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Uma oração intercessória pela Igreja (116) - Hermisten Maia

Uma oração intercessória pela Igreja (116)

         7.4.5. O poder do Trino Deus na ressurreição de Cristo

              O apóstolo tomou como paradigma do poder de Deus, o que o Pai operou em Cristo o ressuscitando, fazendo-o assentar-se à sua direita (Ef 1.20). Por meio da ressurreição Cristo venceu a morte, conquistou a vitória sobre ela para todo o seu povo (1Co 15.26).[1]

            Na ressurreição temos a validação da integridade e eficácia do ministério terreno de Cristo[2] e a declaração do perdão para todos os que creem em Cristo como seu Salvador.[3]

          Bavinck enfatiza que “a ressurreição é a inversão divina da sentença que o mundo impôs a Jesus”.[4] Nela temos a manifestação pública de sua filiação divina e da aprovação de seu ministério.[5] “A ressurreição é o ponto que marca o começo de uma nova época na existência do Filho de Deus. Sendo antes Filho de Deus em debilidade e humilhação, pela ressurreição torna-se o Filho de Deus em poder”, interpreta Nygren (1890-1978).[6]

            O Pai glorificou o Filho na ressurreição conforme interpreta Hebreus: “Assim, também Cristo a si mesmo não se glorificou para se tornar sumo sacerdote, mas o glorificou aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei”(Hb 5.5).

            O Novo Testamento declara que a ressurreição de Cristo foi pelo poder do Trino Deus. Esta afirmação ora se refere simplesmente a Deus – denotando assim, o trabalho da Trindade –, ora se refere às pessoas distintamente. A ênfase, sem dúvida, é evidenciar a unidade da Trindade no mesmo propósito glorioso e salvador. O propósito eterno e harmonioso de Deus envolve a ação trinitária.

          Em alguns textos das Escrituras encontramos esta obra de modo distinto:

  1. Poder do Pai

                         “Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida” (Rm 6.4).

            “Paulo, apóstolo, não da parte de homens, nem por intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos” (Gl 1.1).

2. Poder do Espírito Santo

               “Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito” (1Pe 3.18/Rm 8.11).[7]

            O mesmo Espírito que gerou em Maria a Pessoa Divino-Humana de Cristo, o acompanhando e fortalecendo em todo o Seu Ministério, agiu decisivamente em Sua ressurreição,[8] a qual assinala a vitória de Deus sobre o pecado, a morte e Satanás (Mt 1.18/Lc 1.35; Mt 4.1/Lc 4.1; Is 11.1-2/Lc 4.18-19; Lc 3.31-32; 4.14; Mt 12.28; Jo 3.34; Hb 9.14).

3.  Poder do Filho

            18 Perguntaram-lhe, pois, os judeus: Que sinal nos mostras, para fazeres estas coisas? 19Jesus lhes respondeu: Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei. 20 Replicaram os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este santuário, e tu, em três dias, o levantarás? 21 Ele, porém, se referia ao santuário do seu corpo. 22Quando, pois, Jesus ressuscitou dentre os mortos, lembraram-se os seus discípulos de que ele dissera isto; e creram na Escritura e na palavra de Jesus” (Jo 2.18-22).

            17 Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir. 18 Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai” (Jo 10.17-18).

            O verbo divino dispunha de todo o poder para ressuscitar o Cristo encarnado, o que realmente o fez.

            Portanto, podemos entender biblicamente que a Trindade é responsável pela ressurreição de Jesus Cristo; o Pai, o Filho e o Espírito Santo manifestam o seu poder na ressurreição de Cristo. Por isso, o Novo Testamento com mais frequência atribui a ressurreição ao poder de Deus, sem mencionar a Pessoa (Ver: At 2.24; 3.15; 4.10; 5.30; 10.40; 13.30,37; Rm 10.9; 1Co 6.14; Cl 2.12, etc.).

            Comentando Rm 8.11, Calvino explica:

Cristo certamente ressuscitou por si mesmo e pelo seu próprio poder, mas como costumava atribuir ao Pai o poder divino que possuía, então o apóstolo apropriadamente transferiu para o Pai aquilo que era em Cristo uma obra própria de sua divindade.[9]

          Na ressurreição de Cristo, vemos aspectos de sua vitória. Os textos bíblicos referentes a Jesus Cristo como estando à direita de Deus, indicam o seu triunfo, honra, poder e glória. Por isso, Ele mesmo disse: “Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci, e me sentei com meu Pai no seu trono”(Ap 3.21).

