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A Pessoa e Obra do Espírito Santo (424) - Hermisten Maia

A Pessoa e Obra do Espírito Santo (424)

6) Sem predileções

                         “28Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue. (…) 31 Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um” (At 20.28,31).

          Quem são as ovelhas do pastor? As que dão mais trabalho? As mais próximas, amigas e afáveis? Talvez não costumemos teorizar sobre isso. Mas, é natural que nos inclinemos para aquelas com as quais mais nos identificamos por motivos variados: faixa etária, generosidade para conosco, gosto em aprender, afinidades familiares, interesses comuns, desprendimento para com os serviços da igreja etc.

          Paulo, no entanto, procurou pastorear a todos igualmente conforme a necessidade de cada um. Ele pastoreava “todo o rebanho” (28). O pastorado é sobre todos aqueles que nos foram confiados. Mesmo aquelas ovelhas mais difíceis. Ele fala que admoestou com lágrimas “a cada um”(31).

          Pastoreamos a todos publicamente e, também, a cada um dentro das circunstâncias das particularidades que se nos mostrarem como oportunidades.

          Na instrução de Jesus Cristo a Pedro, demonstrou que ele deveria cuidar dos jovens e novos na fé com integridade e sensibilidade (Jo 21.15),[1] bem como alimentar e pastorear toda a igreja (Jo 21.16-17)[2] conduzindo-os todos à maturidade.[3]

7) Comprometimento com a mensagem

                    20jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa. (…) 34 vós mesmos sabeis que estas mãos serviram para o que me era necessário a mim e aos que estavam comigo.  35Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é mister socorrer os necessitados e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar que receber” (At 20.20,34,35).

          Paulo esforçava-se por pregar todo o desígnio de Deus e, ao mesmo tempo, ser uma carta viva para as suas ovelhas. Ele não negligenciou as suas responsabilidades; antes, cuidou daqueles que estavam próximos, entendendo que era um privilégio abençoador poder ajudar os que menos tinham. A sua mensagem, portanto, não era apenas um belo discurso, mas, um testemunho evidente e ratificador do quão a sério levava o que pregava.

8) Sem preconceitos sociais e raciais

                    “21 testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo. (…) 26 Portanto, eu vos protesto, no dia de hoje, que estou limpo do sangue de todos. (…) 28 Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue. (…) 31 Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um” (At 20.21,26,28,31).

          Como todos somos pecadores, independentemente de raça, cor e condição social, a mensagem do Evangelho deve ser anunciada a todos. Lembremo-nos de que o rico e o pobre são igualmente dependentes da graça de Deus. Portanto, não exclusivisemos a mensagem a grupos que julguemos “mais carentes do Evangelho”.

          Se há uma coisa na qual não há distinção entre as classes, é o pecado: Todos pecaram (Rm 3.23). Portanto, a mensagem de arrependimento e fé provinda do Evangelho deve ser proclamada a todas as pessoas, sem exceção.

O apóstolo testemunhou a todos. Os nossos conceitos habituais de grandeza e miséria, sucesso e fracasso, em geral, são bastante diferentes do conceito absoluto de Deus.[4]  

 

9) Senso de prioridade

                    Mesmo tendo diante de si múltiplas tarefas, inúmeras necessidades, aspirações e, naturalmente, limitações próprias, o apóstolo sabia cultivar o senso de prioridade:

22 E, agora, constrangido em meu espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que ali me acontecerá, 23 senão que o Espírito Santo, de cidade em cidade, me assegura que me esperam cadeias e tribulações. 24 Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus. (At 20.22-24).

          A sua viagem à Jerusalém era necessária. Aliás, a sua estada em Mileto devia-se parcialmente a isso. Os sofrimentos viriam; tinha consciência. No entanto, ele não perdia a sua escala de prioridade; sabia o que lhe competia.[5] Paulo estava convencido que não veria mais aqueles irmãos (a sua colocação é enfática), isto porque o Espírito lhe revelara tal fato (23,25). Daí a sua urgência em ensinar, viajar, pregar e pregar. Ele mantinha em foco o ministério que lhe fora confiado.

          A partir de uma escala de valores bíblica, é preciso ter o senso de prioridade. Saber o que Deus deseja de nós e nos apegar firmemente a isso e prosseguir. Foi assim que o apóstolo procedeu. Em nossa obediência a Deus, o nosso labor nunca será em vão (1Co 15.58).

          O Reformador João Calvino (1509-1564), sabia bem o que era isso, sendo arrastado para tarefas que nem sempre desejava e mesmo compreendia, no entanto, pode escrever mais tarde:

Nada poderá encher-nos de mais coragem do que o reconhecimento de que fomos chamados por Deus. Pois desse fato podemos inferir que o nosso labor, que está sob a direção divina e no qual Deus nos estende sua mão, não ficará infrutífero. Portanto, pesaria sobre nós uma acusação muito grave caso rejeitássemos o chamado divino.[6]

Maringá, 26 de fevereiro de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] “Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Ele lhe disse: Apascenta  (Bo/skw) (= alimentar, cuidar)  os meus cordeiros” (Jo 21.15).

[2]16Tornou a perguntar-lhe pela segunda vez: Simão, filho de João, tu me amas? Ele lhe respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Pastoreia (poimai/nw) as minhas ovelhas (proba/tion). 17Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me amas? Pedro entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu me amas? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo. Jesus lhe disse: Apascenta (Bo/skw) as minhas ovelhas (proba/tion) (Jo 21.16-17).

[3] Veja-se: Derek Prime; Alistair Begg, Ser pastor, São Paulo: Cultura Cristã, 2017, p. 40.

[4] Sobre a pregação presbiteriana no Brasil e as suas causas sociais envolvendo a emancipação da escravidão, veja-se: Boanerges Ribeiro, Protestantismo e Cultura Brasileira. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1981, p. 279-307. O Rev. Eduardo Carlos Pereira foi um ardoroso defensor da abolição. Os textos que publicou na Imprensa Evangélica foram reunidos e publicados em livro em 1886, sob o título, A religião cristã em sus relações com a escravidão, veja-se: https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=midias&id=222799  (Devo ao Dr. Wilson de Angelo Cunha a indicação dessa obra bem como a aplicação feita).

[5]“Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” (2Tm 4.7).

[6]João Calvino, As Pastorais,São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 6.12), p. 173. Sempre é bom lembrar, que toda a sua obra foi produzida não num clima de sossego e paz, numa “torre de marfim”, mas em meio a inúmeros problemas: administrativos, domésticos, financeiros e, principalmente, de saúde. (Vejam-se: John Calvin, To Farel, “Letters,” John Calvin Collection,[CD-ROM], (Albany, OR: Ages Software, 1998), nº 34; John Calvin, To the Physicians of Montpellier, “Letters,” John Calvin Collection,[CD-ROM], nº 665; John Calvin, To Monsieur de Falais, “Letters,” John Calvin Collection,[CD-ROM], 161; T.H.L. Parker, Portrait of Calvin, London: SCM Press, 1954, p. 72; Thea B. Van Halsema, João Calvino era Assim,São Paulo: Editora Vida Evangélica, 1968, p. 131-132; David Mathis, Introdução: A glória divina e a labuta diária. In: John Piper; David Mathis, eds. Com Calvino no Teatro de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 15-16 (em especial).

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