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Teologia da Evangelização (194) - Hermisten Maia

Teologia da Evangelização (194)

5.5. Devemos estar preparados para defender e confirmar o Evangelho (Continuação)

Os feitos de Deus: louvor e adoração

No Salmo 105, o salmista considerando as obras maravilhosas de Deus na história de Israel, instrui: Lembrai-vos (rk;z”) (zakar) das maravilhas que fez, dos seus prodígios e dos juízos (jP’v.mi) (mishpat)[1] de seus lábios” (Sl 105.5).

Asafe em profunda angústia, se reanima na consideração dos feitos de Deus:

2 No dia da minha angústia, procuro o Senhor; erguem-se as minhas mãos durante a noite e não se cansam; a minha alma recusa consolar-se.  3 Lembro-me de Deus e passo a gemer; medito, e me desfalece o espírito.  4 Não me deixas pregar os olhos; tão perturbado estou, que nem posso falar.  5Penso nos dias de outrora, trago à lembrança os anos de passados tempos.  6De noite indago o meu íntimo, e o meu espírito perscruta.  7Rejeita o Senhor para sempre? Acaso, não torna a ser propício?  8 Cessou perpetuamente a sua graça (ds,x,) (hesed)? Caducou a sua promessa para todas as gerações?  9Esqueceu-se Deus de ser benigno? Ou, na sua ira, terá ele reprimido as suas misericórdias?  10 Então, disse eu: isto é a minha aflição; mudou-se a destra do Altíssimo.  11 Recordo os feitos do SENHOR, pois me lembro das tuas maravilhas (al,P, (pele) da antiguidade.  12 Considero também nas tuas obras todas e cogito dos teus prodígios.  13 O teu caminho, ó Deus, é de santidade. Que deus é tão grande como o nosso Deus?  14 Tu és o Deus que operas maravilhas (al,P,) (pele) e, entre os povos, tens feito notório o teu poder. (Sl 77.2-14).

Asafe canta: “Graças te rendemos, ó Deus; graças te rendemos, e invocamos o teu nome, e declaramos as tuas maravilhas (al’P’) (pala) (Sl 75.1).

O salmista rememorando os feitos misericordiosos de Deus na história de seu povo, escreve: “Rendam graças ao SENHOR por sua bondade (ds,x,) (hesed) e por suas maravilhas (al’P’) (pala) para com os filhos dos homens!”(Sl 107.8).

O salmista assume um compromisso pessoal: “Louvar-te-ei, SENHOR, de todo o meu coração; contarei todas as tuas maravilhas (al’P’) (pala) (Sl 9.1).

Apologético, Missional e pedagógico

            Os feitos maravilhosos de Deus ultrapassam os limites de Israel. Isso tem também um propósito apologético e missionário. A igreja por sua vez, deve narrar os feitos de Deus com propósitos adoracionais e pedagógicos.

            No testemunho de Asafe vemos o propósito apologético-missional:

13 O teu caminho, ó Deus, é de santidade. Que deus é tão grande como o nosso Deus?  14 Tu és o Deus que operas maravilhas (al,P,) (pele) e, entre os povos, tens feito notório o teu poder. 15 Com o teu braço remiste o teu povo, os filhos de Jacó e de José.  16 Viram-te as águas, ó Deus; as águas te viram e temeram, até os abismos se abalaram.  17 Grossas nuvens se desfizeram em água; houve trovões nos espaços; também as suas setas cruzaram de uma parte para outra.  18 O ribombar do teu trovão ecoou na redondeza; os relâmpagos alumiaram o mundo; a terra se abalou e tremeu.  19 Pelo mar foi o teu caminho; as tuas veredas, pelas grandes águas; e não se descobrem os teus vestígios.  20 O teu povo, tu o conduziste, como rebanho, pelas mãos de Moisés e de Arão. (Sl 77.13-20).

