Warning: strpos() expects parameter 1 to be string, array given in /home/hermisten/www/wp-includes/blocks.php on line 20

Warning: strpos() expects parameter 1 to be string, array given in /home/hermisten/www/wp-includes/blocks.php on line 20

Warning: strpos() expects parameter 1 to be string, array given in /home/hermisten/www/wp-includes/blocks.php on line 20
Teologia da Evangelização (47) - Hermisten Maia

Teologia da Evangelização (47)

2.4.3.2.2.6.5. Acomodação injustificável 

A justificação é um presente gratuito à parte das obras, mas a graciosa imputação de Deus de Sua justiça e o perdão das transgressões não podem ser reais, se não forem acompanhadas de santidade. – Shedd (1929-2016).[1]

Eu creio, Senhor, na divina promessa,
Vitórias já tive nas lutas aqui.
Contudo, é mui certo que a gente tropeça;
Por isso, Senhor, eu preciso de ti – [2]

A justificação eterna e objetiva, conforme os propósitos de Deus em Cristo, e a justificação subjetiva,[3]recebida pela fé, se consumam em nossa união com Cristo,[4] em quem somente há a justiça perfeita exigida por Deus.

          A obra de Cristo envolve ambos os aspectos da mesma graça. Esta união se revela e se desenvolve em nossa obediência aos mandamentos de Deus que podemos chamar de justificação demonstrativa. “A justiça imputada para justificação e a justiça inerente para a santificação devem estar inseparavelmente unidas”, conclui Watson (c. 1620-1686).[5]

          Em linha semelhante, pontuou Whitefield (1714-1770): “Pela justificação de Cristo os crentes passam legalmente a ter vida; pela santificação são tornados espiritualmente vivos; pela primeira recebem, o direito à glória; pela segunda são tornados dignos da glória”.[6]

          Não fomos salvos porque Deus se agradou de nossas supostas obras de justiça, do nosso justo modo de viver, antes, ele nos declarou justos, nos perdoando os nossos pecados, aplicando em nós a justiça de Cristo, nos capacitando a viver em novidade de vida, conforme o nosso novo status. O preço de nossa justificação, gratuita para nós, custou o sangue de Cristo Jesus. A justificação, por envolver a regeneração,[7] é uma vocação incondicional à santificação conforme a vontade de Deus.[8]

          A justificação nos livra da condenação do pecado. Deus chama pecadores, todavia, não deseja que continuem assim, antes, infunde neles a justiça de Cristo, dando-lhes um novo coração, mudando as inclinações de sua alma, habilitando-os a toda boa obra (Ef 2.8-10)[9].[10] “Cristo a ninguém justifica, a quem ao mesmo tempo, não santifique”, escreve Calvino.[11]

          Todavia, a realidade do pecado ainda existe em nós, o justificado é simultaneamente justo e pecador (“Simul justus et peccator”) (“justo – aceito e tratado como uma pessoa reta por Deus – embora ainda um pecador”) conforme expressão de Lutero (1483-1546).[12] Ele é declarado justo por Deus. Aqui não é o ponto final, antes, o início. As evidências de seu novo nascimento vão, gradativamente, se tornando mais claras por meio de sua obediência a Deus em santificação.

          A nossa justificação é pela graça mediante a fé (Gl 3.11; Fp 3.9; Tt 3.4-7). [13]  “A fé é o instrumento pelo qual o pecador recebe e aplica a si tanto Cristo como sua justiça”.[14]

          O veredito de Deus sobre o pecador o considera justo porque ele, pela fé, aceitou a justiça de Cristo. Esta justiça nada tem a ver com obras humanas, antes é uma “justiça de fé”. É uma justiça amparada nas obras de Cristo que recebemos pela fé.