          O regresso de Jesus, como Verbo Encarnado ao Pai evidencia a concretização completa de toda a obra a qual viera realizar.[10]

            A ascensão do Filho ressalta o cumprimento de sua missão, revelando o seu estado de Glória (Mc 16.19; At 2.32-36; 7.55; Cl 3.1; 1Tm 3.16; Hb 1.1-4) e Poder (Ef 1.20,21; 1Pe 3.22).

            Na realidade Jesus Cristo, retornou ao seu estado anterior à encarnação, quando Ele, espontaneamente renunciara a manifestação da glória e da dignidade divinas que faziam parte do seu ser (2Co 8.9; Fp 2.5-11/Jo 1.1-3; 17.1-5/Jo 3.13; 6.62; 7.33; 16.5/Ef 4.10).

          Conforme já vimos, a sua humilhação e a sua exaltação não afetaram a essência da sua natureza Divina.

            Vemos aqui, de passagem, a necessidade da ascensão: Aquele que veio num determinado momento histórico, no “estado de humilhação”, fazendo-se pobre (2Co 8.9); agora, após cumprir cabalmente a sua obra sacrificial, volta, no momento preciso, publicamente, no “estado de exaltação”, para Deus. A ascensão é uma das maiores evidências históricas da volta de Cristo ao seu estado de Glória (Jo 17.5,24).[11]

            A ressurreição e ascensão de Cristo significam o poder de Deus sobre todos os demais poderes que lhe são hostis (Ef 1.21), indicando, também que tudo lhe pertence, no céu e na terra, na vida e na morte. Temos aqui a coroação pública de sua vitória. Ele é o Senhor de todas as coisas. “Por sua ascensão ao céu, Cristo tomou posse do domínio que lhe fora dado pelo Pai, para que ordenasse e governasse todas as coisas pelo exercício de seu poder”, conclui Calvino.[12]

Maringá, 05 de agosto de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]“O último inimigo a ser destruído é a morte” (1Co 15.26).

[2]Veja-se: Alister E. McGrath, Paixão pela Verdade: a coerência intelectual do Evangelicalismo, São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 25.

[3]“A ressurreição de Cristo tinha como seu propósito trazer à luz o fato de que todos os que reconhecem a Jesus como seu Senhor e Salvador têm entrado num estado de justiça aos olhos de Deus. O Pai, ao ressuscitar a Jesus dentre os mortos, nos assegura que o sacrifício expiatório foi aceito; daí, nossos pecados são perdoados” (William Hendriksen, Romanos, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, (Rm 4.23-25), p. 214).

[4]Herman Bavinck, Teologia Sistemática,Santa Bárbara d’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 405.

[5] Veja-se: João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 2.7), p. 68-69. “Gerar [Sl 2.7], aqui, tem referência àquilo que foi feito conhecido. (…) Cristo foi declarado Filho de Deus pelo exercício público de um poder verdadeiramente celestial, ou, seja, o poder do Espírito, quando Ele ressuscitou dos mortos” (João Calvino, Romanos, 2. ed. São Paulo: Parakletos, 2001, (Rm 1.4), p. 39,40).

[6] Anders Nygren, Commentary on Romans, 5. ed. Philadelphia: Fortress Press, 1980, p. 51. “Por meio de sua gloriosa ressurreição, sua investidura com poder não só foi realçada, mas também começou a resplandecer em toda sua glória” (William Hendriksen, Romanos, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, (Rm 1.4), p. 58-59).

[7]“Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita” (Rm 8.11).

[8] Veja-se: Francis Turretin, Institutes of Elenctic Theology, Phillipsburg, New Jersey: P & R Publishing, 1994, v. 2, VI.xvii, p. 316.

[9]João Calvino, Romanos, 2. ed. São Paulo: Parakletos, 2001, (Rm 8.11), p. 282.

[10]Veja-se: Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, 4. ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1984, p. 396.

[11]5E, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo. (…) 24 Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo” (Jo 17.5,24).

[12]João Calvino, Efésios,São Paulo: Paracletos, 1988, (Ef 4.10), p. 118.

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