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Teologia da Evangelização (116) - Hermisten Maia

Teologia da Evangelização (116)

           3.5. A Igreja como proclamadora do Evangelho (Continuação)

                  A Igreja é uma testemunha comissionada pelo próprio Deus, para narrar os seus atos gloriosos e salvadores. A igreja é o meio ordinário de Deus para esta tarefa.

Assim, a sua mensagem não foi recebida de terceiros, mas, sim, diretamente de Deus, por intermédio da Palavra do Espírito, registrada nas Sagradas Escrituras.

O “Ide”, ordenado aos apóstolos é uma mensagem a toda igreja à qual eles representavam naquele momento.[1] A mensagem não é terceirizada, ela é responsabilidade de toda a igreja.[2] A Igreja declara ao mundo, o “Evangelho do Reino”, visto e experimentado por ela em sua cotidianidade.

Stott comenta: “A Igreja e o evangelho são inseparáveis (…). A Igreja é tanto o fruto como o agente do evangelho, visto que por meio do evangelho a igreja se desenvolve e por meio desta se propaga aquele”.[3] O testemunho da Igreja é resultado de uma experiência pessoal: o Espírito dá testemunho do Filho, porque procede do Pai e do Filho (Jo 14.26; 15.26; Gl 4.6). Nós damos testemunho do Pai, do Filho e do Espírito, porque os conhecemos e temos o Espírito em nós (Jo 15.26,27; 14.23/Rm 8.9).

Notemos, contudo, que a experiência da Igreja não se torna a base da sua proclamação; ela anuncia não as suas experiências mas, a Palavra de Deus. A nossa tarefa é ensinar o Evangelho tal qual registrado nas Escrituras, em submissão ao Espírito que nos dá compreensão na e por meio da Palavra (Sl 119.18).

          Encontramos exemplos desse testemunho em Estevão, que falava cheio do Espírito Santo (At 6.10; 7.55). Em Paulo, que após receber o Espírito no ato da sua conversão, passou a pregar que Jesus era o Filho de Deus (At 9.17-20; 13.9-12) e, também, em Barnabé, no seu breve, porém profícuo ministério em Antioquia (At 11.21-25). 

          O poder do Espírito não significa simplesmente uma vitória sobre as dificuldades, antes, ele nos fala do triunfo, mesmo quando a derrota nos parece evidente. Assim, Estevão testemunhou no poder do Espírito e foi apedrejado.

Paulo cumpriu seu ministério sob a direção do Espírito e foi preso e martirizado. Esses exemplos, que não são isolados, nos falam de uma aparente derrota e frustração, todavia, é apenas uma falsa percepção dos fatos.

O poder do Espírito é a capacitação para levar adiante a mensagem de Cristo, mesmo que isto nos custe o mais alto preço do testemunho, que é o martírio

. A Igreja no poder do Espírito declara solene e corajosamente: “Nós não podemos deixar de falar das cousas que vimos e ouvimos” (At 4.20). “Antes importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5.29). “Estou pronto não só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém, pelo nome do Senhor Jesus” (At 21.13).

          A Igreja tem, com muita frequência, se distanciado daquilo que a caracteriza: a pregação da Palavra[4] que consiste no ensino da verdade[5] e o genuíno culto ao Deus verdadeiro. Ela tem feito discursos políticos, sociais, ecológicos, etc., todavia, tem se esquecido de sua prioridade essencial: pregar a Palavra a fim de que os homens se arrependam e sejam batizados, ingressando, assim, na Igreja. Com isto, não estamos defendendo um total distanciamento da Igreja do que ocorre na História, pelo contrário, a Igreja deve agir de forma evidente e efetiva na História.

A igreja age de forma eficaz não com discursos rotineiros a respeito da pobreza, da violência, do desmatamento e aquecimento global, mas, sim, na proclamação do Evangelho de Cristo, que é o poder de Deus para a transformação de todos os homens que creem (Rm 1.16-17). Os confrontos que certamente virão, serão provocados não por um gosto insano por debates, mas, pela contínua pregação expositiva fiel da Palavra que, que sua integridade toca em todas as facetas da complexa existência humana.

A recomendação paulina é:

Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina (didaskali/a); pelo contrário, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em todas as cousas, suporta as aflições, faze o trabalho de evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério. (2Tm 4.2-5).

Maringá, 14 de novembro de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Cf. J.I. Packer,  Força na Fraqueza, Vencendo no poder de Cristo  São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 43.

[2] “Alguns são chamados à obra missionária como uma vocação especial, mas testemunhar de Cristo não cabe só a estes: é dever de todo cristão” (James M. Boice, Fundamentos da Fé Cristã: Um manual de teologia ao alcance de todos,  Rio de Janeiro: Central Gospel, 2011, p. 562).

[3]John R.W. Stott; Basil Meeking, editores, Dialogo Sobre La Mision, Grand Rapids, Michigan: Nueva Creación, 1988, p. 62.

[4]Podemos tomar operacionalmente a definição dada por Alexander Vinet (1797-1847) à pregação: “A pregação é a explicação da Palavra de Deus, a exposição das verdades cristãs, e a aplicação dessas verdades ao nosso rebanho” (A.R. Vinet, Pastoral Theology: or, The Theory of the Evangelical Ministry,2. ed. New York: Ivison, Blakeman, Taylor & Co. 1874, p. 189).

[5]“Uma igreja com um grande número de membros, com um imponente edifício, com uma elaborada liturgia, com uma eficiente organização e com vestimentas digníssimas, porém sem a verdade, não é uma igreja. Por outro lado, uma igreja com pouquíssimos membros, com um edifício que não é mais que uma choça, com uma ordem simples de adoração, com um mínimo de organização e sem vestiduras eclesiásticas, é uma igreja de Jesus Cristo se somente é leal à verdade” (R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo,p. 101).

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