  Se assim não fosse, como já mencionamos, a fé seria por si mesma meritória, sendo a obra sacrificial de Cristo descartada por sua total inutilidade. Como acentua Bavinck:

A fé não justifica por meio de sua própria essência, nem age por ela mesma ser justa, mas por seu conteúdo, porque é fé em Cristo, que é nossa justiça. Se a fé justificasse por si mesma, o objeto desta fé (isto é, Cristo) perderia totalmente seu valor. Mas a fé que justifica é precisamente a fé que tem Cristo como seu objeto e conteúdo.[15]

          Há um hino antigo muito apreciado nas igrejas, que reflete esta compreensão bíblica, Firmeza na Fé,[16] cuja primeira estrofe e coro, dizem assim:

Somente ponho a minha fé
Na graça excelsa de Jesus,
No sacrifício remidor,
No sangue do bom Redentor.

A minha fé e o meu amor
Estão firmados no Senhor,
Estão firmados no Senhor.

          Por sua vez, deve ser acentuado que a justificação subjetiva marca o nosso novo itinerário de vida, já selado em nossa eleição eterna, rumo à glorificação com o Senhor, vivendo, conforme o propósito de Deus, para as boas obras, fruto da fé,[17] preparadas pelo próprio Deus para o Seu povo (Ef 2.10). A justificação é frutuosa. A graça justificadora jamais é estéril. A justificação implica necessariamente em santificação. A santificação pressupõe essencialmente a justificação. Não ousemos dividir o indivisível. A separação destas duas verdades de nossa salvação, propicia cair no equívoco da anomia, declarando que já não há mais lei; portanto, não precisamos de santificação visto que, considerados salvos, podemos fazer o que bem entendermos. No entanto, a verdade bíblica é outra: somos declarados justos para vivermos em santidade.[18]

          Portanto, insisto, a nossa real justificação tem implicações éticas. A santificação é a grande evidência de nossa nova relação com Deus. A nossa justificação nos dá o status de filhos. Como tais, salvos para sempre (Ef 1.5,13-14).[19] O desafio para nós hoje é viver em harmonia com a nossa nova natureza e condição, andando, conforme vimos, nas obras preparadas por Deus para nós (Ef 2.8-10).[20]

Maringá, 21 de agosto de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Russell P. Shedd, A Justificação: A resposta de Deus para uma vida cristã autêntica, 2. ed. rev.São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 28. À frente, enfatiza: “A ausência de boas obras, então, é a prova concreta de que qualquer justificação alegada é imaginária” (Russell P. Shedd, A Justificação: A resposta de Deus para uma vida cristã autêntica, 2. ed. rev.São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 30).

[2] Primeira estrofe do Hino “Necessidade”, nº 68 do Hinário Presbiteriano Novo Cântico. Hino composto pelo pastor metodista, Antônio de Campos Gonçalves (1899-1983) (letra) e Henriqueta Rosa Fernandes Braga (1909-1983)(música).

[3] Vejam-se: L. Berkhof, Teologia Sistemática, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 520-521; Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 4, p. 203ss.; 222ss.; Abraham Kuyper, A Obra do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 383-384.

[4]“A justiça que nos justifica, portanto, não deve ser separada da pessoa de Cristo. Ela não consiste de um dom material ou espiritual que Cristo nos concede fora de Si mesmo, ou que nós podemos aceitar e receber sem que aceitemos e recebamos a pessoa de Cristo. Não há possibilidade de se desfrutar dos benefícios de Cristo sem que haja comunhão com a pessoa de Cristo e a comunhão com Cristo invariavelmente traz consigo os benefícios de Cristo. Para ser aceito diante de Deus, para ser livre de toda culpa e punição e para desfrutar da glória de Deus e da vida eterna, nós temos que ter Cristo, não algo dele, mas o próprio Cristo” (Herman Bavinck, Teologia Sistemática, Santa Bárbara d’Oeste, SP.: SOCEP.,2001, p. 499).

[5]Thomas Watson, A Fé Cristã, estudos baseados no breve catecismo de Westminster, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 266.

[6]George Whitefield, Cristo: Sabedoria, Justiça, Santificação, Redenção, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, [s.d.], p. 8.

[7] “A regeneração é inseparável de seus efeitos, e um destes efeitos é a fé” (John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p. 119).

