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Uma oração intercessória pela Igreja (111) - Hermisten Maia

Uma oração intercessória pela Igreja (111)

         7.4.4.4. O poder de Deus na sustentação de seus servos (Continuação)

            2) Deus pode suprir todas as nossas necessidades.

             Quando Paulo estimula os crentes de Corinto a ajudar os irmãos da Judéia que estavam em grande dificuldade econômica devido à fome e perseguição, ele os encoraja com o exemplo dos crentes da Macedônia e, fundamentalmente, com o modelo de Cristo. Então arremata: “Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria” (2Co 9.7).

            Na sequência, acrescenta: “Deus pode (dunate/w) fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra” (2Co 9.8).

            Aqui vemos a oração de Paulo no sentido de que Deus supra as necessidades dos coríntios e, ao mesmo tempo, os despertem, por graça, com um coração generoso para socorrer os irmãos necessitados. Um dos caminhos utilizados por Deus para responder às nossas orações e suprir nossas carências é a sua igreja.

            A Igreja é o corpo de Cristo e os diáconos, ainda que não sejam os únicos responsáveis por isso, são os braços de misericórdia do Senhor instituídos para o desempenho dessa assistência. Eles exercem, em parte, o “socorro” de Deus para com o seu povo (1Co 12.28): “Os diáconos representam a Cristo em seu ofício de misericórdia, e o exercício da misericórdia está vinculado com o consolo dos aflitos”, enfatiza Kuiper (1886-1966).[1] Do mesmo modo Calvino: “Nisto consiste o ofício dos diáconos: Devem demonstrar solicitude pelos pobres e atender às suas necessidades”.[2]

            O poder gracioso de Cristo se aperfeiçoa na fraqueza. É o que Deus diz a Paulo que estava em profunda agonia: “A minha graça te basta, porque o poder (du/namij) se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder (du/namij) de Cristo” (2Co 12.9).

            O poder de Deus nos acompanha mesmo nas pequenas coisas. Na sensação de angústia, especialmente quando elas se parecem mais profundas e penetrantes, este poder se torna mais palpável, evidente e real em nossa vida.

            As luzes da graça são como certas marcas orientadoras de faixas nas boas estradas, conhecidas como “olho de gato”. Você só as percebe quando escurece; seu brilho nos orienta. Porém, elas não são retiradas durante o dia. À noite as marcas são visíveis do mesmo modo que as estrelas no céu. Semelhantemente, Deus nos acompanha sempre com sua graça. Contudo, em geral, somente quando o nosso caminho parece mais escuro, tempestuoso e, por isso mesmo, inseguro, é que podemos perceber melhor o seu cuidado e direção.

            3) Paulo ora também para que a igreja de Roma seja rica de esperança no poder do Espírito Santo:E o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder (du/namij) do Espírito Santo” (Rm 15.13). (Ver também: Rm 16.25). A esperança não é uma utopia criada para nos sentir melhor, mas, deve ser amparada no poder de Deus que nos conduz gradativamente a conhecer e experimentar as suas promessas.

            4) Paulo reconhecendo a genuína fé dos colossenses, ora para que Deus os fortaleça com o seu glorioso poder.

9 Por esta razão, também nós, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual; 10 a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus; 11 sendo fortalecidos (dunamo/w) com todo o poder (du/namij), segundo a força (kra/toj) da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria, 12 dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz. (Cl 1.9-12).

            Em quase todos os textos citados vemos a prática da oração como meio de intercessão, gratidão e instrução. A oração é um recurso poderoso concedido por Deus aos crentes. Tiago nos ensina: “Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia (e)nerge/w), a súplica do justo” (Tg 5.16).

           A oração, conforme os preceitos bíblicos, está relacionada com a Providência de Deus. Se por um lado, nós não podemos delimitar a ação de Deus às nossas orações, por outro, devemos estar atentos ao fato de que Deus nos abriu a porta da oração a fim de exercitarmos a nossa fé em paciente submissão. Deus que ordenou os fins, também estabeleceu os meios necessários. Portanto, ambos são inseparáveis.[3] Em muitos casos, ainda que não possamos precisar todos os meios, sabemos que as nossas orações se constituem em meios estabelecidos por Deus dentro da execução de seus propósitos (Jo 16.24; Tg 4.2).[4]

       Entendemos que as nossas orações quando feitas por um motivo justo, por meio de Cristo e, partindo de um coração sincero, fazem parte da execução do plano de Deus. “Quando Deus nos dá aquilo que pedimos, é como se essas coisas tivessem nelas a estampa de nossas orações!, interpreta Flavel (1628-1691)”.[5]

       Paulo cria nisso. Essa era a sua perseverante fé que se materializava em suas constantes e fervorosas orações:16 não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações, 17 para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele” (Ef 1.16-17).

