Teologia da Evangelização (111)
3.4.2.2. O Poder do Espírito na Evangelização
O Evangelho é o poder de Deus (Rm 1.16). A Palavra da Cruz é o poder de Deus (1Co 1.18).[1] A “Palavra da Graça” é poderosa para nos edificar (At 20.32; 2Tm 3.15).[2] Jesus Cristo é o poder de Deus (1Co 1.24).[3] Paulo pregou o evangelho com demonstração do Espírito e de poder para que a fé dos coríntios não se apoiasse em palavras, mas em poder (1Co 2.4-5; 1Ts 1.5).[4] O evangelho não parte de fábulas inventadas (2Pe 1.16).[5] “[A] fé saudável equivale à fé que não sofreu nenhuma corrupção proveniente de fábulas”, interpreta Calvino.[6]
Em Atos 4.33, lemos: “Com grande poder (du/namij) os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus…”. A Igreja cumpria a missão dada por Jesus Cristo com fidelidade, pois Ele mesmo ordenou: “… e sereis minhas testemunhas…”(At 1.8).
A Igreja teve uma experiência pessoal com o seu Senhor e, foi comissionada por Ele mesmo a dar testemunho perante o mundo, dos atos salvadores de Deus e das suas virtudes[7] (Mt 16.15; Mt 28.19,20; 1Pe 2.9,10).[8]
A eficácia do ministério da Igreja consiste em apontar para a obra eficaz de Jesus Cristo, testemunhando, então, o perdão do seu próprio pecado. A Igreja apresenta-se como resultado histórico, fruto da ação misericordiosa de Deus em Cristo. Ela não cria, nem é a mensagem; é apenas o sinal mais ou menos luminoso, dependendo de sua fidelidade à Palavra, que aponta para o seu Senhor (Mt 5.14-16; At 2.14ss; 5.30-32; 20.27-21; 22.12-15; 26.22,23; 1Jo 1.2,3).
A missão da Igreja inspira-se e fundamenta-se no exemplo Trinitário.[9] O Pai envia o seu Filho (Jo 3.16), ambos enviam o Espírito à Igreja (Jo 14.26; 15.26; Gl 4.6),[10] habitando em nossos corações (Rm 8.9-11,14-16);[11] e nós, como embaixadores, somos enviados pelo Filho, sendo guiados pelo Espírito de Cristo (Jo 17.18; 20.21)[12].[13] O modelo de nossa missão temos, de modo especial, no Filho. O Deus encarnado é o modelo mais sublime da missão da igreja. Missão requer engajamento de serviço e este, não pode prever e controlar os riscos.
Maringá, 09 de novembro de 2022.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1]“Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder (du/namij) de Deus” (1Co 1.18).
[2]“Agora, pois, encomendo-vos ao Senhor e à palavra da sua graça, que tem poder (du/namai) para vos edificar e dar herança entre todos os que são santificados” (At 20.32). “E que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem (du/namai) tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2Tm 3.15).
[3] “… nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder (du/namij) de Deus e sabedoria de Deus” (1Co 1.23-24).
[4]“A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder (du/namij), para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder (du/namij) de Deus” (1Co 2.4-5). “Porque o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder (du/namij), no Espírito Santo e em plena convicção, assim como sabeis ter sido o nosso procedimento entre vós e por amor de vós”(1Ts 1.5).
[5]“Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade” (2Pe 1.16).
[6]João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (Tt 1.14), p. 320. “Se porventura desejarmos conservar a fé em sua integridade, temos de aprender com toda prudência a refrear nossos sentidos para não nos entregarmos a invencionices estranhas. Pois assim que a pessoa passa a dar atenção às fábulas, ela perde também a integridade de sua fé” (João Calvino, As Pastorais, (Tt 1.14), p. 320). “Fábulas (…) aqueles contos fúteis e levianos que não têm em si nada de sólido” (João Calvino, As Pastorais, (1Tm 1.4), p. 29).
[7] “Deus é revelado em sua Palavra; portanto, pregar a Palavra de Deus é pregar seu caráter, sua vontade e tudo que o define em termos verdadeiros, é exaltá-lo como ele deve ser exaltado” (John MacArthur, Prega a Palavra: In: John MacArthur, ed. O Pastor como Pregador. Eusébio, CE.: Editora Peregrino, 2016, [p. 9-25], p. 10).
[8]“E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mt 16.15). “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt 28.19,20).“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia” (1Pe 2.9,10).
[9] Veja-se: Hermisten M.P. Costa, A Tua Palavra é a Verdade, Brasília, DF.: Monergismo, 2010, p. 66-67.
[10]“Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (Jo 14.26). “Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim” (Jo 15.26). “E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai!” (Gl 4.6).
[11]“9 Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. 10 Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito é vida, por causa da justiça. 11 Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós habita. (…) 14 Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. 15 Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. 16 O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8.9-11, 14-16).
[12]“Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo” (Jo 17.18). “Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20.21).
[13] Recentemente li a afirmação do teólogo luterano Vicedom: “Deus é o sujeito ativo da missão. Deus Pai enviou o Seu Filho, e ambos enviaram o Espírito Santo. A Trindade envia a igreja e os crentes em particular, para cumprir a tarefa da grande missão” (Georg Vicedom, A missão como obra de Deus: introdução a uma teologia da missão, São Leopoldo, RS.: Sinodal, 1996, p. 34). Do mesmo modo, entre outras obras de Stott, veja-se: John R.W. Stott, A Missão Cristã no Mundo Moderno, Viçosa, MG.: Ultimato, 2010, p. 25ss.).