Em outro lugar o salmista conclama o povo a anunciar entre os povos a glória e as maravilhas de Deus: “Anunciai entre as nações a sua glória, entre todos os povos, as suas maravilhas (al’P’) (pala) (Sl 96.3).

            O mesmo Asafe, estabelece a necessidade de educar seus filhos e as futuras gerações contando as maravilhas de Deus na história:

3 O que ouvimos e aprendemos, o que nos contaram nossos pais,  4 não o encobriremos a seus filhos; contaremos à vindoura geração os louvores do SENHOR, e o seu poder, e as maravilhas (alP‘) (pala) que fez.  5 Ele estabeleceu um testemunho em Jacó, e instituiu uma lei em Israel, e ordenou a nossos pais que os transmitissem a seus filhos,  6 a fim de que a nova geração os conhecesse, filhos que ainda hão de nascer se levantassem e por sua vez os referissem aos seus descendentes;  7 para que pusessem em Deus a sua confiança e não se esquecessem dos feitos de Deus, mas lhe observassem os mandamentos;  8 e que não fossem, como seus pais, geração obstinada e rebelde, geração de coração inconstante, e cujo espírito não foi fiel a Deus. (Sl 78.3-8).

            O nosso Senhor tem operado maravilhas em nossa cotidianidade. Os seus atos na história devem ser objeto de nossa reflexão e gratidão. Sei que é muito difícil para nós ultrapassarmos os limites do que é apenas imediatamente percebido, contudo, amparados da certeza de quem é o nosso Senhor, ainda que com modéstia epistemológica,[2] podemos vislumbrar aspectos da grandeza de sua direção em nossa vida. O Senhor deve ser louvado. Devemos instruir nossos filhos nesse caminho e proclamar a todas as pessoas os seus feitos.

            Esse Senhor maravilhoso que tem realizado grandes maravilhas, é o nosso Pastor. A sua mensagem deve ser proclamada a todos os povos.

 A Igreja e a sua bem-aventurança epistemológica e existencial

            O livro de Salmos abre as suas portas dando o direcionamento de todo o livro: o caminho da obediência e o caminho da desobediência ilustrando algumas das consequências inerentes a cada escolha.

A orientação positiva é: “Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores” (Sl 1.1).

            Portanto, o homem bem-aventurado do Salmo 1, é aquele que se agrada em meditar na Palavra, dando atenção aos mandamentos de Deus a fim de poder cumpri-los, tornando-os o modelo de sua agenda de pensar e praticar.

Deus se dignou em preservar a verdade por meio da sua Igreja. Quando ela falha, neste propósito, ainda que a verdade não seja abalada em sua essência, ela se torna fragilizada em sua exposição e aceitação.

 A igreja enfrenta aqui dois perigos evidentes:

            a) A “barganha” com o mundo. Na pretensão de ser ouvida de forma impactante, negocia os seus valores por meio da assimilação dos valores seculares. Na adoção desta prática, perde totalmente a sua relevância como voz profética de Deus para a sua geração. Estou convencido que muitas vezes isso também ocorre devido à nossa vaidade que aprecia ser reverenciada pelo mundo como sendo portadores de  “mente aberta”, “contextualizada” ou “sensível aos problemas contemporâneos”.

            Consideramos tudo isso como um grande troféu que, na realidade, é apenas mais uma armadilha que mais cedo do que imaginamos, nos conduzirá à falta completa de uma mentalidade bíblica. O fascínio egoísta pode nos conduzir a uma miséria que enfraquece a proclamação efetiva do Evangelho de Cristo.

