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A Pessoa e Obra do Espírito Santo (484) - Hermisten Maia

A Pessoa e Obra do Espírito Santo (484)

3.4.1.1.2. A igualdade entre o homem e a mulher

Os textos também revelam a prioridade social e governamental do homem, não a sua superioridade essencial (Ef 5.22; 1Co 11.3-12; 1Pe 3.6,7).[1] É preciso que não confundamos a primazia e liderança com o domínio tirânico. “A masculinidade e a feminilidade identificam seus respectivos papéis. Conforme Deus determinou, o homem, em virtude de sua masculinidade, é chamado a liderar. E a mulher, em virtude de sua feminilidade, é chamada para ajudar. (…) Mas, observe: dominação masculina é uma falha pessoal e moral, não uma doutrina bíblica”.[2]         

            Deus, ao criar a mulher, não a fez inferior. Ela também foi feita conforme à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.27). A ordem divina quanto ao povoar, dominar, guardar e cultivar a terra é responsabilidade de ambos. Os dois partilham dos deveres e responsabilidades conferidos por Deus. Sozinhos, ambos são insuficientes para cumprirem o propósito de Deus em suas vidas.

            Harriet e Gerard comentam:

A passagem [Gn 1.26-31] claramente indica que na sua origem a fêmea foi criada da mesma substância do macho; ela não é inferior quanto ao seu ser ou pessoa. Ela não é inferior como portadora da imagem, representante ou espelho de Deus na vida diária. A mulher é uma pessoa tanto quanto o homem. Assim como o macho é, a fêmea é feita à imagem e semelhança do Deus triúno e consequentemente tem o seu próprio relacionamento pessoal e espiritual com Deus. Neste particular ela é absolutamente igual ao homem. Ela também recebeu o mesmo mandato que o seu marido recebeu. Ele deveria cultivar o jardim com ele, dominar sobre ele e com o marido, ser frutífera e povoar a terra. No capítulo 2 ela, juntamente com o seu marido, recebeu o mandato espiritual de continuar a andar com Deus. Ela e o seu marido são proibidos de comer do fruto da árvore. Ambos recebem o mandato social de serem frutíferos.[3] 

            Homem e mulher foram criados à imagem e semelhança de Deus. Dentro do propósito da criação, há uma correlação entre ambos: o homem se completa na mulher e a mulher se completa no homem. Ambos são o que são enquanto são para o outro.

            A relação entre o homem e a mulher deve refletir a relação de amor e compreensão que existe entre Deus e nós. A concretização de nossa humanidade dá-se na comunhão com o outro.

            A nossa humanidade se plenifica na relação de troca e de complemento. Homem e mulher são imagem de Deus, cabe a ambos, lado a lado, viver em harmonia para a glória de Deus, realizando o propósito proposto por Deus para eles, até que volte o Senhor. A Igreja deve ser a grande amostra dessa relação, ainda que imperfeita na presente vida, mas que caminha para a perfeição, quando o Senhor restaurar toda a natureza e todas as relações. Maranata!

            Com a queda de nossos primeiros pais, resultado da sua rebelde desobediência, houve a separação entre o homem, agora pecador, e o Deus Santo, Justo, Puro e Sublime (Is 59.2). Com isso, toda a criação sofreu as consequências, se deteriorando todas as relações, a começar entre o homem e Deus. Em decorrência, a família começa a se degenerar: Adão, racionalizando o seu pecado, acusa Eva e indiretamente a Deus; entre seus filhos, o primogênito Caim – a quem Eva saúda como um varão que adquiriu “com o auxílio do Senhor” –, mata o seu próprio irmão e agora, ainda desobedecendo a Deus, não passa a ter uma vida errante, contudo, é obrigado a viver longe de seus pais (Gn 4.16).

            A redenção em Cristo restabelece todas as relações e, o Espírito Santo, a terceira pessoa da Trindade, está diretamente relacionado a isso. Paulo faz uma conexão direta entre o enchimento do Espírito e o relacionamento familiar.