       Na oração não pretendemos informar algo a Deus, mudar os seus propósitos ou forçá-lo a agir conforme julgamos necessário. Pelo contrário. A oração é um exercício piedoso por meio do qual buscamos, pela fé, nos colocar sob sua soberania em alegre perseverança, sabendo que, ainda que não entendamos todas as coisas, a vontade de Deus é sempre perfeita, santa, justa e amorosa. Portanto, é a melhor para a nossa vida.[6]

       Quando oramos, estamos exercitando o privilégio que Deus nos concedeu, amparados na sua Palavra que nos mostra as suas promessas e pelo Espírito nos convence de sua fidedignidade.[7] A nossa oração é dirigida ao Pai, sabendo que Ele é um Pai onisciente e providente.

      Nesta mesma linha de raciocínio escreveu Packer:

O reconhecimento do fato da soberania de Deus é a base de [nossas] orações. Na oração, o cristão solicita coisas e agradece por elas. Por quê? Porque reconhece que Deus é a origem de todo bem que já possui e de todo bem que espera no futuro. Essa é a filosofia fundamental da oração cristã. A oração não é uma tentativa para forçar a mão de Deus, mas um humilde reconhecimento de incapacidade e dependência. Quando nos pomos de joelhos, sabemos que não somos nós que controlamos o mundo; não estando em nosso poder, portanto, atender nossas necessidades pelos nossos próprios esforços independentes; todas as coisas boas que desejamos para nós mesmos e para os outros devem ser procuradas em Deus; e se elas vierem, virão como dádivas de Suas mãos. (…) Por conseguinte, o que na realidade fazemos, cada vez que oramos, é confessar nossa própria impotência e a soberania de Deus. Dessa maneira, o próprio fato de um crente orar é uma prova positiva de que crê na soberania do seu Deus.[8]

Maringá, 31 de julho de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo,Grand Rapids, Michigan: SLC., 1985, p. 141.

[2]João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 4 (IV.13), p. 83. Apenas como curiosidade cito que o diaconato como ofício, permaneceu e se expandiu geograficamente, conforme atestam alguns documentos históricos. Vejam-se: Clemente de Roma, 1Coríntios,42.4; 44.5; 47.6; 54.2; 57.1; Inácio, Cartas: Aos Efésios,2.1; Aos Magnésios,2.1; 3.1; 6.1; 13.1; Aos Tralianos,2.3; 3.1; 7.2; 12.2; Aos Filadélfios,10.2; Aos Esmirnenses,8.1; À Policarpo,6.1; Irineu, Contra as Heresias,V.36.1; Eusébio de Cesaréia, História Eclesiástica,III.39.3-5,7; VI.19.19; 43.2; 43.11; VII.28.1; 30.2.12. Para uma visão histórica das transformações de seu ofício, vejam-se: Hervé Legrand, Diácono: In: Jean-Yves Lacoste, dir., Dicionário Crítico de Teologia, São Paulo: Paulinas; Loyola, 2004, p. 554-555; Hermann W. Beyer, Servir, Serviço: In: G. Kittel, ed. A Igreja do Novo Testamento,São Paulo: ASTE, 1965, p. 288-290.

[3] Veja-se: Paul Helm, A Providência de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 196-197.

[4]“Até agora nada tendes pedido em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa” (Jo 16.24). “Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque não pedis” (Tg 4.2).

[5]John Flavel, Se Deus Quiser,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1987, p. 26.

[6] “A oração ajuda a alinhar os nossos desejos com a vontade de Deus. Ela agrada a Deus porque é um ato de obediência à Sua Palavra, mas não fornece informações adicionais a Ele” (John MacArthur, Deus: Face a face com sua majestade, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2013, p. 61).

[7]Vejam-se: J. Calvino, As Institutas, III.2.2 e 7; J. Calvino, Exposição de Hebreus, (Hb 11.11), p. 318.

[8]J.I. Packer, Evangelização e Soberania de Deus, 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 1990, p. 11.

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