            O outro perigo ao qual estamos sujeitos, é:

            b) A “privatização” da fé: a minha religião e nada mais. Criamos aqui uma espécie de tribalismo religioso onde cultivamos a nossa fé intramuros e nada temos a ver com o que se passa “lá fora”, exceto, quem sabe, por meio da internet ou televisão. Neste caso, a palavra de ordem é a autopreservação. Queremos apenas preservar nossos valores, associando o progresso dos outros a uma maior semelhança conosco. No profeta Jonas, temos um tipo ideal desta compreensão equivocada.[3]

            Kuyper (1837-1920) nos alerta quanto a esse perigo de forma eloquente:

Muito menos, devem os crentes se retirar para seus nichos eclesiásticos, e, satisfeitos com o simples ato de possuírem fé, deixar nas mãos dos descrentes a construção do templo da ciência, como se esta não lhes dissesse respeito. Os cristãos não podem agir assim porque o empreendimento científico não é um exercício do orgulho humano, mas, sim, um dever que o próprio Deus nos delegou.[4]

A igreja é chamada a atuar no mundo, tendo uma compreensão missionária de sua essência e existência. Esta compreensão programática engloba uma agenda que envolve uma mudança de perspectiva em nossa relação familiar, profissional, social, econômica, política e religiosa. A relevância da verdade sustentada pela igreja deve se manifestar em todas as esferas.

            A Igreja tem, portanto, a grande responsabilidade de estudar a Palavra, proclamá-la e vivenciá-la. Ela é o meio de demonstração desta verdade (Ef 3.8-11).[5] A nossa responsabilidade primeira é com a verdade de Deus.[6] Um desafio para a igreja, portanto, é pregar esta verdade com integridade, profundidade, firmeza e humildade.[7]

Maringá, 19 de março de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Enfatizam a suprema autoridade de Deus em nos prescrever as leis que devem regular as nossas relações e exigir que as cumpramos. “Agora, pois, ó Israel, ouve os estatutos e os juízos (jP’v.mi) (mishpat) que eu vos ensino, para os cumprirdes, para que vivais, e entreis, e possuais a terra que o SENHOR, Deus de vossos pais, vos dá. (…) 5 Eis que vos tenho ensinado estatutos e juízos (jP’v.mi) (mishpat), como me mandou o SENHOR, meu Deus, para que assim façais no meio da terra que passais a possuir.  (…)  8 E que grande nação há que tenha estatutos e juízos (jP’v.mi) (mishpat) tão justos como toda esta lei que eu hoje vos proponho? (…) 14Também o SENHOR me ordenou, ao mesmo tempo, que vos ensinasse estatutos e juízos (jP’v.mi) (mishpat), para que os cumprísseis na terra a qual passais a possuir” (Dt 4.1,5,8,14). “Chamou Moisés a todo o Israel e disse-lhe: Ouvi, ó Israel, os estatutos e juízos (jP’v.mi) (mishpat) que hoje vos falo aos ouvidos, para que os aprendais e cuideis em os cumprirdes” (Dt 5.1). “Estes, pois, são os mandamentos, os estatutos e os juízos (jP’v.mi) (mishpat) que mandou o SENHOR, teu Deus, se te ensinassem, para que os cumprisses na terra a que passas para a possuir” (Dt 6.1).

[2] “A fé reformada incentiva a humildade epistemológica ao tentar dizer o que Deus está fazendo na história. (…) A história de uma perspectiva calvinista é, na verdade, cheia de mistério” (Darryl G. Hart, 1929 e tudo aquilo, ou o que o calvinismo diz aos historiadores em busca de significado?: In: David W. Hall, Calvino em praça pública,  São Paulo: Cultura Cristã, 2017, p. 21).

[3]Veja-se: Tullian Tchividjian, Surpreendido pela graça, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, p. 99-100.

[4] A. Kuyper, Sabedoria e prodígios: graça comum na ciência e na arte, Brasília, DF.: Monergismo, 2018, p. 93.

[5] 8 A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo 9 e manifestar qual seja a dispensação do mistério, desde os séculos, oculto em Deus, que criou todas as coisas, 10 para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais, 11 segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Ef 3.8-11).

[6]Ver: Wayne A. Mack; David Swavely, A Vida na Casa do Pai, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 17-24.

[7]Veja-se: Joshua Harris, Ortodoxia humilde: defendendo verdades bíblicas sem ferir as pessoas, São Paulo: Vida Nova, 2013, p. 21.

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