A Pessoa e Obra do Espírito Santo (445)
6.4.12.1.4. A Sabedoria do Espírito na cotidianidade do povo de Deus
A sabedoria que procede de Deus tem virtudes próprias que não a confundem. Vejamos o tratamento instrutivo que apresenta Tiago:
13Quem entre vós é sábio (sofo/j) e inteligente (e)pisth/mwn)? Mostre em mansidão de sabedoria (sofi/a), mediante condigno proceder, as suas obras. 14 Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade. 15 Esta não é a sabedoria (sofi/a) que desce lá do alto; antes, é terrena, animal e demoníaca. 16 Pois, onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins. 17 A sabedoria (sofi/a), porém, lá do alto é, primeiramente, pura (a(gno/j = santa, honesta);[1] depois, pacífica (ei)rhniko/j),[2] indulgente (e)pieikh/j [3] = moderada, cordata, tolerante, gentil), tratável (*eu)peiqh/j = simpática, razoável), plena de misericórdia (mesto/j e)/(leoj) e de bons frutos (karpo/j a)gaqo/j), imparcial (*a)dia/kritoj = inabalável, resoluta, isenta de duplicidade), sem fingimento (a)nupo/kritoj [4] = não hipócrita, real, verdadeira). 18 Ora, é em paz que se semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz. (Tg 3.13-18).
A sabedoria bíblica consiste não no acúmulo de conhecimento, antes, em um modo de vida que reflita a sabedoria de Deus revelada em Cristo Jesus, em quem temos o modelo encarnado da plenitude de sabedoria. A sabedoria é decorrente de nossa comunhão com Cristo e a partir dessa realidade, no modo como edificamos a nossa vida.[5]
Ser sábio é aplicar o conhecimento adquirido à arte de viver em comunhão com Deus refletindo isso em todas as dimensões de nossa existência. Sabedoria é a associação teórica e prática entre conhecimento e santidade que se manifesta em piedade.
De acordo com a nossa nova natureza, devemos andar com sabedoria, de forma distinta de nossa antiga vida, procurando compreender a vontade de Deus, tendo o cuidado para não sermos enganados por falsos ensinamentos que cultivam uma mera e vazia aparência de verdade:
6Ninguém vos engane com palavras vãs; porque, por essas coisas, vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. 7Portanto, não sejais participantes com eles. 8 Pois, outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz no Senhor; andai como filhos da luz 9 (porque o fruto da luz consiste em toda bondade, e justiça, e verdade), 10provando sempre o que é agradável ao Senhor. 11E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as. 12 Porque o que eles fazem em oculto, o só referir é vergonha. 13Mas todas as coisas, quando reprovadas pela luz, se tornam manifestas; porque tudo que se manifesta é luz. 14Pelo que diz: Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará. 15Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios (*a)/sofoj), e sim como sábios (sofo/j), 16 remindo o tempo, porque os dias são maus. 17Por esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor. (Ef 5.6-17).
A Palavra, por nos revelar Jesus Cristo, o Deus Encarnado e, de modo decorrente, por suas instruções, torna-nos sábios para a salvação preparada por Deus para nós desde a eternidade.
As Escrituras nos capacitam a ter um padrão unificador da realidade, indo além da mera aparência ou de verdades fragmentadas. Com o coração purificado pela Palavra temos maior sensibilidade e discernimento para ver na Criação e em nossa vida, o agir de Deus, a ação de Jesus Cristo o seu Filho, a sua direção, cuidado e proteção. Aquilo que pode parecer banal ao homem natural, para nós, há, ainda que muitas vezes por meios naturais, a manifestação sobrenatural do cuidado, da preservação e, até mesmo, da disciplina de Deus (Hb 12.6-7).
Nós só vemos o que somos capazes de ver.[6] Deste modo, onde alguns ouvem um ruído, poderemos perceber uma sinfonia.[7] Em lugar de variadas cores, talvez desconexas para muitos, enxerguemos o arco-íris. Onde outros veem com admiração um céu estrelado, veremos a manifestação da glória de Deus (Sl 8.1; 19.1).[8]
A questão primeira e fundamental, não está em uma nova paisagem, antes, em uma visão nova da mesma paisagem.[9] As Escrituras conferem sentido à realidade de nosso conhecimento.
MacArthur escreve com agudez bíblica: “Aquele cujo coração é purificado por Jesus Cristo vê frequentemente a glória de Deus. (…) A pureza de coração purifica os olhos da alma para que Deus seja visível”.[10]
São Paulo, 30 de março de 2022.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1] *2Co 7.11; 2Co 11.2; Fp 4.8; 1Tm 5.22; Tt 2.5; Tg 3.17; 1Pe 3.2; 1Jo 3.3.
[2] *Hb 12.11; Tg 3.17.
[3] *Fp 4.5; 1Tm 3.3; Tt 3.2; Tg 3.17; 1Pe 2.18.
[4] *Rm 12.9; 2Co 6.6; 1Tm 1.5; 2Tm 1.5; Tg 3.17; 1Pe 1.22.
[5] Veja-se: Vern S. Poythress, O Senhorio de Cristo: servindo o nosso Senhor o tempo todo, em toda a vida e de todo o nosso coração, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 53.
[6]Hendriksen e especialmente Barclay (1907-1978) desenvolvem este conceito com variações estimulantes. Vejam-se: William Hendriksen, Mateus, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, v. 1, (Mt 5.8), p. 387-388; William Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, Buenos Aires: La Aurora, 1973, v. 1, (Mt 5.8), p. 116-117.
[7]Veja a figura em Polanyi, citada por McGrath (Alister E. McGrath, Surpreendido pelo sentido: ciência, fé e o sentido das coisas, São Paulo: Hagnos, 2015, p. 24).
[8]“Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! Pois expuseste nos céus a tua majestade” (Sl 8.1). “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Sl 19.1).
[9]Veja-se: Alister McGrath, A fé e os credos, São Paulo: Cultura Cristã, 2017, p. 35ss.
[10] John MacArthur Jr., O Caminho da Felicidade, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 148.