo: Paracletos, 1998, (Gl 1.8), p. 33.

[9]J. Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 16.20), p. 519.

[10]J. Calvino, As Institutas, I.14.17. Vejam-se também: Idem., As Institutas, I.18.1; Idem., Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 1.24), p. 71; C.H. Spurgeon, Um Antídoto contra os Artifícios de Satanás: In: Bruce H. Wilkinson, ed. ger. Vitória sobre a Tentação, 2. ed. São Paulo: Mundo Cristão, 1999, p. 186.

[11]J. Calvino, As Institutas, I.16.3. Veja-se também: J. Calvino, As Institutas, I.17.11.

[12]João Calvino, Efésios, São Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 2.2), p. 53.

[13] J. Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 9.18), p. 337. “Satanás (ainda que, sem dúvida, ele nunca o tenha admitido, nem jamais admitirá) é uma ferramenta de Deus. Ao conceder a Satanás tanto poder, Deus se utiliza dele para executar o juízo divino sobre um mundo rebelde” (J.I. Packer, Vocábulos de Deus,São José dos Campos, SP.: Fiel, 1994, p. 81). Veja-se também: C.H. Spurgeon, Um Antídoto contra os Artifícios de Satanás: In: Bruce H. Wilkinson, ed. ger. Vitória sobre a Tentação, p. 186.

[14]J. Calvino, As Institutas, I.14.18.

[15] J. Calvino, O Livro dos Salmos, v. 1, (Sl 62.11), p. 584.

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