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Teologia da Evangelização (184) - Hermisten Maia

Teologia da Evangelização (184)

5.2. A Pregação é responsabilidade e privilégio de todo o cristão (Continuação)

                            l) Firmeza doutrinária

         Não podemos adaptar ou supostamente ajustar a verdade de Deus aos interesses de nossos ouvintes, ao gosto moderno. A mensagem não é nossa, por isso, não podemos simplesmente alterá-la a nosso bel-prazer (2Co 4.2). Não é do despenseiro o alimento; é de Deus. Compete a ele recorrer à despensa (a Escritura) para administrar o alimento à família da fé.

O que se exige de nós como despenseiros, é que sejamos fiéis: Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros (oi)kono/moj) dos mistérios de Deus.  2 Ora, além disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel” (1Co 4.1-2).

            A palavra utilizada por Paulo (oi)kono/moj) fora empregada por Cristo para se referir ao “mordomo fiel” (pisto\j oi)kono/moj) (Lc 12.42). Em outra parábola, o contraste é estabelecido por meio da referência que Cristo fez ao “administrador infiel” (oi)kono/mon th=j a)diki/aj) (Lc 16.8), que tem o sentido de “injusto”, “iníquo”, “perverso”. [1]

            O “despenseiro” era em geral um escravo colocado à frente dos negócios do seu senhor (mordomo, gerente das terras, cozinheiros chefe, contador, etc.). Deste modo, o senhor ficava livre de maiores encargos administrativos. Por sua vez, o mordomo usufruía de considerável autoridade no gerenciamento do que lhe fora confiado. No entanto, apesar de toda a sua relevância para o dia a dia do seu senhor, a verdade é que o despenseiro não passava de um escravo. “Em relação ao seu senhor, ele era um escravo; em relação aos escravos, era um superintendente”, pontua Morris (1914-2006). [2]

            Para este ofício, além da competência, um ingrediente fundamental era a honestidade. Por isso, Paulo categorizar que “o que se requer dos despenseiros (oi)kono/moj) é que cada um deles seja encontrado fiel (pisto/j)” (1Co 4.2).

Em outro contexto, Paulo aplica a expressão “despenseiro” aos presbíteros, dizendo que o bispo deve ser “irrepreensível como despenseiro (oi)kono/moj) de Deus” (Tt 1.7). Do mesmo modo, Pedro falando à Igreja em geral, diz que devemos servir uns aos outros em nossas vocações,“cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros (kaloi\ oi)kono/mai) da multiforme graça de Deus”(1Pe 4.10).

            A nossa fidelidade será medida de acordo com a nossa obediência à Palavra, não por nossa popularidade ou “êxito” como pregadores. A avaliação pragmática é uma tentação enganosamente sutil com a qual muitos têm cedido (2Tm 4.1-5).

            Paulo não prescreve uma perfeição pastoral, como se fosse possível encontrar um homem sem pecado. Somos pecadores; Paulo sabia disso. Nenhum de nós está acima de alguma repreensão. Mas, a ênfase é que tais homens, a despeito de suas possíveis fraquezas e lutas, procurassem ser irrepreensíveis no exercício de sua vocação.[3]

Portanto, o presbítero deve ser inatacável como administrador dos bens de Deus que lhe foram confiados. Aliás, as características fundamentais do mordomo (= administrador, despenseiro, tesoureiro) são: fidelidade e prudência (Lc 12.42; 1Co 4.1-2; 1Pe 4.10). O presbítero é um servo que não se arroga no direito de fazer o que bem entender de seu ofício. Deus é o Senhor. A Igreja é de Deus. Todos somos servos e não devemos perder esta dimensão em nosso serviço. O despenseiro serve a Deus por meio da Igreja que é Deus.

            Há o perigo evidente quando somos investidos de certa autoridade, de começarmos a nos julgar senhores e não servos da Igreja de Deus. É preciso que vigiemos atentamente este ponto. Esta é uma tentação mais comum do que podemos imaginar. Independentemente da função que temos e por quantos anos a exercemos, somos servos, despenseiros.

            Devemos ter consciência da origem e conteúdo do que anunciamos. Paulo declara aos coríntios: “Porque nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra de Deus; antes, em Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus” (2Co 2.17) (Ver: 1Ts 2.4).

            Deus, Deus mesmo é quem chama, transforma, salva e alimenta o seu povo, por meio da sua Palavra (Lc 8.11; Rm 1.16; 8.29-30; Tt 3.5).

Maringá, 04 de março de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]  a)diki/a (Lc 13.27; 18.6; Rm 1.18,29, etc.)

[2] Canon Leon Morris, 1 Coríntios: introdução e comentário, São Paulo: Vida Nova; Mundo Cristão, 1981, (1Co 4.1), p. 59.

[3] Veja-se: João Calvino, Sermões sobre Tito,  Brasília, DF.: Monergismo,  2019, (Tt 1.5-6), p. 60. (Edição do Kindle).

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