1) Submissão e respeito por parte das esposas: (Ef 5.22-24,33)

Paulo não dispondo de um exemplo melhor para falar da união matrimonial, recorre, inspirado por Deus, à relação mais sublime de todas, a de Cristo com a Sua Igreja; ele usa um argumento dedutivo, partindo do maior para o menor: se Cristo assim se relaciona com a Igreja, esta tem a sua responsabilidade para com o Seu Senhor; do mesmo modo, conclui Paulo, há responsabilidade recíproca entre os maridos e as esposas. Portanto, a relação de Cristo com a Sua Igreja é da mesma natureza da relação matrimonial.[4] O matrimônio é então tratado como uma relação integral de corpo e alma e para sempre.

            Ele inicia pelas esposas, que figuradamente representam a Igreja: “As mulheres sejam submissas a seus próprios maridos, como ao Senhor”(Ef 5.22). Pode parecer estranho falar desta forma em nossos dias; contudo, a Palavra de Deus assim nos ensina e mostra, que o Espírito toca, modifica e recria todas as relações, mesmo aquelas que temos como mais caras. No entanto, quando os princípios bíblicos se assemelham a alguma manifestação cultural de determinada época, enganamo-nos se entendermos que aqueles são decorrentes desta, isto porque a Palavra de Deus nos conduz à motivações diferentes, ainda que em determinados momentos o comportamento possa ser semelhante.

            Paulo compara a esposa à Igreja, dizendo que assim como a Igreja deve ser submissa a Cristo, que é o seu Cabeça, as esposas devem ser submissas aos seus maridos, por ser este seu cabeça. Esta submissão bíblica deve ser precedida de respeito; “pois não existe submissão voluntária sem que seja precedida de reverência”.[5]

            Harriet e van Groningen acentuam: “Nós reenfatizamos que, para que uma esposa reconheça seu marido como o cabeça da família, ela não deve, de maneira alguma, suprimir sua personalidade, seu papel, e os dons e posições que ela tem como uma pessoa real”.[6]

            Um aspecto que deve nortear a nossa abordagem, é que conforme o ensino Escriturístico, o homem e a mulher se completam harmoniosamente, sendo um dependente do outro (1Co 11.11,12): ambos provêm do mesmo Deus que os criou.

            Portanto, quando, por exemplo, o marido é desprestigiado em sua autoridade, os danos no relacionamento conjugal e na educação dos filhos são incalculáveis; de fato: “um lar sem cabeça é um convite ao caos”.[7] Creio que nem sempre isso tem sido percebido inclusive nos lares cristãos, quando mesmo em brincadeiras, os maridos são alvos de situações ridículas, onde preponderam – às vezes patrocinados por esposa e filhos –, aspectos do seu temperamento ou mesmo, de algum trejeito, vestuário ou aparência. É preciso saber preservar a sua condição de “cabeça” da esposa e consequentemente, do lar. Um lar sem autoridade caminha para o seu esfacelamento. Isto nos conduz, portanto, à responsabilidade dos maridos.

Maringá, 16 de maio de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Veja-se: Bruce K. Waltke; Cathi J. Fredericks, Gênesis, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, (Gn 2.18), p. 104.

[2] Raymond C. Ortlund, Jr., Igualdade Masculino-Feminina e Liderança Masculina: In: John Piper; Wayne Grudem, compiladores, Homem e Mulher: seu papel bíblico no lar, na igreja e na sociedade,p. 40.

[3]Harriet; Gerard van Groningen, A Família da Aliança, p. 94. Veja-se também: Gerard van Groningen, Criação e Consumação, São Paulo: Cultura Cristã, 2002, v. 1, p. 86.

[4] D.M. Lloyd-Jones, Vida No Espírito: No Casamento, no Lar e no Trabalho, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991, p. 108.

[5] João Calvino, Efésios,São Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 5.33), p. 177.

[6]Harriet; Gerard van Groningen, A Família da Aliança, p. 102.

[7] William Hendriksen, Exposição de Efésios, (Ef 5.23), p. 308.

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