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A Pessoa e Obra do Espírito Santo (261) - Hermisten Maia

A Pessoa e Obra do Espírito Santo (261)

6.4.4. O Espírito e a igreja

                   Quando pensamos em igreja instituída, em geral somos levados a espiritualizá-la, como uma entidade ideal fora da história em uma dimensão diferente ou, materializá-la, transformando-a em uma empresa onde só importam as questões numéricas e quantitativas. Desse modo, a equação é bastante simples: quanto maior a igreja, melhor.

          As duas perspectivas adotadas isoladamente, estão equivocadas. A Igreja não é apenas um corpo espiritual.  Os seus membros se reúnem em um espaço concreto e em tempos determinados. Ela também mantém relações sociais, legais e econômicas. Por isso, paga seus impostos, obedece às leis próprias de urbanização, silêncio, estacionamento, etc. Ela também tem seus direitos legais de reunião, pregação e proteção. (Voltaremos a tratar deste assunto).

          Da mesma forma, a concepção de igreja apenas como edifício onde os fiéis se reúnem, sufoca a sua realidade como corpo místico de Cristo que se relaciona pessoalmente com Deus prestando-lhe culto o qual não pode ser tangenciado e mensurado  por critérios puramente humanos.

Como temos demonstrado, a Reforma enfatizou a igreja como comunidade dos santos, não simplesmente como um edifício. A Igreja passou a ser identificada pela fiel exposição da Palavra e ministração correta dos Sacramentos.[1]

Definição de Igreja

          Podemos definir a Igreja como sendo a comunidade de pecadores regenerados, que pelo dom da fé, concedido pelo Espírito Santo, foram justificados, respondendo positivamente ao chamado divino, o qual fora decretado na eternidade e efetuado no tempo, e agora vivem em santificação, proclamando, quer com sua vida, quer com suas palavras, o Evangelho da graça de Deus, até que Cristo venha.

Identidade do Espírito com a igreja

          O Espírito está tão essencialmente ligado à igreja que, na linguagem de Pedro, mentir à igreja é o mesmo que mentir ao Espírito (At 5.3,9).[2] A Igreja é a comunidade do Espírito formada e preservada por Ele.

Ao longo da história, “Deus tem preservado sua Igreja de uma maneira comum ou ordinária, porém com terrível majestade”, interpreta Calvino.[3]

          Dentro de outra perspectiva, declara Bavinck (1854-1921): “Assim como Cristo em Sua concepção assumiu a natureza humana e nunca colocou-a de lado, assim também o Espírito Santo no dia de Pentecostes passou a usar a Igreja como Sua morada e como Seu santuário e nunca se separará dela”.[4] A Igreja de fato é de Deus. Vejamos alguns pontos concernentes a este fato.

O Espírito e a nossa confissão

          Sabemos biblicamente que sem o Espírito não haveria Igreja. Isso, porque não haveria crente em Cristo. A Igreja é composta por pessoas que confessam o Senhorio de Cristo. Esta confissão só é possível pela ação poderosa do Espírito (Cf. 1Co 12.3/Rm 10.9-10).[5] A igreja é o reflexo dos atos concretos, poderosos e contínuos da Trindade em sua misericórdia para conosco.

A relação entre Cristo e a igreja transcende qualquer analogia humana. As analogias são feitas para expressar aspectos, ainda que limitados, dessa realidade inexaurível em termos compreensíveis a nós em nossa limitação.

          A Igreja é a comunidade daqueles que foram chamados do mundo para Deus pela operação do Espírito; daqueles “que tem a mesma fonte genética, o sangue de Cristo, o novo nascimento”, resume Ribeiro (1919-2003).[6]

O Espírito da Palavra e fé

          A igreja é uma comunidade de crentes; daqueles que creem salvadoramente em Cristo. A Palavra foi registrada e preservada por meio do Espírito (2Tm 3.16; 2Pe 1.20-21). É por meio desta Palavra que o Espírito nos chama e nos capacita a responder com fé à mensagem do Evangelho, integrando-nos, assim, ao Corpo de Cristo. (Rm 10.17; Ef 1.12-13; Fp 1.29; 2Ts 2.13).

O Espírito e a regeneração

A Igreja é uma comunidade de pecadores regenerados. A regeneração é efetuada pelo Espírito (Cf. Jo 3.3,5; Tt 3.5/Tg 1.18,21; 1Pe 1.23).[7] Logo, sem a ação regeneradora do Espírito, não existiriam cristãos nem Igreja.

          O Espírito é a alma da Igreja, quem lhe dá ânimo e vitalidade. É o Espírito quem dirige os homens à porta de salvação que é Cristo (Jo 10.9).[8]  Conforme vimos acima, durante toda a história o Espírito tem operado poderosamente constituindo a igreja de Deus, “o corpo místico” de Cristo.

          Ribeiro (1919-2003) acentua a especificidade e especialidade da Igreja:

A Igreja resulta de uma ação especial, não “rotineira”, de Deus entre os homens. O que organiza a Igreja, o que faz dos indivíduos de outra forma dispersos uma comunidade é a presença permanente de uma pessoa certa e determinada, o Santo Espírito Divino.[9]

Maringá, 11 de agosto de 2021.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Veja-se: John H. Leith, A Tradição Reformada: Uma maneira de ser a comunidade cristã, São Paulo: Pendão Real, 1997, p. 330ss.

[2]“…. certo homem, chamado Ananias, com sua mulher Safira, vendeu uma propriedade, mas, em acordo com sua mulher, reteve parte do preço e, levando o restante, depositou-o aos pés dos apóstolos. Então, disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo?” (At 5.1-3). Tornou-lhe Pedro: Por que entrastes em acordo para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e eles também te levarão” (At 5.9).

[3] João Calvino, O Livro dos Salmos,São Paulo: Parakletos, 1999, v. 2, (Sl 65.5), p. 614.

[4]Herman Bavinck, Our Reasonable Faith,4. ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1984, p. 386.

[5]Por isso, vos faço compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: Anátema, Jesus! Por outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo(1Co 12.3). Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação(Rm 10.9-10).

[6]Boanerges Ribeiro, O Senhor que Se Fez Servo,São Paulo: O Semeador, 1989, p. 46.  A Confissão de Westminster declara: “Todos aqueles que Deus predestinou para a vida, e só esses, é ele servido, no tempo por ele determinado e aceito, chamar eficazmente pela sua palavra e pelo seu Espírito, tirando-os por Jesus Cristo daquele estado de pecado e morte em que estão por natureza, e transpondo-os para a graça e salvação” (X.1).

[6]Boanerges Ribeiro, O Senhor que Se Fez Servo,São Paulo: O Semeador, 1989, p. 46.

[7]3 A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (…) 5 Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus(Jo 3.3,5). “Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo(Tt 3.5).

[8] Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará, e sairá, e achará pastagem(Jo 10.9).

[9]Boanerges Ribeiro, O Senhor que Se Fez Servo,São Paulo: O Semeador, 1989, p. 36.

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