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A Pessoa e Obra do Espírito Santo (372) - Hermisten Maia

A Pessoa e Obra do Espírito Santo (372)

6.4.9.1.1. Discipulado, fidelidade e sofrimento

O Senhor descreve os sofrimentos que estarão sujeitos os seus discípulos – estes que se esforçam por viver conforme ele os instruiu (Mt 5.3-9). Ele fala de forma mais genérica de perseguição, exemplificando-as:

1) Injuriar

“Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem (o)neidi/zw)” (Mt 5.11). O sentido da palavra é de repreender, insultar, censurar. A palavra não indica uma atitude má em si, a questão está em seu motivo e propósito

          Jesus, por exemplo, repreendeu as cidades pela dureza do coração de seus habitantes: “Passou, então, Jesus a increpar (o)neidi/zw) as cidades nas quais ele operara numerosos milagres, pelo fato de não se terem arrependido” (Mt 11.20).

          Ele também, após a ressurreição, censurou os seus discípulos por sua incredulidade: “Finalmente, apareceu Jesus aos onze, quando estavam à mesa, e censurou-lhes (o)neidi/zw) a incredulidade e dureza de coração, porque não deram crédito aos que o tinham visto já ressuscitado” (Mc 16.14).

          Por outro lado, Jesus Cristo foi injuriado pelos seus algozes e, também, pelos ladrões na cruz, que o ironizavam: “Desça agora da cruz o Cristo, o rei de Israel, para que vejamos e creiamos. Também os que com ele foram crucificados o insultavam (o)neidi/zw) (Mc 15.32).[1]

          Nas Bem-aventuranças, lemos: “por minha causa”. Em Lucas, temos o registro mais completo: “Bem-aventurados sois quando os homens vos odiarem e quando vos expulsarem da sua companhia, vos injuriarem (o)neidi/zw) e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho do Homem” (Lc 6.22).

          Pedro, que ouviu essa bem-aventurança, mais tarde repete às igrejas perseguidas estimulando-as a perseverarem firmes: “Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados (o)neidi/zw), bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus” (1Pe 4.14).

          A situação não é diferente hoje. Podemos não ser levados ao Coliseu para enfrentar leões, ou cães famintos, ou mesmo untados com piche para iluminar os jardins de Nero,[2] contudo, nos deparamos com uma batalha ideológica, que envolve algum tipo de segregação, ironia e desprezo. Todas às vezes que a nossa conduta, como resultado de nossa fidelidade a Cristo, se confrontar com os valores do mundo, teremos algum tipo de sanção. O tipo de perseguição aqui não é o mais relevante, mas, sim, os seus motivos.

          Para nossa surpresa isso poderá ser promovido até mesmo pelos chamados irmãos que aparentemente partilham de nossa mesma fé, contudo, têm outros interesses maiores, como dinheiro, poder e fama. As cordas da vaidade dedilhadas com maestria por satanás são capazes de ressoar de forma melodiosa, invadindo e contaminando todas as áreas de nossos valores gerando uma avalanche de comportamentos conflitantes, mas, que aparentemente propiciam a nossa sobrevivência onde julgamos por direito permanecer e ascender.[3]

          Notemos que ao longo da história podemos ver que muito dos sofrimentos dos servos de Deus não foi promovido por homens irreligiosos, antes, por pessoas que deveriam estar comprometidas com os mesmos ideais daqueles a quem perseguiram. O próprio Senhor Jesus foi dura e intensamente perseguido pelos religiosos de seu tempo: sacerdotes, fariseus e saduceus. Estevão foi apedrejado não por homens que descriam do Antigo Testamento. As perseguições perpetradas contra a Igreja no Livro de Atos eram, via de regra, promovidas por religiosos judeus.

          Sob o manto sagrado da religião não é raro os homens abrigarem os seus ódios, ressentimentos, invejas, frustrações e desejos perniciosos de perseguição e destruição.

2) Mentir

E “… mentindo (yeu/domai), disserem todo mal (ponhro/j) contra vós” (Mt 5.11). As injúrias lançadas contra os cristãos são frutos da mentira. O sentido da palavra é o de enganar com mentiras. Ainda que uma das estratégias de satanás seja mesclar a mentira com alguma verdade, a mentira é oposta à verdade.

          A Escritura nos instrui quanto à verdade. Tiago discorrendo sobre a sabedoria divina em contraste com a sabedoria deste mundo, diz que ela é verdadeira e fraterna: “Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais (yeu/domai) contra a verdade” (Tg 3.14).

          Deus não mente (Hb 6.18).[4] Ele não pode mentir, visto que seria contrário à sua própria natureza: “Na esperança da vida eterna que o Deus que não pode mentir (a)yeudh/j)[5] prometeu antes dos tempos eternos” (Tt 1.2).

          Ananias e Safira mentiram a Deus e, por isso, foram condenados. Notemos que a mentira do casal se escondia sob o manto de aparente piedade e generosidade. Parte do lucro do casal não precisava ser doada à igreja, no entanto, ambos desejam fazer uma oferta, contudo, querem fazê-lo dando a impressão de que estão entregando tudo. Ninguém requereu isso. Todavia, o desejo por aparentar um espírito nobre e abnegado, os fez tentar enganar a Deus:

3Então, disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses (yeu/domai) ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo? 4Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder? Como, pois, assentaste no coração este desígnio? Não mentiste (yeu/domai) aos homens, mas a Deus. (At 5.3-4).

          A mentira é própria de nossa velha natureza a de que nos despimos. Por isso, como novas criaturas, não devemos mentir ao nosso próximo: “Não mintais (yeu/domai) uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos” (Cl 3.9). Desta forma, o nosso comportamento deve ser verdadeiro, consoante com a nossa nova identidade, a nossa comunhão com Deus, conforme instrui João: 5 Ora, a mensagem que, da parte dele, temos ouvido e vos anunciamos é esta: que Deus é luz, e não há nele treva nenhuma. 6 Se dissermos que mantemos comunhão com ele e andarmos nas trevas, mentimos (yeu/domai) e não praticamos a verdade” (1Jo 1.5-6).

          Por isso a preocupação constante de Paulo em declarar que o seu testemunho não era mentiroso. Ele foi verdadeiramente chamado por Deus: “Para isto fui designado pregador e apóstolo (afirmo a verdade, não minto (yeu/domai), mestre dos gentios na fé e na verdade” (1Tm 2.7). O seu ensino é verdadeiro: “Digo a verdade em Cristo, não minto (yeu/domai), testemunhando comigo, no Espírito Santo, a minha própria consciência” (Rm 9.1). Quanto a estas reivindicações, invoca a Deus por testemunha: “O Deus e Pai do Senhor Jesus, que é eternamente bendito, sabe que não minto (yeu/domai) (2Co 11.31).[6]

Maringá, 08 de janeiro de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]“E os mesmos impropérios (o)neidi/zw) lhe diziam também os ladrões que haviam sido crucificados com ele” (Mt 27.44).

[2] Vejam-se um resumo dos tipos de perseguições praticadas no primeiro século contra os cristãos in: John MacArthur Jr., O Caminho da Felicidade, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 174-175; William Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, Buenos Aires: La Aurora, 1973, v. 1, (Mt 5.10-12), p. 120-125.

[3] Depois de redigir este parágrafo li em Lloyd-Jones percepção semelhante a respeito da perseguição praticada pelos religiosos, protestantes nominais (Veja-se: David M. Lloyd-Jones, Estudos no Sermão do Monte, São Paulo: Editora Fiel, 1984, p. 125).

[4]“… mediante duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta (yeu/domai), forte alento tenhamos nós que já corremos para o refúgio, a fim de lançar mão da esperança proposta” (Hb 6.18).

[5] Esta palavra só ocorre aqui em todo o Novo Testamento.

[6]“Ora, acerca do que vos escrevo, eis que diante de Deus testifico que não minto (yeu/domai) (Gl 1.20).

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