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A Pessoa e Obra do Espírito Santo (280) - Hermisten Maia

A Pessoa e Obra do Espírito Santo (280)

          6.4.7.2.        É o Senhor mesmo quem cuida de seus servos (Continuação)

Somente o Senhor pode nos confirmar em nosso trabalho e ofício. É Ele quem dirige e preserva a Igreja. A igreja deve orar por seus presbíteros, agradecendo e intercedendo.  Foi Deus mesmo quem os vocacionou para esse ofício específico.[1]

Os presbíteros devem orar pela igreja, reconhecendo a sua total incapacidade em conduzir o povo de Deus sem a bênção do Senhor. Orar é expressar a convicção de nossa total incapacidade e, ao mesmo tempo, total confiança no Senhor. Portanto, os presbíteros devem buscar instrução, discernimento e amparo no Senhor, à quem foram confiados.

          Calvino comentando o texto, fala dos motivos da oração por parte de igreja:

O primeiro era que Deus os dirigisse com o Espírito de sabedoria e discrição a fim de que todos escolhessem os homens melhores e mais aptos. Pois bem sabiam que não eram dotados com tão grande sabedoria, que fossem isentos de engano, nem pusessem demasiada confiança em sua diligência pessoal, que não soubessem que a ênfase primordial é posta na bênção divina. Assim vemos diariamente que os critérios dos homens erram onde não se manifesta nenhuma diretriz celestial, e que em todos os labores nada resulta se a mão divina não estiver com eles. Estes são os genuínos auspícios dos santos: invocar o Espírito de Deus para que presida seus conselhos. E se esta é a regra a observar-se em todas as nossas atividades, então, no que diz respeito ao governo da Igreja, o qual depende inteiramente de sua vontade, devemos tomar todo cuidado para nada tentarmos senão tendo-o por Líder e Presidente.
Ora, seu segundo propósito em orar era para que Deus dotasse com os necessários dons àqueles que eram eleitos pastores. Pois o cumprimento deste ofício, tão fielmente quanto se deve, é uma atividade mais árdua do que a força humana é capaz de suportar. Portanto, imploram o auxílio divino também nesta conexão, com Paulo e Barnabé assumindo a liderança.[2]

Em outro lugar, acrescenta:

Como compreendessem estarem a fazer cousa de todas a mais séria, nada ousavam tentar senão com suma reverência e solicitude. Mais do que tudo, porém, aplicaram-se às preces, nas quais a Deus pedissem o Espírito de conselho e discernimento.[3]

          Aqui está um grande conforto para a igreja e, em especial para os presbíteros e líderes em geral. Permaneçamos no âmbito de nossa vocação.

A nossa esfera é anunciar a Palavra, alimentar e cuidar do rebanho. No entanto, não temos autoridade para ultrapassar a Palavra, nem dispomos de poderes para converter ninguém. Não queiramos ir além do que nos foi proposto e confiado. Somos pregadores e testemunhas.

O sobrenatural desta missão pertence a Deus que revela já de início o seu misericordioso poder ao transformar pecadores em pregadores. Sem esta compreensão, corremos o sério risco de nos esgotarmos terrivelmente em nossas ansiedades criadas pela falta do entendimento adequado do Evangelho de Deus, do que somos e de nossa missão.[4]

A Grande Comissão não falhará; ela está totalmente sob a autoridade e poder do Deus Triúno.[5]

          Um dos graves problemas com os quais nos deparamos em todas as esferas em nosso país, ainda que não exclusivamente, é a falta de autoridade moral.[6] Quando ativa ou passivamente, o desleixo, a corrupção e os abusos são cometidos em todas as esferas, num primeiro momento podemos ter uma justa indignação. Com o passar do tempo e o agravamento da situação, esta indignação inicial tende a assumir a postura de revolta individual e coletiva ou, ainda que não necessariamente de modo excludente, a ironia e o deboche, terminando, não raramente, em indiferença. Neste processo, quer de forma coletiva e pública, quer mais sutilmente, de modo velado, o desrespeito às autoridades constituídas se torna comum.

          Na questão eclesiástica local, pelo fato de o líder estar muito próximo de seus irmãos, onde a sua vulnerabilidade se torna mais evidente, podemos perder a dimensão da nobreza e responsabilidade de seu ofício, nos tornando críticos e levianos, pouco ou em nada nos lembrando de orar por eles.

Paulo promoveu a eleição de presbíteros em cada igreja. A igreja deveria votar com apurado senso de reverência, confiando estes homens ao Senhor, conscientes de sua responsabilidade na condução da igreja. A vocação para um ofício eclesiástico não significa a deificação de alguém, antes a graça do chamado na vida de um pecador que, como os demais irmãos, está em busca de uma maior obediência a Deus.

Maringá. 30 de setembro de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Cf. Cornelis Van Dam,  O Presbítero, São Paulo: Cultura Cristã, 2019, p. 18.

[2]John Calvin, Commentary upon the Acts of the Apostles,Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, (Calvin’s Commentaries), 1996 (Reprinted), v. 19, (At 14.23), p. 28.

[3]J. Calvino, As Institutas, IV.3.12.

[4]“As pessoas ansiosas são cativadas por toda e qualquer forma de certezas que se lhe ofereçam, não importando quão irracionais sejam elas. Tais pessoas tornam-se vulneráveis a influências estranhas, e fazem coisas tolas” (J.I. Packer, O Plano de Deus para Você, 2. ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2005, p. 102).

[5] Veja-se: Michael Horton, A Grande Comissão, São Paulo: Cultura Cristã, 2014, p. 27-39.

[6]“O problema básico do mundo de hoje é problema de autoridade. O caos no mundo se deve ao fato de que, em todas as áreas da vida, as pessoas perderam todo o respeito pela autoridade, quer entre as nações ou entre regiões, quer na indústria, quer em casa, quer nas escolas, ou em toda e qualquer parte. A perda da autoridade! E, em minha opinião, tudo começa realmente no lar e na relação matrimonial” (D.M. Lloyd-Jones, Vida No Espírito: No Casamento, no Lar e no Trabalho,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991, p. 87).

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