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A Pessoa e Obra do Espírito Santo (453) - Hermisten Maia

A Pessoa e Obra do Espírito Santo (453)

6.4.12.2. Revelação e pleno conhecimento de Deus (17)   (Continuação)     

Deus vocacionou seus diversos servos para que ensinando à Igreja, ela amadureça no pleno conhecimento de Cristo por meio da verdade. Paulo ora a esse respeito e ensina, exorta, estimula, corrige e consola.

            Nesta linha, o Apóstolo instrui os efésios:

11 E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, 12 com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, 13 até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento (e)pi/gnwsij) do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, 14 para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha (*kubei/a = ‘trapaça”, “embuste”)[1] dos homens, pela astúcia (panourgi/a[2] = “ardil”, “truque”, “maquinação”, “trapaça”, “sutileza”, “manha”), com que induzem (meqodei/a = “esquema”, “engano”, “ciladas”, “manobra”)[3] ao erro (planh/ = “vaguear”, “desilusão”, “desviar”, “sedução”).[4] 15 Mas, seguindo a verdade (a)lhqeu/w) em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo. (Ef 4.11-15).

            Paulo assume então o seu ministério com este propósito:    “Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, para promover a fé que é dos eleitos de Deus e o pleno conhecimento (e)pi/gnwsij) da verdade segundo a piedade” (Tt 1.1).

Ainda que não possamos esgotar, exaurir completamente a verdade, o desejo de Deus é que pessoas de todas as classes e povos cheguem ao pleno conhecimento da verdade, ou seja, que tenhamos um conhecimento verdadeiro, genuíno da verdade: “O qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento (e)pi/gnwsij) da verdade” (1Tm 2.4).[5]

            O Espírito age em consonância com este propósito, iluminando-nos para que possamos conhecer a Palavra de Deus. Calvino resumiu este ponto de forma precisa:

Enquanto o Senhor não os abrir, os olhos de nosso coração são cegos. Enquanto não formos instruídos pelo Espírito, nosso bendito Mestre, tudo o que conhecemos não passa de futilidade e ignorância. Enquanto o Espírito de Deus não descortinar diante de nós por meio de uma revelação secreta, o conhecimento de nossa divina vocação não poderá ir além da compreensão de nossas mentes naturais.[6]

            É neste sentido que Paulo ora com certa frequência a respeito das igrejas.

            Aos efésios, como temos visto:

16 não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações, 17 para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento (e)pi/gnwsij) dele, 18 iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos 19 e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder. (Ef 1.16-19).

Aos filipenses, enquanto escreve, interrompe com esta oração: “E também faço esta oração: que o vosso amor aumente (perisseu/w)[7] mais e mais (ma=llon kai\ ma=llon) em pleno conhecimento (e)pi/gnwsij) e toda a percepção” (Fp 1.9).

            No mesmo sentido ora o apóstolo Pedro:

Graça e paz vos sejam multiplicadas, no pleno conhecimento (e)pi/gnwsij) de Deus e de Jesus, nosso Senhor. Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo (e)pi/gnwsij) daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude. (2Pe 1.2-3).

Por mais sábios espiritualmente que sejamos, esta é uma Escola da qual jamais poderemos nos afastar. É preciso continuar aprendendo sempre. Os efésios conheciam a Palavra, porém, estavam começando; estavam apenas no início da vida cristã. É preciso, continuar, seguir em frente. Deus propicia os meios para isso. Paulo, ensinou, pregou, escreveu e ora pelos efésios.

            Pedro fala que este conhecimento de Deus aliado às diversas virtudes cristãs, não se torna inativo, antes frutuoso:       “Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento (e)pi/gnwsij) de nosso Senhor Jesus Cristo” (2Pe 1.8).

            Isto implica reafirmar que a nossa santidade passa necessariamente pelo conhecimento de Deus e, que a santificação tem não simplesmente um sentido subjetivo, mas, também, objetivo, em nossa vida prática.[8]

            Portanto, a santidade cristã, tendo como modelo a santidade perfeita de Deus,[9] evidencia-se em todas as nossas relações:

….segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento (a)nastrofh/), porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo. Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um, portai-vos (a)nastre/fw)[10] com temor durante o tempo da vossa peregrinação. (1Pe 1.15-17).

São Paulo, 06 de abril de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] kubei/a (só ocorre aqui em todo o Novo Testamento), palavra que vem de ku/boj, astúcia, dolo, que, passando pelo latim, cubus, chegou à nossa língua como cubos, dados. Significa a habilidade para manipular os dados, usando de truques para iludir e persuadir. Paulo emprega a palavra figuradamente para se referir ao homem que usa de todos os seus truques para enganar, dar pistas erradas e driblar; revelando aqui a habilidade de um jogador profissional sem escrúpulos, que obviamente quer levar vantagem a qualquer preço.

Calvino, enfatiza que “Deus nos deu sua Palavra na qual, quando fincamos bem as raízes, permanecemos inamovíveis; os homens, porém, fazendo uso de suas invenções, nos extraviam em todas as direções” (João Calvino, Efésios,(Ef 4.14), p. 128-129).

[2]A palavra em sua origem estava associada à capacidade do homem em realizar qualquer trabalho, habilidade, sendo empregada de forma negativa e positiva. Há, contudo, uma pressuposição negativa que entende que aquele que conhece o caminho para a conquista terminará por usá-lo de forma inescrupulosa. No Novo Testamento, sempre ocorre de forma negativa: Lc 20.23; 1Co 3.19; 2Co 4.2; 11.3; Ef 4.14. Panourgo/j * 2Co12.16. (Vejam-se: O. Bauernfeind, Panourgi/a: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament,Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1983 (Reprinted), v. 5, p. 722-727; D.A. Carson, Astúcia: In: Colin Brown, ed. ger., O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 1, p. 248-249).

[3] *Ef 4.14; 6.11.

[4]Vejam-se: H. Braun, Plana/w: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament,Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1983 (Reprinted), v. 6, p. 228-253; W. Günther, Enganar: In: Colin Brown, ed. ger., O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 2, p. 38-42.

[5] Veja-se: João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (2Tm 2.4), p. 59-61.

[6]João Calvino, Efésios,São Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 1.16), p. 41.

[7] perisseu/w = crescer, abundar, exceder, encher, transbordar, progredir. (Vejam-se: Mt 5.20; At 16.5; Rm 5.15; 15.13; 1Co 15.58; 2Co 1.5; 8.2,7; 9.8; Ef 1.8; Fp 1.26; 4.12, 18; 1Ts 3.12; 4.1,10).

[8] Ver: Joseph R. Schultz, Santificação: In: Carl F.H. Henry, org. Dicionário de Ética Cristã, São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 537.

[9] “O início mesmo da santificação é a doutrina da Pessoa e do Ser de Deus” (D.M. Lloyd-Jones, Santificados Mediante a Verdade, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, (Certeza Espiritual, v. 3), 2006, p. 99).

[10]Tanto o substantivo “procedimento” (a)nastrofh/) como o verbo (a)nastre/fw) têm o sentido literal de: “volta para trás”, “entornar”, “derrubar”. O sentido figurado, conforme emprega Pedro, é de “comportamento”, “condução”, “modo de vida”, “estilo de vida”, “conversação”, “conduta”, etc. Como o verbo e o substantivo são neutros, o adjetivo é que vai qualificar o procedimento.

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