A Pessoa e Obra do Espírito Santo (314)
A agradável vontade de Deus
A vontade de Deus é boa, mas, num plano imediato, ela nem sempre nos parece agradável. A rigor, ela nunca nos parecerá agradável enquanto não submetermos os nossos desejos ao desejo de Deus, a nossa mente à mente de Deus, a nossa vontade à vontade de Deus.
Precisamos aprender a pensar, a sentir e a desejar biblicamente; educar a nossa mente, emoções e vontade à luz da Palavra. Somente assim poderemos nos agradar no agrado de Deus; nos aprazer no caminho de Deus. Portanto, a questão é: agradável a quem?
A palavra usada por Paulo (Eu)a/restoj) [1] prescreve sempre o sentido de agradável a Deus; quer direta, quer indiretamente – por estarmos obedecendo aos seus preceitos.
A vontade de Deus não tem o propósito de nos agradar num plano puramente superficial, antes ela nos agrada quando a conseguimos entender pelo Espírito de Deus ou, numa primeira instância, quando, pelo Espírito, podemos nos alegrar na esperança que emana de Deus (Rm 12.12).
Por outro lado, quando nos submetemos a Deus, encontramos a alegria de obedecê-lo, descobrindo a agradabilidade da vontade de Deus na submissão a ela, no seu exercício. Deste modo, temos o testemunho de alguns servos de Deus, entre os quais destacamos três: Davi pôde escrever: “Agrada-me (#pex’)(thaphets) fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro em meu coração está a tua lei”(Sl 40.8). (Tratei mais amplamente sobre o prazer da Palavra quando estudamos “A excelência da Palavra do Espírito”).
O prazer da meditação e da obediência
O salmista descreve a sua experiência; como a sua familiaridade prazerosa com a Palavra de Deus o preservou num momento de grande angústia: “Não fosse a tua lei ter sido o meu prazer (#pex’)(thapets), há muito já teria eu perecido na minha angústia” (Sl 119.92).
Na angústia, muitos dos mitos de nosso pensamento e de nossa imaginação desaparecem. Percebemos então, para nossa tristeza, que muito do que críamos e propalávamos nada tem a dizer de relevante e significativo naquelas circunstâncias; eram pensamentos vãos, vazios de conteúdo e, por isso mesmo, irrelevantes. Descobrimos, então, a grandeza e praticidade da Palavra; no seu conselho encontramos a disciplina educativa de Deus, as suas promessas passam a fazer sentido para nós; é como se um novo mundo se descortinasse à nossa frente. Pela Palavra não perecemos na angústia, antes, saímos fortalecidos em nossa fé, mais confiantes no Deus da Palavra e em Suas promessas.
O prazer na Palavra faz com que direcionemos nossos pensamentos e corações para ela. Ao invés de alimentarmos mágoas, ressentimentos e desejos de vingança, buscamos na Palavra, que é o nosso prazer, o suprimento para as nossas necessidades e a orientação em nossas decisões.
Quando descobrimos o prazer na Palavra de Deus, passamos mais tempo a lendo e refletindo sobre os seus ensinamentos. Daí o salmista dizer, como vimos, que os testemunhos de Deus “são os meus conselheiros (hc'[e)(‘etsãh)” (Sl 119.24).
Enquanto o homem sem discernimento busca conselho nos ímpios, culminando por assentar-se na companhia dos escarnecedores (Sl 1.1) – possivelmente para convalidar seus interesses e inclinações –, o homem bem-aventurado busca conselho nos mandamentos de Deus (Sl 119.24).
Os conselhos de Deus têm sentido para o tempo, em todas as circunstâncias próprias de nossa finitude, e para nos conduzir em segurança à eternidade, quando o Espírito será tudo em todos: “Tu me guias com o teu conselho (hc'[e) (‘etsãh) e depois me recebes na glória” (Sl 73.24). A Palavra de Deus é um “guia seguro para o céu”!
A vontade de Deus sempre será agradável àqueles que desejarem viver em comunhão com Ele. Portanto, quando oramos para que Deus concretize o seu propósito, estamos dizendo: Senhor, faze a Tua vontade, pois sei que à medida que eu me consagrar a Ti, mais prazer terei na Tua Palavra, mais agradável ela será a mim, como é para Ti.
Maringá, 11 de outubro de 2021.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1] *Rm 12.1,2; 14.18; 2 Co 5.9; Ef 5.10; Fp 4.18; Cl 3.20; Tt 2.9; Hb 13.21. O verbo Eu)areste/w ocorre apenas três vezes indicando especificamente agradar a Deus (* Hb 11.5.6; 13.16). Na LXX este verbo é usado basicamente com o sentido de “andar com Deus” ou na presença de Deus (Veja-se: Gn 5.22,24; 6.9; 17.1; 24.40; 48.15; Sl 26.3). O advérbio eu)are/stwj ocorre uma única vez, com o mesmo sentido de servir a Deus de modo agradável (Hb 12.28).