[8]“É certamente verdade que somos justificados em Cristo tão somente pela misericórdia divina, mas é igualmente verdade e correto que todos quantos são justificados são chamados pelo Senhor para que vivam uma vida digna de sua vocação. Portanto, que os crentes aprendam abraçá-lo, não somente para a justificação, mas também para a santificação, assim como ele se nos deu para ambos os propósitos, para que não venham a mutilá-lo com uma fé igualmente mutilada” (João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 8.13), p. 274). Ver também: João Calvino, Efésios, (Ef 2.10), p. 63.

[9]8Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; 9 não de obras, para que ninguém se glorie. 10 Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.8-10).

[10] “A justificação é unicamente pela fé. A santificação não é unicamente pela fé. A totalidade da vida cristã é uma vida de fé, porém na santificação temos que agir, e desenvolver, despir-nos e vestir-nos; como o apóstolo nos diz em todos esses pormenores que nos oferece aqui. (Ef 4)” (D.M. Lloyd-Jones, As Trevas e a Luz,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1995, p. 130).

[11] João Calvino, As Institutas,III.16.1.

[12]“Somos em parte pecadores e em parte justos” (M. Lutero, A Epístola aos Romanos: In: Martinho Lutero: Obras Selecionadas, São Leopoldo; Porto Alegre, RS.: Sinodal; Concórdia, 2003, v. 8,  (Rm 12.2), p. 322. Vejam-se também: G.C. Berkouwer, Faith and Sanctification, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1952, p. 71ss.; R.C. Sproul, A natureza forense da justificação: In: John F. MacArthur, Jr., et. al., A Marca da Vitalidade Espiritual a Igreja: Justificação pela Fé Somente, São Paulo: Editora Cultura Cristã, (2000), p. 34; Thomas R. Schreiner; M. Barret, Somente pela fé: a doutrina da justificação. São Paulo: Cultura Cristã, 2017, p. 46-48; J.I. Packer, A Redescoberta da santidade,  2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2018, p. 83-84; R.C. Sproul, O Mistério do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 1997, p.123.

[13]“E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé(Gl 3.11). 8Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo 9 e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé(Fp 3.8-9). 4 Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos,  5 não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo,  6 que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador,  7 a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna(Tt 3.4-7).

[14] Catecismo Maior de Westminster,Pergunta 73. Bavinck, ainda que não de modo convincente, argumenta de forma restritiva quanto à expressão “causa instrumental” atribuída à fé (Veja-se: Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 4, p. 224-225).

[15]Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 4, p. 214.

[16] Hino do pastor e compositor britânico, Edward Mote (1797-1874), traduzido pelo pastor gaúcho, Francisco Caetano Borges da Silva (1863-1963?). A letra utilizada foi extraída do Hinário Presbiteriano Novo Cântico, Hino nº 93.

[17] Vejam-se: Catecismo de Heidelberg, p. 86; Confissão Belga, Art. 24; Segunda Confissão Helvética, XVI.2; Confissão de Westminster, XVI.2.

[18]“…. nunca se deve abrir uma lacuna entre a justificação e a santificação.  (…) Você não pode, você não deve tentar dividir Cristo. É falsa a doutrina que diz que você pode ser justificado sem ser santificado. É impossível; você é ‘santo’ antes de ser ‘fiel’. Você foi separado. É por isso que você crê. Estas coisas estão entrelaçadas indissoluvelmente. Não permita Deus que as separemos ou que as dividamos, jamais!” (D.M. Lloyd-Jones, O Supremo Propósito de Deus, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1996, p. 33). Sobre esta correta ênfase de Lloyd-Jones, veja-se: Iain H. Murray, A vida de D. Martyn Lloyd-Jones 1899-1981: uma biografia, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2014, p. 331-332.

[19]5 nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, (…) 13 em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa;  14 o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória(Ef 1.5,13-14).

[20]8Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus;  9 não de obras, para que ninguém se glorie.  10 Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas(Ef 2.8-10).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *