A Pessoa e Obra do Espírito Santo (354)
6.4.8.4. O Que a unidade é
Os que arrastam a Igreja após si, e não a Cristo, se fazem culpados de vilmente violar o matrimônio que deveriam ter honrado. E, quanto maior é honra que Cristo nos confere, fazendo-nos guardiãs de sua esposa, tão mais hedionda será nossa falta de fidelidade, se não nos esforçarmos em manter e defender seu direito. – João Calvino.[1]
Como elemento inescapável de qualquer definição, temos de forma explícita ou não, o seu contraponto, que num primeiro momento pode até nos ajudar no processo delimitativo do tema justamente por nos propiciar um enfoque menos abrangente, portanto, mais específico. A definição negativa, por vezes é o que nos resta quando não conseguimos enxergar com clareza o objeto. Em outras ocasiões, ela pode também ser relevante por apresentar com maior visibilidade aspectos excluídos na definição.
6.4.8.4.1. Produzida pelo Espírito
Paulo instruindo aos Efésios sobre a unidade cristã, apresenta a sua origem e poder. A unidade é promovida pelo Espírito: “Esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef 4.3).
Todo o esforço descrito é relacionado no texto a preservar a unidade do Espírito. A palavra “unidade” (E(no/thj) ocorre apenas duas vezes no Novo Testamento, ambas em Efésios (Ef 4.3,13).[2] A palavra aqui “expressa a unidade da igreja na maturidade, que se baseia na unidade divina”, interpreta Bartels.[3]
Paulo acrescenta: “Do Espírito”. O genitivo indica que a unidade procede da obra do Espírito. Ela é estabelecida pelo Espírito.
Perguntamos então: Seria esta unidade artificial? Por que o Espírito promove esta unidade?
A unidade não exclui a variedade do Corpo de Cristo que é a Igreja. Em Cristo fomos reconciliados com Deus e com o nosso próximo e conosco mesmos. A cura divina passa necessariamente pela compreensão de quem somos à luz Palavra: pecadores que pela graça foram regenerados.
As Escrituras nos apresentam uma dimensão clara de nossa natureza e situação. As Escrituras demonstram a desintegração efetuada pelo nosso pecado e, ao mesmo tempo, oferece-nos a reconciliação com Deus por meio de Cristo, para onde tudo converge de forma santificada e integralizada. Em Cristo reencontramos o sentido da inteireza de nossa vida em si mesma e em suas relações nas várias dimensões de nossa existência
Em Cristo as barreiras geográficas, culturais, raciais, sociais e de gênero foram quebradas. No entanto, somos pessoas distintas com características diferentes e, assim mesmo, unidas em Cristo: esta é a glória da Igreja. O que seria inimaginável de se obter, até mesmo externamente, foi realizado pelo Espírito que procede do Pai e do Filho.[4]
Beeke interpreta corretamente: “A unidade não é algo a ser criado pelos cristãos, mas algo a ter a custódia da igreja de todos os tempos por meio da obra do Espírito”.[5]
Devemos preliminarmente realçar, que há um só Espírito; o Espírito Santo de Deus no qual todos os crentes em Cristo foram batizados (Ef 4.3-4/1Co 12.11,13): “Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação” (Ef 4.4).
Paulo, falando dos dons espirituais, sumaria:
Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente. (…) Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito (1Co 12.11,13).
Maringá, 29 de novembro de 2021.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1]João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 3.29), p. 144.
[2] “Esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade (E(no/thj) do Espírito no vínculo da paz” (Ef 4.3). “Até que todos cheguemos à unidade (E(no/thj) da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.13).
[3] K. H. Bartels, Um: In: Colin Brown, ed. ger., Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 4, p. 669.
[4] “A diversidade não destrói a unidade, e a unidade não elimina a diversidade. Esta é a especial glória da graça redentora; este é o milagre da redenção. Este é o fenômeno peculiar que a Igreja Cristã deve manifestar e demonstrar ao mundo, e que nenhuma outra coisa o pode fazer” (D. Martyn Lloyd-Jones, A Unidade Cristã, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1994, p. 128).
[5]Joel Beeke, Coisas Gloriosas são ditas sobre Ti. In: John MacArthur, et. al. Avante, Soldados de Cristo: uma reafirmação bíblica da Igreja, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 37.